BRANDS' TRABALHO Modernização da Administração Pública. Será desta?
Tânia Ribeiro, Senior Manager EY, People Advisory Services, enumera as 10 áreas críticas para que a transformação da Admnistração Pública aconteça.
A necessidade de modernização da Administração Pública é talvez um dos temas mais consensuais na nossa sociedade. Governo e oposição, autarcas, empresários e investigadores, funcionários públicos e cidadãos, independentemente das sensibilidades políticas e diferentes opções estratégicas a adotar, todos concordam que é preciso modernizar.
Não obstante o consenso, e o trabalho já iniciado em algumas áreas com resultados interessantes, ainda existe um longo caminho a percorrer. Nomeadamente quando nos comparamos com alguns países europeus que conseguiram traçar uma estratégia ambiciosa, transversal e digital, e assim ganhar velocidade. Por cá ainda nos deparamos com uma máquina pesada, descoordenada sob muitos aspetos e numa fase preliminar da transição para o digital. A adicionar a isto, temos a resistência à mudança por parte de alguns serviços e a falta de incentivos e de fundos, que permitam construir uma cultura de mudança e empreender as restruturações necessárias.
Mas o mundo, que avança muito rápido nestes tempos modernos, mudou. Devido à pandemia e à tentativa de resposta da UE à crise, surge a “bazuca” da Europa. Muito dinheiro vai “cair do céu” e é essencial que este seja direcionado para atividades produtivas capazes de gerar riqueza, inovação e competitividade. A Administração Pública tem de estar à altura da parada, uma máquina ágil e competente que facilite a execução dos fundos europeus e estimule a atividade privada. Uma máquina moderna e transparente, justa e isenta nos seus pareceres, que alie qualidade com velocidade e que integre todas as decisões numa visão estratégica do país. Só assim iremos conseguir uma alteração estrutural na nossa economia, projetando-a para o futuro.
António Costa e Silva na apresentação do seu Plano de Recuperação 2020-2030 foi perentório: “Para o sucesso deste plano é essencial a reforma da Administração Pública”. Que sirva de mote para avançarmos!
Para que a transformação aconteça, 10 áreas são críticas:
- Estratégia. A visão e a estratégia desenhadas devem ser ambiciosas, de longo prazo e traduzirem-se num plano de ação com KPIs que garantam a sua implementação.
- Governance. Para garantir a concretização da estratégia deve ficar claro qual a responsabilidade de cada instituição e como se deve coordenar com as demais (eliminando redundâncias, ineficiências e silos).
- Dimensionamento. Devem ser elaboradas análises por setores, para assegurar o dimensionamento correto e promover a mobilidade de recursos.
- Cultura. Deve ser desenhada uma nova cultura organizacional, para assegurar a transformação pretendida. Key drivers como excelência, inovação, colaboração, agilidade e paixão devem ser promovidos, para assegurar uma mudança de mindset e atitude dos colaboradores.
- Gestão por objetivos. Todas as instituições e respetivos colaboradores devem ter objetivos para cumprir (quantitativos e qualitativos) e uma clara orientação para resultados.
- Digitalização. Deve-se apostar na automação dos processos, para ganhar velocidade e eliminar tarefas de baixo valor acrescentado; e no recurso à inteligência artificial, para assegurar maior eficiência e qualidade.
- Organização do trabalho. Algumas funções devem ser transformadas, em virtude da nova estratégia e da digitalização. O desenho do flow das atividades e das tomadas de decisão deve ser ágil e transparente (reduzindo o “circuito dos pareceres” entre repartições).
- Liderança. Os líderes devem ser bem preparados, para que sejam embaixadores da mudança e consigam acompanhar e desafiar as equipas.
- Qualificação. É crítico apostar no desenvolvimento dos colaboradores. Competências digitais e comportamentais na área da inovação, global mindset, inteligência emocional, resolução de problemas complexos, orientação para resultados, entre outros, serão importantes para o sucesso da missão.
- Reconhecimento. É essencial reconhecer os colaboradores que se destaquem pelos melhores resultados e comportamentos, com consequência direta na evolução da carreira e remuneração. Uma gestão pelo mérito motivará os colaboradores e elevará a qualidade das instituições.
Em suma, é possível uma Administração Pública moderna, que contribua para a evolução do país, que crie conhecimento e inovação e que estimule o setor privado. O desafio é grande, bem o sabemos, mas sigamos o conselho da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyer: “Como se comem elefantes? Às fatias”. É preciso assim acreditar e com determinação, colocar mãos à obra.
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