“Geringonça” ficou aquém das expectativas e resume-se a mercearia
Manuel Alegre diz que "uma convergência de esquerda tem de ser mais do que uma negociata à volta do Orçamento".
O dirigente histórico do PS Manuel Alegre considera que a solução política de esquerda, a Geringonça, ficou aquém das expectativas, resumindo-se a uma mercearia à volta do Orçamento, e critica as “meias medidas” no combate à pandemia.
Estas posições foram assumidas pelo escritor, poeta e antigo conselheiro de Estado em entrevista ao podcast do PS “Política com palavra”, durante a qual também se pronuncia sobre as eleições presidenciais de domingo próximo.
Manuel Alegre, que se manifestou a favor de uma solução de Governo do PS com os partidos à sua esquerda, entende, no entanto, que “a Geringonça ficou aquém das expectativas”, já que não “houve um ímpeto reformador” e “um projeto nacional de futuro”.
“Isto tem-se resumido a uma espécie de mercearia à volta do Orçamento. Uma convergência de esquerda tem de ser mais do que uma negociata à volta do Orçamento”, declara.
Já em relação ao candidato presidencial e líder do Chega, André Ventura, Manuel Alegre aponta que ele “insulta tudo e todos” e interroga-se “onde é que está o PS”.
“O PS não pode não estar presente neste combate. Isto é uma ameaça“, frisa, antes de defender que o partido liderado por António Costa tem de voltar a fazer uns Estados Gerais ou algo de semelhante, tem de se abrir”.
Manuel Alegre classifica ainda como estranha a opção do PS não ter candidato presencial, dizendo que o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “com todas as qualidades que tem, é um homem da direita”.
“E nós somos um partido da esquerda democrática, um partido fundador [da democracia portuguesa]. É estranho que não tenhamos um candidato. Por isso, apoio a Ana Gomes, justifica.
Em relação ao combate à Covid-19, Manuel Alegre observa que Portugal tem 2,26 milhões de portugueses com mais de 65 anos.
“Se não vêm mais vacinas e se não conseguimos resolver este problema de vacinar os mais idosos e aqueles com doenças associadas, arriscamo-nos – eu digo isto com um soluço na garganta – arriscamo-nos a perder uma geração de avós. Isso é terrível”, alerta.
Manuel Alegre refere depois que, na primeira vaga da epidemia em Portugal, os portugueses autoconfinaram-se”, tendo existido “um pacto entre os cidadãos e o poder político”.
Agora, no entanto, “voltou a indisciplina, quebrou-se esse pacto que havia – um pacto nacional, sentimento comunitário, entre cidadãos e política.”
“[Há] falta de confiança e excesso de partidarização de algo [a pandemia] que não pode ser partidarizado”, critica.
O dirigente histórico socialista advertiu depois, num recado ao Governo, que, no combate à covid-19, “não há nada pior do que a meia medida”.
“Acho que houve estados de emergência a mais com muitas meias medidas, e isso acaba por lançar a confusão. Se há um estado de emergência, que seja a sério, que seja a doer, e que as pessoas percebam”, sustenta.
Ainda no que respeita ao processo de vacinação em Portugal, Manuel Alegre considera que “o Presidente da República, o primeiro-ministro e os outros ministros já deviam ter sido vacinados”.
“Não se vacinarem é uma forma de desvalorizar as funções que exercem e é uma cedência aos populismos”, frisa.
Em matéria de Serviço Nacional de Saúde, o dirigente histórico do PS deixa várias referências críticas à atuação do Bloco de Esquerda, embora sem mencionar este partido.
“Alguns, de outros partidos, dá a impressão de que querem fazer a revolução por via parlamentar e nacionalizar tudo [com a requisição civil na saúde]. Isto não é assim. Tem de haver muito bom senso e tentar refazer na medida do possível aquele pacto que já existiu e agora quebrou-se”, afirma.
Manuel Alegre diz mesmo nem sequer perceber “o que significava neste momento requisição civil [na saúde]”.
“O que eu aconselharia aos responsáveis da saúde é alguma descrispação”, contrapõe o antigo candidato às eleições presidenciais de 2006 e 2011.
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