Dos cereais aos metais, guerra na Europa faz disparar preços

Invasão russa na Ucrânia está a ter impacto em muitos setores, gerando subidas de preços em vários produtos, tais como os cereais, os metais ou os combustíveis. Alumínio e cobre em máximos de sempre.

As consequências da invasão russa à Ucrânia estão a sentir-se de várias formas e em vários setores, mas também nas carteiras dos consumidores, sobretudo devido às subidas acentuadas dos preços das matérias-primas. É o que está a acontecer esta quinta-feira no mercado das commodities, com o alumínio, carvão e óleo de palma a atingirem recordes.

O S&P GSCI, um índice global de commodities, sobe 7,77%, para 766,01 dólares, cotando em máximos de 14 anos. Desde o início do ano, acumula ganhos de 37%. Neste índice estão listadas várias matérias-primas, tais como cereais, metais e até combustíveis, que desde o início da invasão russa estão a disparar nos mercados internacionais.

A Ucrânia é o principal exportador mundial de óleo de girassol e o quarto maior exportador de milho e trigo. Neste contexto, os futuros do trigo sobem 7,09%, para 1.134,12 dólares, o valor mais alto desde janeiro de 2008, refletindo as preocupações dos investidores quanto à escassez da oferta deste cereal.

Evolução do preço do trigo, que está em máximos de 2008Investing

“Tanto a Ucrânia como a Rússia são grandes produtores de trigo, representando cerca de 30% das exportações mundiais. Então, este é um dos pontos onde o impacto económico direto é agudo”, explicam os analistas do Deutsche Bank, numa nota enviada aos clientes, citada pelo Market Watch.

A Ucrânia anunciou no início da semana que os seus principais portos do Mar Negro iriam ficar encerrados até ao eventual fim da invasão russa. Isso “significa que nenhum carregamento de trigo poderá ser enviado da Ucrânia por mar durante um período de tempo indefinido“, diz Carsten Fritsch, analista de commodities do Commerzbank, citada pelo Market Watch.

“Além disso, as empresas de transporte já não estão a aceitar pedidos para entregas de ou para a Rússia. E, de qualquer forma, praticamente nenhum comprador está disposto a encomendar trigo da Rússia. Isso significa que até 30% das exportações globais de trigo estão praticamente excluídas do mercado”, acrescenta a analista do banco alemão.

As preocupações quanto aos stocks alastram-se também ao milho. Os futuros estão a subir 2,09%, para 740,12 dólares, tocando máximos de oito meses, enquanto o preço da soja valoriza 1,51%, para 1.702,75 dólares, negociando em máximos de 2012.

Contudo, há quem considere que a maior preocupação neste momento tem a ver com o óleo de girassol. Conhecida pelos enormes campos de girassol, a Ucrânia é o maior exportador mundial de grãos e óleo de girassol do mundo.

“A situação do mercado mundial de óleo é muito tensa. Há pouco stock de óleo de soja na América Latina e de óleo de palma na Indonésia e na Malásia e a procura é muito forte“, explica Sebastien Poncelet, especialista da Agritel, citado pela AFP.

A guerra não está apenas a destruir territórios usados para plantações agrícolas. Está também a afetar a produção agrícola de várias formas, obrigando ao encerramento de várias instalações (como um terminal de grãos perto de Odessa), contribuindo para um aumento do preço do gás natural (componente importante dos fertilizantes) e interrompendo o transporte de cargas naqueles países, especialmente na zona do Mar Negro.

Nos metais, as valorizações são semelhantes. De acordo com a Capital Economics, citada pela AFP, os metais “mais expostos” a esta invasão russa são o alumínio, o níquel e o paládio, embora os efeitos também se sintam nos principais. O alumínio está a disparar 4,85% para 3.742 dólares, o valor mais alto de sempre, e só este ano os preços já subiram mais de 30%. Importa referir que o grupo russo Rusal é o segundo maior produtor deste metal.

Evolução do preço do alumínio, que está em máximos de sempre.Investing

O preço do níquel está a avançar 9,06%, para 28.218,50 dólares, enquanto o paládio cresce 3,44%, para 2.756,52 dólares. O ouro está a subir 0,57%, para 1.933,30 dólares, a cotação mais alta desde setembro de 2020, uma subida explicada pelas qualidades de ativo de refúgio atribuídas pelos investidores ao metal precioso.

A prata valoriza 1,06%, para 25,457 dólares, um máximo de julho de 2021, e o cobre avança 2,26% para 4,771 dólares, que é um máximo de sempre.

Ainda nas commodities, a guerra está a ter efeitos nos preços do petróleo, que estão em máximos de mais de uma década. O barril de Brent está a valorizar 2,44%, para 115,68 dólares, mas já esteve a cotar nos 119,78 dólares esta sessão, um máximo de fevereiro de 2011. Em simultâneo, o WTI em Nova Iorque está a subir 2,41% para 113,27 dólares, mas já esteve a negociar nos 116,5 dólares, um preço que já não era visto desde agosto de 2008.

O desempenho do gás natural também é semelhante, com o preço a disparar cerca de 10% para 182 euros por MWh. Isto depois de um recorde de 195 euros por MWh registado esta quarta-feira.

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