Amazónia. Governo brasileiro admite erros no combate às queimadas

  • ECO e Lusa
  • 30 Agosto 2019

O executivo brasileiro acusa a população de recorrer a "métodos antiquados" de limpeza de terrenos e refere que os 20 milhões doados pelos G7 são uma esmola, merecendo o país muito mais do que isso.

O governo brasileiro admitiu esta quinta-feira que “cometeu erros” no combate às queimadas na Amazónia, uma vez que a situação se repete “todos os anos” e o executivo não tomou as medidas necessárias para os prever. Ainda assim, considera que as verbas oferecidas pelo G7 para o combate às chamas são “uma esmola” e que o Brasil “vale muito mais”.

Cometemos erros, sim. Todos os anos, nós sabemos que agosto, setembro e outubro são meses de seca e de queimadas. É igual ao 7 de Setembro [feriado do Dia da Independência do Brasil], sabemos que existe todos os anos. Compete às entidades governamentais, em todos os níveis, travar o combate às ilegalidades cometidas neste momento“, reconheceu o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, citado pelo jornal O Globo.

Apesar de admitir a quota-parte de responsabilidade por parte do executivo, o vice-presidente do país atribuiu os incêndios que lavram na Amazónia aos “métodos antiquados” de limpeza de terrenos e aos “conceitos antigos de uso do solo” por parte da população. É aí tem de entrar a ação do Governo”, frisou Hamilton Mourão, segundo o Globo, citado pela agência Lusa.

O vice-presidente responsabiliza ainda três agentes pelas irregularidades cometidas dentro da área amazónica: “o madeireiro, o ‘grileiro’ [pessoa que falsifica documentos para ilegalmente tomar posse de terras devolutas ou de terceiros] e o garimpeiro [explorador de diamantes, de ouro ou platina”.

Nos últimos dias, o governo de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, tem tomado várias medidas para combater os incêndios de grande dimensão que atingem a região da Amazónia. Esta quinta-feira, o presidente proibiu a realização de queimadas no país durante 60 dias. O decreto publicado no Diário Oficial da União surge depois de ter sido aprovado, no dia 23 de agosto e face à pressão internacional, o emprego de militares das Forças Armadas (3.912 pessoas e 205 viaturas) numa operação de “Garantia da Lei e da Ordem”.

Bolsonaro: 20 milhões de dólares oferecidos pelo G7 são “esmola”

A crispação sentida entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente do Brasil, em torna da Amazónia não pára de crescer. Desta vez, numa transmissão em direto na sua página de Facebook, Jair Bolsonaro acusa Macron de oferecer uma esmola, referindo que o país “vale muito mais do que 20 milhões de dólares” e que o Brasil merecia uma ajuda maior.

Nas duras críticas à ajuda internacional, Bolsonaro acrescentou que os países da Europa estavam a “comprar” o país sul-americano a prestações”. “Eu já havia dito que alguns países europeus estavam a comprar o Brasil a prestações. Deram mais de mil milhões de dólares (mais de 900 milhões de euros) ao todo, no últimos 10 ou 12 anos. Agora, digam-me o que é que foi feito com esse dinheiro? Apontem um hectare que tenha sido replantado. Uma ação positiva. Não há nada. Grande parte foi para organizações não-governamentais (ONG) meterem ao bolso”, disse o governante, citado pela agência Lusa.

A demarcação das terras indígenas foi outro dos assuntos abordados pelo presidente durante o vídeo. Jair Bolsonaro admitiu que há aproximadamente “200 áreas indígenas prontas a ser demarcadas”, sendo que 14% do território brasileiro já se encontra demarcado, pelo que se se o executivo demarcasse todas as áreas solicitadas, esse valor passava para 20%. Segundo o presidente, esta medida teria consequências prejudiciais para a agricultura e pecuária do país que, nas palavras do presidente, ficaria inviabilizada. Nesse sentido o governante reafirmou que não irá demarcar mais terras indígenas durante o seu atual mandato presidencial. Já o ministro brasileiro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, admitiu que há denúncias de “demarcações fraudulentas” e, por isso, considera que as demarcações existentes devem ser revistas.

O número de incêndios do Brasil aumento83% este ano, face ao período homólogo de 2018, sendo a Amazónia a região mais afetada.

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