BRANDS' TRABALHO “Ter mais mulheres na indústria [de IT] vai inspirar e tranquilizar outras”

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  • 18 Junho 2021

Numa altura em que a Kaspersky lança a iniciativa "Women in Tech", Evgeniya Naumova, vice-presidente da Rede Global de Vendas da empresa, fala sobre diversidade de género no setor tecnológico.

Nos últimos dois anos, mais de metade das mulheres (56%) a trabalhar na área tecnológica assistiram à evolução da igualdade de género dentro da sua organização e 70% chegam mesmo a afirmar que as suas competências e experiência foram colocadas à frente do seu género, ao longo do processo de candidatura ao primeiro emprego nesta área. Paralelamente, 44% das mulheres partilha da opinião de que os homens progridem mais rapidamente do que elas dentro da indústria tecnológica.

Estes são alguns dos resultados do estudo global “Women in Tech, Where are we now? Understading the evolution of women in technology”, realizado pela Kaspersky, e que analisa a evolução em termos de diversidade e igualdade de género na indústria tecnológica ou em funções de IT, entre novembro e dezembro de 2020, em 19 mercados.

Se há conclusões que mostram que ainda há um longo caminho a percorrer para uma setor mais igualitário em termos de género – quase metade das mulheres (47%) que trabalham na área da tecnologia acredita que os efeitos da COVID-19 atrasaram a sua evolução na carreira – outros demonstram que “estamos a trilhar o caminho certo”. É esta a leitura que Evgeniya Naumova, Vice-Presidente da Rede Global de Vendas da Kaspersky, faz perante o estudo e mostra-se confiante que “se o setor continuar a assegurar um ambiente flexível e equilibrado para as mulheres, então o seu contínuo desenvolvimento e progresso na área tornar-se-á a norma mais rapidamente”, explica ao ECO.

“É necessário reforçar e consciencializar que a indústria tecnológica tem lugar para as mulheres e este é um caminho que precisa de começar o mais cedo possível”, explica Evgeniya Naumova, Vice-Presidente da Rede Global de Vendas da Kaspersky.

Nesta entrevista, a responsável fala sobre o impacto da pandemia na diversidade de género no setor das IT, as medidas que devem ser adotadas para atrair talento feminino para as equipas, o papel das empresas de IT na atração e retenção deste talento e o que a Kaspersky tem feito ao longo dos últimos anos em prol de igualdade de género.

No conjunto de iniciativas que a empresa tem vindo a desenvolver nos mercados onde opera, inclui-se a campanha “Women in Tech”, que será lançada em Portugal. A ideia é promover uma “maior integração de mulheres no setor e criar awareness sobre o tema”, através de uma parceria com a youtuber portuguesa Geek’alm, que irá dinamizar uma série de conversas informais com mulheres a trabalhar em funções de IT em Portugal.

No estudo realizado pela Kaspersky são indicados alguns progressos em prol da igualdade de género na área de IT. Qual destacaria como o mais importante?

Todos são importantes e constituem indicadores bastante positivos. Mas diria que o facto de 70% do total das mulheres que participaram no estudo afirmarem que as suas competências e experiência foram colocadas à frente do seu género, ao longo do seu processo de candidatura ao primeiro emprego na área tecnológica, é dos que mais me deixa positiva e confiante em relação ao futuro. É certo que ainda há muito a fazer no que toca à verdadeira inclusão e diversidade de género no setor, mas dados como este mostram-nos que estamos, enquanto sociedade, a trilhar o caminho certo.

O estudo concluiu que 46% das mulheres concordam que a igualdade de género melhora entre equipas que trabalham remotamente. Terá o impacto da pandemia da COVID-19 sido mais positivo ou negativo nestas matérias?

Ambos. Teve um impacto positivo, mas, em contrapartida, também teve outros não tão desejáveis. E isto depende de mulher para mulher. Apesar de algumas mulheres terem afirmado, através deste estudo, que apreciam a maior flexibilidade proporcionada pelo teletrabalho e que conseguem ser mais produtivas e autónomas, para outras, a pandemia originou um desequilíbrio profundo entre o trabalho e a vida familiar. Isto porque, em muitos casos, foram elas que passaram a realizar todas as tarefas domésticas, a fazer a maior parte da limpeza em casa, a acompanhar os filhos nas tarefas escolares ou a adaptar o seu horário de trabalho mais do que o seu parceiro masculino. Como resultado, 47% das mulheres acabaram por sentir que os efeitos da COVID-19 atrasaram, em vez de melhorarem, a sua progressão na carreira.

E, ainda de acordo com o que nosso estudo global nos permitiu concluir, há outro ponto que importa destacar: o teletrabalho e os sistemas híbridos podem também constituir-se um desafio para as mulheres que trabalham remotamente, no sentido em que podem ter menos acesso à gestão de topo que, geralmente, trabalha a partir do escritório.

No entanto, o trabalho remoto e flexível, bem como uma mudança no foco dos recrutadores, de títulos e diplomas para competências necessárias para determinado trabalho, têm o potencial de beneficiar profissionais do sexo feminino com know-how competitivo.

Além disso, o teletrabalho reduziu a barreira de entrada para as mulheres que pretendem juntar-se a empresas sediadas noutras cidades ou países. E, para as empresas, torna-se mais importante do que nunca contratar e promover pessoas com competências que beneficiem a empresa, diminuindo preconceitos e intolerâncias.

Acima de tudo, as empresas orientadas para o progresso vão provavelmente prestar mais atenção à construção de equipas equilibradas em termos de género, já que cada vez mais estudos e experiências indicam que a diversidade de género tem um impacto global positivo no sucesso financeiro.

É necessário reforçar e consciencializar que a indústria tecnológica tem lugar para as mulheres e este é um caminho que precisa de começar o mais cedo possível. Ter mais mulheres a trabalhar na indústria vai certamente inspirar e tranquilizar outras, relativamente a certos receios que possam estar associados à desigualdade de género no setor.

Evgeniya Naumova

Vice-Presidente da Rede Global de Vendas da Kaspersky

Um dos grandes entraves para a existência de mais mulheres na área de IT é a falta de referências femininas, um círculo vicioso difícil de quebrar. Que tipo de medidas considera que devem ser adotadas para atrair as mulheres para o setor?

Cerca de 38% das mulheres que inquirimos no estudo admitiu que o facto de haver poucas mulheres com carreiras de sucesso na indústria tecnológica faz com que sintam receio de entrar no setor. E este dado é bastante relevante para percebermos a urgência da mudança.

Uma medida importante para conseguirmos alcançar esta mudança é levar jovens mulheres, interessadas nesta área, das universidades ou escolas até à indústria e, posteriormente, até a cargos superiores. Devem ser implementadas medidas-chave e iniciativas que apoiem verdadeiramente a carreira das mulheres na área tecnológica e, isso passa, por exemplo, pela oferta de programas ou estágios que proporcionem o acesso a oportunidades e experiência.

Inclusive, a Kaspersky tem vindo a desafiar mulheres ligadas à cibersegurança através de várias iniciativas, como, por exemplo, o programa de estágio internacional remunerado – o SafeBoard – que se encontra atualmente disponível na Rússia, Europa e países da APAC. Neste programa, os estudantes têm oportunidade de praticar e desenvolver as suas competências nas mais variadas áreas, bem como conseguir um emprego na Kaspersky e progredir na sua carreira. Continuamos a trabalhar para apresentar mais iniciativas de estágio a nível global, pois acreditamos que proporcionar mais oportunidades aos jovens, independentemente do seu género, orientando-os e introduzindo-os à área da cibersegurança, pode também ser uma das formas de ultrapassar o desequilíbrio de género na indústria.

É necessário reforçar e consciencializar que a indústria tecnológica tem lugar para as mulheres e este é um caminho que precisa de começar o mais cedo possível. Ter mais mulheres a trabalhar na indústria vai certamente inspirar e tranquilizar outras, relativamente a certos receios que possam estar associados à desigualdade de género no setor. Isto pode potenciar um efeito “bola de neve” muito positivo, com potencial para acelerar esta mudança tão necessária.

Naumova acredita que “Nada mudará da noite para o dia, mas há sinais de que as mulheres se sentem cada vez mais capacitadas” na área de IT.

Qual o papel das próprias empresas de IT? Como podem atrair e reter talento feminino?

Acima de tudo, as empresas de IT e os seus colaboradores masculinos precisam de ser proativos e empenhados em assegurar a progressão das mulheres e das suas carreiras. Em relação às mulheres que já trabalham nestas empresas, os gestores devem proporcionar as condições certas para as suas competências e estar atentos à sua experiência. Não devem tolerar quaisquer casos de discriminação de género e devem apoiar situações em que o funcionário tenha responsabilidades de cuidados, especialmente em contextos remotos. As empresas devem criar um local de trabalho inclusivo e justo para as mulheres, para que estas se possam sentir valorizadas e para que desejem continuar a fazer parte da comunidade.

A indústria deve também dar a conhecer profissionais femininas bem-sucedidas em IT e as oportunidades existentes na área para as mulheres.

Além disso, algumas mulheres adiam a decisão de ter filhos devido ao facto de se terem confrontado com casos de tratamento inapropriado entre outras mulheres nas empresas em que trabalhavam, durante e após a gravidez. Muitas não são consideradas para promoções porque passam períodos mais longos fora do trabalho em licença de maternidade e isso não pode acontecer. Isto não deve ser tolerado de forma alguma. Por exemplo, na Kaspersky, apoiamos as jovens mães e temos programas especiais de apoio financeiro para colaboradoras que deram recentemente à luz.

Em Portugal, vamos também dar mais um grande passo nesse sentido [da diversidade de género], com o início da campanha “Women in Tech”, onde iremos promover, simultaneamente, uma maior integração de mulheres no setor e criar awareness sobre este tema tão importante”.

Evgeniya Naumova

Vice-Presidente da Rede Global de Vendas da Kaspersky

Como é que a Kaspersky se tem posicionado face à temática da diversidade de género?

A Kaspersky, como empresa líder em cibersegurança e influente no setor da tecnologia, tem o poder de encorajar jovens mulheres a não desistirem de uma carreira bem-sucedida no setor tecnológico, apenas porque esta é uma área em que os homens se encontram em maioria numérica. E é isso que queremos fazer. Utilizar a nossa voz para incentivar à mudança e continuar a contrariar tendências menos favoráveis para o universo feminino, e que vão muito além da tecnologia.

Defendemos a igualdade de género e estamos empenhados em criar uma indústria mais diversificada e mais segura. Acreditamos que devem ser dadas às mulheres todas as oportunidades possíveis de trabalhar numa profissão relacionada com a tecnologia e serviços dos quais gostam, uma vez que a única coisa que importa num futuro candidato são as suas capacidades únicas e individuais.

Nesse sentido, temos vindo a desenvolver várias iniciativas de apoio direcionadas a mulheres que atualmente trabalham no setor, e outras, de orientação, para que mulheres mais jovens possam seguir o percurso profissional que sempre desejaram. Por exemplo, temos vindo a trabalhar com jovens e crianças nas escolas, nos mais variados países do mundo, na tentativa de gerar interesse pela área logo numa fase inicial e proporcionar insights relevantes sobre aquilo que pode ser uma carreira em tecnologia.

Em Portugal, vamos também dar mais um grande passo nesse sentido, com o início da campanha “Women in Tech”, onde iremos promover, simultaneamente, uma maior integração de mulheres no setor e criar awareness sobre este tema tão importante”. Na “Women in Tech”, vamos lançar talks informais no canal de uma YouTuber ligada e apaixonada pelo universo tecnológico – a Geek’alm – que irá sentar-se à conversa com algumas mulheres portuguesas a trabalhar em cargos de IT em Portugal, abordando temáticas tão relevantes como as oportunidades e as dificuldades que sentiram ao longo da evolução da sua carreira profissional.

Em cada uma destas conversas, vai ser possível ouvir a experiência de mulheres bem-sucedidas na área da tecnologia, que trabalham em empresas influentes a nível nacional, como, por exemplo a Farfetch, bem como desmistificar o que fazem no seu dia-a-dia, em função do cargo que desempenham. Acreditamos que esta campanha terá um impacto bastante positivo na perceção e autoestima das jovens mulheres interessadas em integrar o setor das IT em Portugal – e além fronteiras – e, por isso, estamos muito orgulhosos por poder pôr em prática uma iniciativa como esta no país.

Em que medida é que uma maior presença feminina ou uma presença mais equitativa de géneros nas equipas de IT impactaria a indústria?

As equipas constituídas por homens e mulheres são as mais eficientes e harmoniosas, e a indústria tecnológica só tem a beneficiar com uma representação igualitária entre homens e mulheres. As mulheres são, por natureza, atentas, motivadoras, empáticas e apaixonadas pelo que fazem e isso acaba por influenciar não só o seu desempenho, mas também o das próprias equipas onde estão inseridas. Inclusive, estas são qualidades muito valorizadas em funções de liderança.

Ter uma equipa diversificada é sinónimo de beneficiar de uma gama muito mais vasta de mentes criativas, diferentes contextos e universos, bem como várias experiências de vida. Para uma indústria que necessita constantemente de inovar e ser disruptiva, faz sentido beneficiar do maior número de perspetivas possível. Tem sido bom ver uma mudança positiva nas equipas que trabalham em IT durante os últimos dois anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Como vê a área da IT daqui a 10 anos ao nível da diversidade de género?

Se há algo que esta pandemia nos ensinou foi a viver um dia de cada vez, valorizando o presente. É difícil prever como estaremos daqui a 10 anos, mas nada muda de um dia para o outro. Se o setor continuar a assegurar um ambiente flexível e equilibrado para as mulheres, então o seu contínuo desenvolvimento e progresso na área tornar-se-á a norma mais rapidamente – o que é, também, mais suscetível de desencadear uma mudança na dinâmica social.

Nada mudará da noite para o dia, mas há sinais de que as mulheres se sentem cada vez mais capacitadas e confiantes para exigir as condições apropriadas às suas competências. A indústria deverá aproveitar este impulso e ser um catalisador para que, daqui a 10 anos, estejamos perante uma mudança social mais ampla e positiva ao nível da diversidade de género.

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