Genworth indemniza AXA, contabiliza prejuízos e anseia por dinheiro da China

  • ECO Seguros
  • 5 Agosto 2020

Depois de resolver disputa legal relacionada com ativos que a AXA lhe comprou em 2015, a Genworth teve mais de 440 milhões de prejuízo trimestral e agora anseia por dinheiro da China Oceanwide.

A Genworth Financial, entidade licenciada em Portugal como LPS através de filial britânica da companhia norte-americana, apresentou prejuízo superior a 440 milhões de dólares no segundo trimestre, refletindo o impacto de custos relacionados com os efeitos da pandemia, mas também por causa de indemnização acordada ao grupo AXA no quadro de um processo judicial que vem de 2017.

Ainda, para assegurar o seu futuro, a Genworth aceitou prolongar o prazo para que a China Oceanwide Holdings Group consiga a transferência de fundos referentes à fusão acordada entre as partes, também há três anos.

No reporte de resultados do segundo trimestre, a companhia que opera seguros hipotecários e outras linhas do ramo Vida e saúde apresentou perdas líquidas de 441 milhões de dólares, uma quebra superior a 360% face aos 168 milhões de lucro apurado em igual período de 2019. O resultado foi penalizado por custos relacionados com o impacto da pandemia, aumento do desemprego nos EUA e pela volatilidade nos mercados.

Já o resultado operacional ajustado saldou-se por perdas de 21 milhões de dólares (contra ganho de 178 milhões no segundo trimestre de 2019), penalizado sobretudo por resultado negativo de 70 milhões no negócio de seguros Vida nos Estados Unidos e apesar do bom andamento nos prémios de seguros hipotecários.

A resolução do processo com a Axa representou 100 milhões de libras esterlinas (125 milhões de dólares) nas contas do trimestre. O contencioso tem origem em vendas de produtos financeiros irregulares (planos de poupança) concebidos por duas subsidiárias da Genworth que a Axa adquiriu em 2015 por 465 milhões de euros. As vendas enganosas no retalho (entre 2015 e 2017) geraram reclamações e custos superiores a 270 milhões de responsabilidades legais que a Axa cobriu. Em consequência, a seguradora francesa moveu ação judicial contra a Genworth e, no desenvolvimento do processo, uma decisão judicial anunciada já em dezembro de 2019 impôs à Genworth a obrigação de indemnizar a Axa por 90% das perdas incorridas.

Em janeiro de 2020, a Genworth começou a pagar o reparo e, a 21 de julho, foram acordados e fixados os montantes que em falta para sanar a disputa, com uma primeira parcela de 125 milhões de dólares em pagamento imediato e o restante através de nota promissória (com ativos do negócio hipotecário dados como garantia), para mais duas prestações diferidas, somando mais 317 milhões de libras esterlinas.

Assim, por conta do litígio com a Axa, a Genworth inscreveu nas contas trimestrais 516 milhões de dólares de perdas resultantes de atividades descontinuadas, detalha a instituição norte-americana em comunicado.

Por fim, a fusão com o grupo China Oceanwide (Oceanwide) – por aquisição da norte-americana pela chinesa por 3,8 mil milhões inicialmente anunciada há, pelo menos, dois anos e com boa parte de aprovações das autoridades já obtidas – segue pendente da transferência de fundos que a adquirente não tem conseguido retirar da China, por culpa de atrasos associados às restrições de saída de divisas decretadas pelas autoridades de Beijing, no quadro da pandemia.

Nesta condição, fazendo fé de que a Oceanwide desbloqueie os fundos, a Genworth Financial acordou, a 30 de junho, esperar mais três meses por cerca de 1 000 milhões de dólares. Por conseguinte, o prazo para que prossiga a fusão com o grupo chinês foi prolongado, o mais tardar, até 30 de setembro de 2020, indica a empresa americana.

Citado no comunicado da Genworth, Lu Zhiqiang, presidente do grupo chinês, afirma: “A compra da Genworth é uma operação estratégica importante e prioritária para a China Oceanwide. Por causa do impacto económico e do confinamento provocado pela pandemia, processo de financiamento tem atrasado, mas mantemos o compromisso de assegurar os fundos necessários para a concretização de transação logo que possível”.

Entretanto, enquanto anseia pelo dinheiro do parceiro chinês [ou para prevenir a falta dele] e, por forma a cumprir responsabilidades vincendas e cobrir outros riscos, a Genworth considera uma emissão de dívida com maturidade em 2021 e pondera também a eventual venda em bolsa de cerca de 20% do capital da sua unidade de crédito hipotecário (U.S. Mortgage Insurance), adianta a companhia norte-americana.

A China Oceanwide, fundada em 1985 por Lu Zhiqiang, cresceu e tornou-se conhecida como promotora de grandes projetos imobiliários, também fora da China. Atualmente é um conglomerado com interesses largados à banca, seguros, energia, tecnologia e media, detendo ativos e investimentos que somam mais de 20 mil milhões de dólares.

Lu é o multimilionário à frente da holding matriz do grupo e, em 2016, estava entre os 10 mais ricos da China, sendo o quinto mais forte no imobiliário chinês.

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