Conselho Económico e Social avança com estudo sobre o vício da raspadinha

  • Lusa
  • 18 Maio 2022

O presidente do CES tinha manifestado há mais de um ano a intenção de promover o estudo, mas a pandemia da Covid-19 e a falta de meios financeiros foram adiando a sua concretização.

O Conselho Económico e Social (CES) vai avançar com o estudo sobre o vício da raspadinha, assinando esta quarta-feira um protocolo de cooperação com os dois responsáveis pela investigação e as quatro entidades financiadoras do projeto.

O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, tinha manifestado há mais de um ano a intenção de promover o estudo, mas a pandemia da Covid-19 e a falta de meios financeiros foram adiando a sua concretização. “Aqui há responsabilidades públicas (…) e é preciso pôr a ciência a trabalhar nisto”, disse Francisco Assis, falando das consequências sócio económicas do vício da raspadinha, na apresentação do Estudo “Quem Paga a Raspadinha”, que o CES promove em parceria com a Universidade do Minho.

Com a assinatura de um protocolo de cooperação entre o CES, os docentes e investigadores da Universidade do Minho Pedro Morgado e Luís Aguiar-Conraria e as quatro entidades que se disponibilizaram para financiar o estudo, estão reunidas as condições para iniciar a primeira fase do projeto.

Luís Aguiar-Conraria explicou à agência Lusa que o estudo será desenvolvido em três fases, destinando-se a primeira a fazer a caracterização sócio-económica de quem joga raspadinha, através de um inquérito a toda a população, com base numa amostra de 2.000 pessoas. “Com esta primeira fase pretendemos saber quem tem problemas com este jogo”, disse.

A segunda e a terceira fases do estudo “são inéditas”, segundo o investigador, porque focam-se nas pessoas que jogam a raspadinha e usam métodos diferentes para chegar a um diagnóstico, nomeadamente fazendo ressonâncias magnéticas às pessoas com processos complexos de dependência.

Aguiar-Conraria não quis adiantar uma previsão para o trabalho estar pronto, mas disse que cada fase deverá levar “alguns poucos meses”.

Francisco Assis falou da ideia deste estudo após o anúncio da criação de uma nova raspadinha para financiar a recuperação do património cultural, dado que vários investigadores alertaram para as consequências negativas deste tipo de jogo, com um alto grau de adição por ser um jogo acessível, fácil de jogar, barato e ter um resultado instantâneo.

Segundo o CES, existem indícios de uma maior prevalência junto das classes mais desfavorecidas e das camadas mais frágeis da sociedade.

A apresentação dos objetivos e metodologia do estudo “Quem Paga a Raspadinha” será feita por Pedro Morgado e Luís Aguiar-Conraria, a par da assinatura do protocolo de cooperação que dará início à investigação. “Este estudo vai ser feito com total independência e tudo isto pode ser desmentido. Mas se se concluir que se trata de uma situação de saúde mental, é preciso ser divulgado (…) e tenho a expectativa de que algumas decisões sejam tomadas”, disse Assis.

Em 2018, os portugueses gastaram perto de 1,6 mil milhões de euros em raspadinhas – 4,4 milhões por dia – o que equivale a 160 euros por pessoa. No mesmo ano, em Espanha foram gastos cerca de 600 milhões, o que representa cerca de 14 euros por pessoa.

Portugal é o país da Europa com maior gasto per capita em raspadinhas, o que representa mais do dobro da média europeia.

Em 2019, a receita com a raspadinha cresceu 7,8% face ao ano anterior, atingindo 1.718 milhões de euros. A raspadinha representa mais de 50% da receita de Jogo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Francisco Assis foi eleito presidente do CES pela primeira vez em 10 julho de 2020 e reeleito pelos deputados da Assembleia da República a 29 de abril, tendo desde o início defendido um papel mais ativo deste Conselho na produção de estudos relacionados com temas que carecem de debate na sociedade.

Há uma semana, quando tomou posse de novo, o presidente defendeu ainda a necessidade de reforço dos meios do CES para a produção de pareceres e estudos, de modo a concentrar nesta entidade “a administração consultiva”, que considerou estar muito dispersa.

(atualizado às 20h51 com declarações de Francisco Assis)

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