“A nossa empresa merece e terá futuro”. Ex-CEO Paulo Leite despede-se da Groundforce
Gestor diz não se arrepender das ações que levaram ao despedimento e garante ter sido leal para com a moral, a ética e a legalidade. Destituição será concretizada esta tarde em assembleia geral.
Paulo Leite prepara-se para deixar a Groundforce. Depois de ter deixado de desempenhar funções de CEO no seguimento de um conflito com o principal acionista, deverá ser destituído de administrador esta segunda-feira. Numa carta de despedida enviada aos trabalhadores, a que o ECO teve acesso, o gestor garante ter sido leal e que tudo fará para que a empresa de handling “não desapareça nesta turbulência”.
“Passam no dia 10 de maio de 2021, exatos 1.603 dias desde que cheguei à Groundforce, no dia 19 de dezembro de 2016. Passam também 1.409 dias desde que, a 1 de julho de 2017, assumi a liderança da empresa. Hoje realiza-se a assembleia geral que, ao que tudo indica, irá decidir a minha destituição do cargo de administrador”, começa por dizer Paulo Leite sobre o seu percurso na Groundforce.
Os acionistas — Pasogal (50,1%), TAP (43,9%) e PGA (6%) — vão reunir-se a partir das 16h para deliberar sobre a destituição de administrador com justa causa e efeitos imediatos com fundamento na violação grave dos deveres de lealdade e de cuidado a que estava sujeito. A razão não foi clara, mas estará relacionada com um desentendimento entre Leite e Casimiro no que diz respeito aos salários em atraso na Groundforce.
Foi o então CEO que anunciou o pagamento de parte da remuneração em falta e, mais tarde, viria a alinhar com a TAP contra Casimiro na votação da solução encontrada de sale and leaseback de equipamentos (que está agora a ser contestada).
“No dia 19 de março não tinha qualquer dúvida: tinha de salvar a empresa, proteger o bem dos acionistas e, acima de tudo, resolver a angústia de 2.400 trabalhadores, alguns dos quais com gravíssimos problemas em sustentar as suas crianças e cumprir com as suas obrigações”, diz Paulo Leite. “Fui leal — extrema e profundamente leal — aquilo que para mim são linhas intransponíveis: moral, ética e legalidade”.
“Tomei essa decisão consciente de todas as consequências da mesma. Poderia, antecipando e prevendo este dia, ter optado por me demitir para não entrar em conflito. Mas essa decisão, embora mais confortável, faria com que não tivessem sido pagos os salários e tivéssemos, muito provavelmente, destruído a nossa empresa. Tinha sido mais confortável mas não me poderia permitir manter a cabeça erguida”, diz.
O gestor admite não ser perfeito, fala do trabalho que desempenhou e do que poderia ter feito melhor, mas diz ter dado o seu melhor e deixa-se à disposição dos trabalhadores. Quanto à empresa em si, diz esperar que se reerga da situação que vive atualmente “Falemos agora de futuro. A nossa empresa merece e terá futuro“, aponta. “O meu futuro estará, invariavelmente ligado à aviação e darei tudo por tudo para que a nossa empresa não desapareça nesta turbulência“.
A Groundforce tem sido afetada pelo impacto da pandemia na aviação e chegou ao ponto de rutura de tesouraria no início do ano. O dono da Pasogal, Alfredo Casimiro, garante que tem agora capacidade para pagar salários até junho — apesar de não ter conseguido um empréstimo bancário com aval do Estado –, mas está ainda assim a tentar vender a empresa.
Casimiro confirmou este sábado que contratou o banco Nomura para assessorar um eventual negócio de alienação da sua participação de 50,1% na Groundforce. O empresário diz também que deu “instruções” para que “seja dada especial atenção” à Aviapartner, empresa belga que beneficiou recentemente de um relevante apoio económico e financeiro do Estado belga, no âmbito das ajudas extraordinárias ao setor da aviação, com vista a minorar as consequências da crise pandémica.
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