Ligação às empresas ajuda a libertar a Cultura de subsídios do Estado

Necessidade de turismo cultural em Portugal e aposta no financiamento da cultura pelas empresas são duas das apostas de Ana Ventura Miranda, do Arte Institute, para subsistência da arte nacional.

No ano anterior à pandemia, as empresas culturais e criativas geraram receitas totais de 6,9 mil milhões de euros. Mas este valor poderia ser muito maior se houvesse uma estratégia para as artes menos dependente dos subsídios do Estado e mais próxima das empresas. Também falta a Portugal apostar no turismo cultural e em usar a arte como forma de captar investimento.

A mudança de atitude é defendida por Ana Ventura Miranda, fundadora do Arte Institute – entidade independente de promoção da arte e cultura no estrangeiro com sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e que conta com o financiamento de entidades privadas.

Se a cultura começar a oferecer contrapartidas que tirem despesa às empresas, isso pode funcionar muito bem, em vez de estarem a comprar esses serviços às empresas de recursos humanos“, propõe, em entrevista ao ECO, Ana Ventura Miranda. A divulgadora lembra que “as ações de team building não são pedidas aos artistas, que podem e devem estar capacitados para fazerem esse tipo de formações”.

Em troca, as empresas podem ensinar as companhias de arte “a tratarem de questões ligadas à contabilidade, a saberem fazer propostas para o mercado e a explicarem qual é o seu impacto para a economia”.

Se a cultura começar a oferecer contrapartidas que tirem despesa às empresas, isso pode funcionar muito bem, em vez de estarem a comprar esses serviços às empresas de recursos humanos

Ana Ventura Miranda

Fundadora do Arte Institute

Ana Ventura Miranda acredita que isto não acontece porque “a classe artística ainda tem o mito que, ao oferecer estes serviços, está a vender-se às empresas“. Usando os mais de 10 anos de experiência como exemplo, a divulgadora diz que “nunca houve qualquer interferência das empresas na parte artística”.

Ao haver maior ligação entre empresas e artistas, “sobra mais orçamento para que peças mais independentes possam ser subsidiadas” pelo Estado, sustenta a ex-atriz e produtora.

Cultura para captar turismo e empresas

Depois do recorde de 23 milhões de turistas em 2019, os últimos dois anos foram marcados por fortes quedas neste mercado. A Covid-19 também penalizou artistas, produtores e milhares de trabalhadores que, sem espetáculos, foram obrigados a ficar em casa e praticamente sem apoios.

Para acelerar a recuperação do mercado, o Arte Institute vai realizar, entre 17 e 25 de junho, a quarta edição do RHI_Think, iniciativa para repensar a cultura e promover debates na área em 12 cidades portuguesas. RHI é o acrónimo que reúne as palavras revolução, esperança (hope) e imaginação. A iniciativa inclui atuações de artistas portugueses, que serão apresentadas a programadores internacionais.

Portugal não é conhecido pelo turismo cultural. O Brasil tem alegria, felicidade, samba e música, tudo positivo e que o ajuda a vender-se. Só depois se pensa sobre a violência. A arte é muito subconsciente e leva as pessoas a irem gostando de um país. É um motor para atrair investimento”, assinala Ana Ventura Miranda.

Portugal não é conhecido pelo turismo cultural. O Brasil tem alegria, felicidade, samba e música, tudo positivo e que o ajuda a vender-se. Só depois se pensa sobre a violência. A arte é muito subconsciente e leva as pessoas a irem gostando de um país. É um motor para atrair investimento

Ana Ventura Miranda

Fundadora do Arte Institute

A responsável lamenta também que não haja uma estratégia concertada entre a agência de investimento AICEP, embaixadas e entidades culturais para captar investimento. “É pouco promovida a ligação entre arte e negócio na vertente da diplomacia económica e cultural. Não houve ainda qualquer Governo que sentasse à mesa os três setores e tentasse fazer uma experiência a sério. Isso teria retorno”, acredita a divulgadora.

Ana Ventura Miranda espera que a pandemia “tenha servido como um despertador para uma nova realidade” e que o Governo passe a “adotar medidas de capacitação para os agentes culturais”. Só assim, acredita a fundadora do Arte Institute, a cultura poderá gerar muito mais valor a Portugal sem comprometer a criatividade e a independência.

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