Empresas portuguesas, espanholas e francesas abrem guerra às seguradoras

  • ECO Seguros
  • 3 Outubro 2021

Inquéritos recentes mostram inquietação de gestores de risco em Espanha e França. Empresas portuguesas, como Efacec e Jerónimo Martins, também apontam dureza e insuficiências da oferta seguradora.

Mais de uma dezena de grupos empresariais espanhóis, sete dos quais cotados em bolsa, integram um grupo de trabalho criado para analisar e encontrar saídas para o que consideram ser uma falta de soluções e inexistência de respostas adequadas no mercado segurador.

Queixam-se de não encontrar, nem em Espanha nem no mercado internacional, as coberturas de seguros de que necessitam. Além disso, afirmam em uníssono: os preços dos seguros estão subir muito. As críticas são igualmente assumidas por responsáveis de empresas portuguesas.

Em Espanha, o descontentamento é encabeçado pela Agers e Igrea, e inclui entre outras empresas, banco Santander, Telefónica, Repsol, Naturgy, Red Eléctrica, Ferrovial e ArcelorMittal todas cotadas no mercado acionista, mais Cepsa, El Corte Inglés, Gamesa, Sacyr e o grupo San José. Segundo noticiou o jornal Expansión estas empresas tiveram uma reunião para constituir um grupo de trabalho e traçar “uma estratégia comum” para lidar com o que designam “endurecimento excessivo do ambiente de mercado (hardening, na gíria de seguros), com aumentos indiscriminados de preços e restrições de cobertura e capacidade,” cita o portal Aseguranza afirmando que o movimento é encabeçado por associações de gestores de risco (Agers e Igrea).

Em comunicado conjunto, a Asociación Española de Gerencia de Riesgos y Seguros (Agers) e a Iniciativa de Gerentes de Riesgo Españoles e Associados (Igrea), confirmam ter tomado a liderança da iniciativa e afirmam que o grupo de trabalho (já formado) assume missão de responder às inquietações dos empresários. Querem assim, iniciar um diálogo, com autoridades e organismo regulador, para analisar os inconvenientes apontados e resolvê-los através de soluções possíveis, incluindo recurso a companhias cativas ou outras.

Alicia Soler (diretora executiva da Agers) e Javier Navas (diretor e presidente da Igrea) prestarão apoio técnico e logístico ao grupo de trabalho para que consigam coordenação adequada às diligências, nomeadamente a realização de painéis de colaboração entre seguradoras, corretoras, gestores independentes de companhias cativas (seguradoras criadas no interior das organizações para a transferência dos seus próprios riscos), peritos em fiscalidade, finanças e legalidade, e com o próprio regulador (DGSFP), Direção Geral de Seguros e Pensões, que funciona sob tutela do Ministério Espanhol da Economia e Finanças.

Gestores portugueses desferem críticas aos seguros

O descontentamento parece ganhar uma dimensão ibérica. A insatisfação ficou documentada num inquérito da série Risk Frontiers Europe, com saldo de opiniões recolhidas junto de empresas em diversos setores que se deparam com dificuldades acrescidas para contratar coberturas D&O, seguros gerais e coberturas cyber. Além de queixas de endurecimento nos preços (na renovação de seguros), referem-se restrições de capacidade e omissão de determinadas coberturas (como vandalismo) que, dizem, anteriormente eram fáceis de incluir nas apólices de propriedade e danos (P&C).

Numa notícia que alude ao inquérito, outros executivos (alguns de empresas portuguesas) atiram mais críticas ao mercado segurador. Citados na Commercial Risk online (artigo em inglês, acesso gratuito), Luís Campilho, responsável financeiro da Efacec, Jorge Neto, responsável da área de seguros no grupo Jerónimo Martins juntam-se a Lourdes Freiría, assessora da Igrea e diretora de risco e seguros na construtora SanJosé num rol de críticas sobre preços e dificuldades de contratação, incluindo certas coberturas necessárias em operações internacionais.

Perante uma problemática que parece agravar-se neste período de pós-pandemia, as empresas espanholas ponderam soluções como autosseguro (através de cativas), transferir os riscos para o balanço através de franquias nas apólices ou até transferir risco para o mercado asiático, acrescenta o portal Aseguranza.

França confirma cenário de endurecimento

O sentimento de preocupação é similar entre o empresariado francês. Um relatório acabado de publicar pela Amrae (Association pour le Management des Risques et des Assurances de l’Entreprise), entidade que junta 1500 membros, representando mais de 750 organizações públicas e privadas, confirma a realidade de subida tarifária, agravado por aumento das franquias e restrição nas extensões das coberturas de seguros.

O relatório État du Marché & Perspectives 2022 – Assurances des Entreprises dá testemunho de pressão crescente no mercado de seguros de propriedade e danos. A principal conclusão do estudo indica que 90%, de uma amostra composta por 65 empresas participantes no inquérito da Amrae, declara confrontar-se com aumento de preços nos seguros. O incremento tarifário continua tendência altista vinda de 2019 e 2020, nota o estudo realizado em colaboração com as corretoras Marsh, Aon, Diot, Siaci Saint Honoré e Verlingue.

As grandes empresas perspetivam que, em 2022, os prémios dos seus seguros (P&C) terão agravamento de 10% a 50%. Nos casos mais sensíveis – regiões mais expostas a eventos catastróficos, atividades em que se evidencie uma deriva da sinistralidade – o aumento de preços poderá situar-se entre 70% e 80%, consoante a graduação dos riscos. O acesso a coberturas contra ciberataques, por exemplo, está a tornar-se particularmente complicado.

Pela primeira vez em cerca de 20 anos, todos seguros “vão aumentar em todas as seguradoras”, pressionando as margens de negócio de muitas empresas, adverte Léopold Larios de Piña, vice-presidente da Amrae.

Numa referência às conclusões do relatório, o jornal Le Figaro afirma que, com a aproximação da campanha de renovação dos contratos de seguro, as empresas vão confrontar-se com aumentos vertiginosos nos preços dos seguros.

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