Livre e Joacine Katar Moreira em rota de colisão

Joacine Katar Moreira absteve-se na votação de uma resolução sobre a intervenção de Israel em Gaza e foi criticada pelo Livre. Após várias trocas de acusações, deputada diz que foi eleita sozinha.

Menos de um mês após tomar posse como a primeira deputada do Livre eleita para a Assembleia da República, a abstenção no voto de uma resolução que condenava a intervenção militar do Estado israelita na Faixa de Gaza gerou uma troca de acusações, entre a direção do Livre e Joacine Katar Moreira. A deputada foi criticada pelo partido pelo sentido de voto, e acabou a criticar Rui Tavares e a dizer que foi eleita sozinha.

Joacine Katar Moreira está a ter um início de mandato turbulento e tudo devido ao que inicialmente parecia ser uma falha de comunicação entre a deputada e a direção do partido. Na sexta-feira, o Parlamento votou uma moção apresentada pelo PCP que condena bombardeamentos do Exército israelita na Faixa de Gaza, exige o levantamento dos bloqueios (de movimento de pessoas e de produtos) e pede o fim dos colonatos israelitas nos territórios considerados palestinianos.

Nessa votação, Joacine Katar Moreira absteve-se, para espanto do partido, e a partir gerou-se uma troca de acusações, todas elas públicas. No sábado de manhã, o grupo de contacto do Livre (a direção do Partido) emitiu um comunicado onde criticava a abstenção da deputada e reafirmando a posição reiterada do partido pelo reconhecimento de um Estado palestiniano e contra as intervenções militares israelitas nos territórios.

A direção do partido sublinhou nesse mesmo comunicado que a posição do partido sempre foi clara e que por isso revelava “preocupação” com o sentido de voto da única deputada do partido no Parlamento.

Confrontada com este comunicado, Joacine Katar Moreira afirmou-se surpreendida e prometeu uma resposta para o final do dia. A deputada do Livre respondeu da mesma forma que o partido, através de um comunicado, onde começou por dizer que a abstenção não representava a sua posição sobre o assunto, que votou contra si mesma

 

“Assumo total responsabilidade pelo voto e devo dizer que, apesar de a abstenção não constituir tem um voto a favor ou um voto contra, ela não representou aquela que tem sido desde sempre a minha posição pública sobre esta temática. Votei contra a direção de mim mesma”, explicou.

A deputada assumiu responsabilidade, mas a justificação dada acabou por gerar ainda mais discórdia com a direção do partido. Segundo a deputada, a abstenção no voto “não se deveu a uma falta de consciência ou descaso desta grave situação, mas à dificuldade de comunicação” com a atual direção do Livre, do qual faz parte. “Foram três dias de contactos infrutíferos para saber dos posicionamentos da direção relativos ao sentido de voto das propostas que nos chegaram, onde esta constava”.

A justificação caiu mal na direção do partido, que optou por responder à deputada, novamente, através da comunicação social. Em declarações à Agência Lusa, Pedro Nunes Rodrigues, membro da direção do Livre, disse que o gabinete de Joacine Katar Moreira nunca pediu apoio sobre o sentido de voto desta moção sobre a Palestina e que, ao contrário do que disse a deputada, tanto Joacine Katar Moreira, como os seus assessores, foram avisados antes de a direção do Livre emitir o comunicado sobre o tema.

“A dificuldade de comunicação passa também por ela, para o gabinete dela uma vez que nunca se dirigiu aos restantes membros da direção a pedir uma ajuda naquele voto específico. Foi-nos enviado o guião de votações, como nos é enviado todas as semanas, mas na semana passada nós também não nos pronunciamos sobre todas as votações e no entanto não houve nenhuma situação destas de haver uma falha de comunicação”, disse.

Segundo este membro do Grupo de Contacto, como “não foi pedido nenhum acompanhamento específico” para o voto de condenação proposto pelo PCP sobre a “nova agressão israelita a Gaza”, o órgão executivo do partido não o deu, apesar de ter recebido “por três vezes o guião de votações”.

“Hoje de manhã, antes sequer de escrevermos o comunicado, informamos a deputada e o gabinete da deputada, os assessores da deputada, que iríamos emitir um comunicado, uma tomada de posição sobre a votação daquele voto de condenação. Cerca de 40 minutos depois publicamos o comunicado, ainda tivemos que o escrever, naquele período de tempo não recebemos também nenhum contacto por parte da Joacine sobre qual era o teor do comunicado ou quando é que o íamos publicar”, disse, contrariando assim a ideia de surpresa.

Em declarações à RTP3, o fundador do Livre, Rui Tavares, também questionou as justificações da deputada. Em relação ao voto, diz que a questão palestiniana é “muito cara ao património” do Livre. Sobre as justificações da deputada, disse que “não colhe o argumento”, lembrando que a direção do partido é colegial e tem 15 pessoas.

O assunto não morreu por aqui. Joacine Katar Moreira voltou a responder ao partido, e agora com um ataque mais direto e focado. Em declarações ao Observador, a deputada diz que se elegeu sozinha, e acusou a direção de a querer ensinar a ser política e de ter celebrado o facto de passar a receber subvenção do Estado, antes de celebrar a eleição de um deputado para o Parlamento pela primeira vez.

“Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direção quer ensinar-me a ser política”, disse a deputada ao Observador, que acrescentou que ao longo da campanha só teve apoio “de quem não era do partido”, revelando-se ainda incomodada por na noite eleitoral ter dado prioridade às celebrações da subvenção antes de saberem se tinham conseguido eleger um deputado.

O Livre realiza este domingo uma assembleia do partido, onde Joacine Katar Moreira garante que estará presente.

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