Patrões esperam que PS avance com reformas e reforce diálogo social

O PS conseguiu a maioria absoluta que pediu e agora as confederações patronais esperam que os socialistas avancem com as reformas "necessárias e urgentes" e que o diálogo social saia reforçado.

Foi uma das surpresas da noite eleitoral: os socialistas conseguiram a maioria absoluta que António Costa pedira, contrariando o que antecipavam as sondagens dos últimos dias. Em reação, as confederação patronais já vieram apelar a que o PS, agora que já não depende dos parceiros da geringonça, avance com as reformas “necessárias e urgentes” para o crescimento do país e dizem esperar que o diálogo social saia reforçado.

Nestas eleições legislativas, os socialistas recolheram 41,68% dos votos, conseguindo 117 mandatos e a maioria absoluta. Em comparação, o PSD conseguiu 27,8% dos votos (71 mandatos), o Chega 7,15% (12 mandatos), o Iniciativa Liberal 4,98% (oito mandatos), o Bloco de Esquerda 4,46% (cinco mandatos), a CDU 4,39% (seis mandatos), o CDS-PP 1,61% (zero mandatos), o PAN 1,53% (um mandato) e o Livre 1,28% (um mandato).

Este resultado fez de António Costa o grande vencedor desta ida às urnas e surpreendeu algumas das confederações patronais. “Não era uma expectativa que fosse partilhada por muita gente a de que houvesse um partido com maioria absoluta”, nesta ida às urnas, sublinha o líder da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que identifica os 117 mandatos do PS como “a surpresa mais relevante” desta noite eleitoral.

Em declarações ao ECO, João Vieira Lopes diz ainda que “é positivo” que o primeiro-ministro tenha referido a necessidade de promover consensos na Assembleia da República e na Concertação Social, mesmo tendo garantido uma maioria absoluta no Parlamento. Isto depois de algumas “coisas terem corrido mal na Concertação Social”, nos últimos anos, lembra o responsável, fruto das concessões feitas pelo Governo aos partidos mais à esquerda para assegurar a aprovação dos Orçamentos do Estado.

Foi o que aconteceu, por exemplo, em outubro do ano passado, quando os patrões suspenderam temporariamente a sua participação na Concertação Social após o Executivo ter aprovado em Conselho de Ministros uma série de medidas laborais sem ter consultado os parceiros sociais, ainda que tivesse estado reunido com eles no dia anterior. E mesmo antes dessa data, já se tinham feito ouvir as críticas à desvalorização dos parceiros sociais por parte do Governo.

Mas agora o desenho político é diferente e António Costa já não precisa de ceder à esquerda para receber “luz verde” aos Orçamentos do Estado. “Se de facto existir o sentimento que o primeiro-ministro expressou, há uma série de questões que podem ser discutidas em Concertação Social“, defende João Vieira Lopes.

Os patrões estão mesmo abertos, garante o líder da CCP, a procurar fazer acordos, nomeadamente aquele sobre a competitividade e os rendimentos que a pandemia colocou na gaveta (estava a ser negociado no início de 2020, mas acabou por não dar frutos) e que o PS diz querer fechar nesta legislatura que se inicia. “E outros acordos que venham a justificar-se”, acrescenta João Vieira Lopes.

“A valorização ou não da Concertação Social é uma opção política do Governo. Não há desculpas”, salienta o mesmo, reconhecendo que, nos últimos anos, houve “limitações” uma vez que a “base de apoio” parlamentar do Governo desvalorizava o papel dos parceiros sociais.

A mesma posição tem o líder da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Eduardo Oliveira e Sousa defende que o “diálogo social deve sair reforçado” com os resultados das eleições de 30 de janeiro. “A razão da pouca relevância dada ao diálogo social devia-se à geringonça”, ataca.

Para o responsável, o povo “deu um voto de confiança ao PS“, que deve agora revertê-lo a favor de Portugal sob a forma de “resultados positivos” e progressão do país. E acrescenta: “Na nossa perspetiva, a composição nova do Parlamento faz com que auspiciemos um fortalecimento das políticas do Ministério da Agricultura“.

Também o líder da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) confessou ter ficado surpreendido com os resultados das eleições deste domingo. “Surpreenderam o país todo“, indicou António Saraiva, em declarações à TSF, defendendo que a surpresa deve ser agora transformada em ambição.

Na opinião do “patrão dos patrões”, o diálogo prometido por António Costa deve criar as condições necessárias para uma série de reformas, que, “mais do que úteis, são necessárias e urgentes“, nomeadamente a redução do peso do Estado, a previsibilidade fiscal e a celeridade na justiça. “Tão importante quanto a estabilidade [social e política], o próximo Governo não pode deixar de ser reformista“, sublinhou António Saraiva, aos microfones da Rádio Renascença.

O Conselho Nacional das Confederações Patronais — do qual fazem parte não só a CIP, CCP, CAP, mas também a Confederação do Turismo de Portugal e a Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário — vai apresentar um caderno de encargos ao Governo, não estando ainda fechada uma data para isso.

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