Like & Dislike: Isto não foi um debate, foi um tédio democrático

O primeiro debate temático que veio substituir o modelo dos debates quinzenais mostrou que o Bloco Central substituiu uma ferramenta democrática dinâmica por um sistema de controle entediante e inútil

Foi há 13 anos, com o PS com maioria absoluta, que surgiram os debates quinzenais, após um desafio do então líder do CDS-PP, Paulo Portas, ao primeiro-ministro José Sócrates, que aceitou ir mais vezes ao parlamento.

Nesta legislatura, o Bloco Central resolveu acabar com estes debates quinzenais e substituí-los por um modelo de debates temáticos. O primeiro aconteceu esta quarta-feira para discutir a “Visão estratégica para o Plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030”.

Foi um flop. Não foi um debate, foi uma sucessão de discursos, mini comícios, intervenções monocórdicas em que o primeiro-ministro só responde à la carte, ou seja, quando e se lhe apetecer.

António Costa abriu o debate com um discurso de 5 minutos, seguiu-se uma fase dita de debate em que mais de 20 oradores tomaram a palavra para fazer discursos aborrecidos e que pouco ou nada tinham a ver com o plano de António Costa Silva.

Algures no meio, António Costa pede a palavra (não era sequer obrigado a fazê-lo) para responder a algumas perguntas soltas escolhidas à la carte, ou seja, o primeiro-ministro só respondeu o que lhe conveio responder. E no final, na fase de encerramento, mais uns quantos discursos, sem debate, sem réplica, sem escrutínio e sem profundidade.

Ao contrário dos debates quinzenais em que as perguntas da oposição exigiam uma réplica imediata por parte do Governo, neste novo modelo, o primeiro-ministro só responde ao que lhe apetece e lhe apraz, numa espécie de democracia self-service.

O cúmulo deste debate foi Rui Rio. O líder do PSD deu como justificação para terminar com os debates quinzenais o “superficialismo que, há muito, vinha dominando os debates quinzenais, tantas vezes reduzidos a soundbytes e com a especial preocupação de marcar os noticiários do dia”.

E o que é que Rui Rio trouxe para o debate neste novo modelo? Não disse uma palavra que fosse sobre a “Visão estratégica para o Plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030” e limitou-se a trazer à discussão o tema do salário mínimo, com soundbytes do género “Faz-me lembrar quando o Governo de José Sócrates aumentou os salários sem ter condições para o fazer e a seguir cortou os salários”. Terá com certeza o seu espaço no noticiário do dia.

Como escrevia há tempos Margarida Balseiro Lopes a propósito da substituição dos debates quinzenais por estes debates temáticos, “é insólito ser o maior partido da oposição a propor a redução do escrutínio da atividade do Governo. Tanto mais que este Governo não tem por hábito não responder à esmagadora maioria das perguntas, o que torna ainda menos defensável a diminuição de oportunidades para questionarmos”.

A estes entediantes e inúteis 172 minutos e 30 segundos que durou o debate, a Assembleia da República chamou-lhe de “Debate temático solicitado pelo Governo sobre Visão estratégica para o Plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030”. Ao menos tenham a o bom senso democrático de lhe tirar do nome a palavra “debate”.

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