Falta de enfermeiros acentua-se no Natal e Ano Novo

Há muito que a Ordem dos Enfermeiros alerta para a urgência em contratar profissionais. Diz que a situação é ainda mais preocupante na altura das festas.

Há vários meses que a Ordem dos Enfermeiros (OE) tem vindo a alertar para a falta destes profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a situação piorou nas últimas semanas com o aumento do número de casos de Covid. Para os próximos dias o cenário é ainda mais preocupante, não só pelo “acréscimo de doentes”, mas também pela quantidade de enfermeiros que estão de baixa médica devido à Covid. Em declarações ao ECO, a bastonária Ana Rita Cavaco lamenta que o Governo tenha “abandonado” os hospitais e prevê o encerramento de serviços devido à falta de pessoal.

O relatório mais recente “Health at a Glance”, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), indica que, em 2019, Portugal tinha 7,8 enfermeiros por cada mil habitantes, um número abaixo da média da OCDE (8,83). Em 2019, havia 7,1 enfermeiros por cada mil habitantes em território nacional, novamente menos do que a média da OCDE (8,8).

A bastonária da OE recusa que haja poucos enfermeiros formados. “Não há falta de enfermeiros por falta de formação — porque temos cerca de 20 mil emigrados no estrangeiro. Temos é falta de enfermeiros porque o Governo não contrata“, diz ao ECO Ana Rita Cavaco.

Há vários meses que a Ordem tem vindo a chamar a atenção do Governo para este assunto. Mas os próximos dias poderão ser ainda mais preocupantes. Além do aumento de doentes infetados com Covid a dar entrada nos hospitais do SNS, há também vários enfermeiros com baixas médicas e, sobretudo, pessoas “muito mais doentes do que antes da pandemia”. “A pressão nos hospitais, neste momento, não é provocada pelos doentes Covid, mas sim pelos doentes não Covid, que chegam aos hospitais muito mais doentes do que antes da pandemia, porque tiveram muito tempo afastados dos cuidados de saúde”, diz a bastonária.

Nesse sentido, Ana Rita Cavaco prevê dias bastante difíceis na altura do Natal e do Ano Novo. “Podemos prever o fecho de serviços, porque se não temos enfermeiros suficientes para cuidar das pessoas, não podemos manter o número que temos de camas abertas. É impossível”, afirma.

“Há enfermeiros disponíveis no mercado”

Face a estas condições, Ana Rita Cavaco afirma que “é difícil dar resposta”. “Há enfermeiros disponíveis no mercado. Mas temos ouvido algumas queixas por parte dos Conselhos de Administração [dos hospitais] que estão um bocadinho abandonados, sem orientações e sem autorizações para contratar. E isso é dramático”, diz a responsável.

“O Governo fazer o que lhe compete”, diz a bastonária. “Se o Governo continua a não autorizar contratações e se os enfermeiros estão cada vez mais exaustos e também ficam doentes e positivos [à Covid] e, por isso, impedidos de trabalhar, não podemos esperar nada de bom”, antecipa, sublinhando que, sem novas contratações, “não há alternativa”, porque “os enfermeiros não esticam”.

Mas do lado da Ordem não há muita esperança que as coisas mudem. “Insistimos praticamente todas as semanas e nem em época de eleições eles [Governo] conseguem fazer aquilo que é correto”, nota Ana Rita Cavaco, acusando o Executivo de António Costa de estar “mais preocupado com a TAP”, que “recebeu três vezes mais dinheiro que o SNS”. “Isso diz tudo sobre as prioridades do Governo, que não são as pessoas”, aponta.

Esta quarta-feira, em entrevista à RTP, a ministra da Saúde afirmou que “estão pensadas todas as contratações que [o Governo] pode fazer”. Marta Temido adiantou ainda que o Governo celebrou acordos com o setor privado, social e militar, contratualizando “mais de 400 camas para reforço dos hospitais”. “O que prometemos sempre fazer é o melhor possível num contexto cheio de incertezas e com os meios sempre limitados”, notou.

O ECO questionou o Ministério da Saúde para perceber se há intenções de contratar mais enfermeiros, bem como sobre números de enfermeiros com atualmente com baixa médica, mas até ao momento de publicação deste artigo não obteve qualquer resposta.

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