BCE revê PIB em baixa. Promete continuar a comprar dívida após subir juros

O presidente da instituição, Mario Draghi, apresentou os primeiros pormenores da próxima fase da política monetária europeia esta quinta-feira, após o Conselho de Governadores.

O Banco Central Europeu (BCE) irá manter os estímulos à Zona Euro através de uma política de reinvestimentos dos juros recebidos pela dívida que detém e do montante dos títulos que atingem as maturidades. Esta estratégia irá manter-se até depois da primeira subida das taxas de juros de referência, que estão atualmente em mínimos históricos, segundo anunciou Mario Draghi esta quinta-feira.

“As compras líquidas no âmbito do programa de compra de ativos (APP) irão terminar em dezembro de 2018. Simultaneamente, estamos a reforçar a nossa forward guidance sobre reinvestimentos. Assim, pretendemos continuar a reinvestir, por completo, os principais pagamentos de ativos, adquiridos no APP, que atinjam as maturidades, por um longo período de tempo, depois da data em que começarmos a subir a taxa de juro de referência do BCE e, em qualquer caso, enquanto for necessário manter condições de liquidez favoráveis e um amplo nível de acomodação monetária”, afirmou Draghi.

Na última reunião do BCE este ano, Mario Draghi deu os primeiros pormenores sobre o curso da política monetária da Zona Euro, em 2019. O banco central vai comprar dívida a um ritmo mensal de 15 mil milhões de euros apenas até ao final do mês.

No início do próximo ano, começará a uma nova fase. Explicou que as taxas de juro diretoras vão continuar nos níveis atuais, pelo menos, até durante o verão de 2019: a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento em 0%, a taxa de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez em 0,25% e a taxa de juro à facilidade permanente de depósito em -0,40%.

Assim, o reinvestimento dos montantes dos títulos que atingem o prazo (que em 2019 será 212 mil milhões de euros) irão acontecer, pelo menos, até depois dessa data. “A política monetária continua muito acomodatícia”, garantiu Draghi.

Além da subida dos juros de referência e dos reinvestimentos, os mercados têm apontado para a possibilidade de o BCE lançar uma nova ronda de empréstimos de longo-prazo aos bancos (LTRO). Questionado sobre essa hipótese, Draghi respondeu que “foi debatido [pelos membros do Conselho de Governadores], mas não em pormenor”. Outros instrumentos não entraram no debate dos governadores, segundo o presidente do BCE.

Aumento dos riscos levam a revisão do PIB

O programa de Quantitative Easing (QE) — iniciado em março de 2015 — levou a um aumento da folha de balanço do BCE em 2,6 biliões de euros, mas Draghi está confiante nos efeitos. “O QE foi o único condutor desta recuperação [económica, após a crise] porque não houve quaisquer estímulos orçamentais”, defendeu.

Sobre o impacto negativo das políticas monetárias (nomeadamente as baixas taxas de juro) na banca, o italiano prefere olhar para o lado positivo. “Estamos a acompanhar o impacto na rentabilidade da banca e quão extenso é. Claro que há efeitos negativos, mas são suplantados pelos benefícios”, afirmou.

Apesar do otimismo sobre a recuperação da economia, a desaceleração está ao virar da esquina e o BCE está mais pessimista sobre o ritmo a que irá chegar. Draghi reviu em baixa as projeções de crescimento em 0,1 pontos percentuais para 1,9%, este ano, e 1,7%, no próximo. Para 2020, o BCE manteve a estimativa de expansão económica de 1,7% e apresentou pela primeira vez uma projeção de crescimento de 1,5%, em 2021.

O QE foi o único condutor desta recuperação [económica, após a crise] porque não houve quaisquer estímulos orçamentais.

Mario Draghi

Presidente do BCE

Os riscos para a economia europeia mantêm-se “amplamente equilibrados”, mas Draghi apontou para incertezas relacionadas com fatores geopolíticos, a ameaça do protecionismo e vulnerabilidades tanto nos mercados emergentes como nos mercados financeiros.

Em sentido contrário, reviu em ligeira alta as projeções para a inflação este ano. O BCE antecipa uma subida dos preços de 1,8% em 2018 (mais 0,1 pontos percentuais que as anteriores projeções), 1,6% em 2019 (menos 0,1 pontos percentuais que as anteriores projeções) e 1,8% no ano seguinte.

Questionado sobre o timing da diminuição dos estímulos e se poderia confrontar-se com uma nova crise, Mario Draghi desvalorizou a questão. “Estamos sempre preocupados, mas temos instrumentos para enfrentar uma possível contingência“, disse, sublinhando que “o QE [que nunca tinha sido utilizado antes na Zona Euro] entrou de forma permanente no conjunto de instrumentos que o BCE tem à disposição e que com potencial de ser usado”.

(Notícia atualizada às 14h40)

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