Libra afunda após Boris Johnson confirmar pedido de suspensão do Parlamento

O Governo britânico pediu à Rainha Isabel II que suspenda o Parlamento. Suspensão poderá evitar que a oposição consiga travar a saída sem acordo da União Europeia.

O cenário de hard Brexit é cada vez mais provável e a moeda do Reino Unido afunda. Poucos dias antes do regresso dos deputados ao trabalho, o Governo britânico prepara-se para pedir à Rainha Isabel II que suspenda o Parlamento, o que poderá facilitar a intenção do primeiro-ministro Boris Johnson de avançar com uma saída da União Europeia (UE) sem acordo.

A notícia avançada pela BBC (acesso livre, conteúdo em inglês), já foi confirmada pelo primeiro-ministro britânico. Se a rainha aceitar a suspensão, os trabalhos só serão retomados a 14 de outubro, o que deverá bloquear contra qualquer iniciativa da oposição de impedir um hard Brexit.

Johnson negou que o pedido de suspensão tenha como motivação impedir que seja delineado um acordo de saída e garantiu que há “amplamente tempo” para o fazer. O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, discorda e já disse que “esta decisão representa um ultraje constitucional”, enquanto o antigo ministro das Finanças Philip Hammond (que se demitiu com a chegada de Boris) acrescentou que é “profundamente anti-democrático”.

Os mercados parecem dar razão aos críticos da situação. “Esta será uma manobra com o objetivo de impedir a interferência do Parlamento nos seus planos de sair abruptamente da União Europeia a 31 de outubro“, disse Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, em Londres, sobre as “perdas substanciais” da moeda.

A libra esterlina, que havia valorizado nas últimas sessões graças às perspetivas que os deputados conseguissem travar a saída sem acordo, aprofundou as perdas com que abriu a sessão. A divisa deprecia-se 0,5% contra a par norte-americana, para 1,222 dólares, e 0,7% contra a moeda única, para 1,10 euros.

Libra quebrou recuperação dos últimos dias

Fonte: Reuters

Apostas contra a libra ainda têm espaço para crescer

Os analistas do ING já antecipam que o par libra/dólar norte-americano quebre a barreira dos 1,20 nos próximos dois meses “com o aumento do risco de um Brexit sem acordo”, bem como a “ameaça de eleições antecipadas”. Sublinham que apesar de as posições curtas especulativas serem significativas, ainda estão abaixo dos máximos de 2017. “Isto significa que, à medida que que a probabilidade de um Brexit sem acordo aumenta, o short-selling ainda poderá aumentar mais“, acrescentou o banco.

Em sentido contrário à queda da libra, a bolsa britânica segue em alta. O FTSE 100 sobe 0,35% para 7.111,45 pontos. “A maioria das cotadas do principal índice, FTSE100, são empresas internacionais, logo a queda da libra representa um acréscimo no valor dos dólares e euros que estas empresas faturam na sua atividade no estrangeiro, o que leva a um aumento no valor dos títulos“, explicou Evangelista.

Os juros da dívida britânica a dez anos estão a ser vistos como refúgio, negociando esta quarta-feira em queda, próximos de 0,456%. “O risco para a economia britânica já não é apenas relacionado com o Brexit, estando em causa a estabilidade política do país e a credibilidade das instituições”, sublinhou.

Ações ganham com queda da libra, mas pode não durar

“No contexto dos mercados, isto significa que o risco de perdas para a libra, a médio e longo prazo, é mais alto. Embora a correlação invertida entre as perdas da libra e os ganhos no FTSE100 seja, neste momento, visível, se o ambiente político se deteriorar, levando a uma crescente instabilidade social, será também de esperar uma queda sustentada no médio e longo prazo do FTSE“, acrescentou o analista sénior da ActivTrades.

As negociações nos mercados britânicos ficarão dependentes dos desenvolvimentos do processo de saída. O Parlamento britânico será suspenso a meio de setembro, pouco mais de um mês antes do prazo final para o Brexit, marcado para o dia 31 de outubro. Irá retomar apenas a 14 de outubro, com um discurso da Rainha Isabel II, sendo que Johnson afirmou que esta será “a oportunidade de os parlamentares expressarem as suas posições” sobre o “ambicioso programa legislativo” do Governo para depois do Brexit.

O pedido de suspensão da Câmara dos Comuns acontece depois de Boris Johnson ter rejeitado a ideia de mais de 100 deputados de convocar o Parlamento britânico durante as férias, devido à possível escassez de alimentos e outros bens no caso de um Brexit sem acordo.

O Sunday Times divulgou um estudo confidencial do Executivo sobre as consequências mais prováveis de uma saída do Reino Unido da UE sem acordo e que refere um período de escassez de combustível, alimentos e medicamentos e o caos nos portos britânicos. Vários economistas têm avançado tais cenários, mas os defensores do Brexit têm rejeitado as previsões, consideradas alarmistas.

Já o gabinete do primeiro-ministro considerou que o dossier publicado está “desatualizado”. Boris Johnson mantém a posição, definida logo na campanha eleitoral: o Reino Unido irá deixar a União Europeia a 31 de outubro, “com ou sem acordo”. O primeiro-ministro britânico defende ainda que deixar a UE não representa qualquer ameaça para o Reino Unido e que poderia ser mantida uma “fantástica relação comercial” com o bloco.

(Notícia atualizada às 11h15)

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