“É preciso ter a coragem de agir mesmo quando não temos a informação toda”, diz Lagarde
"Não podemos ser dominados por temas orçamentais ou financeiros", afirmou a presidente do Banco Central Europeu numa conferência da London School of Economics.
“As crises nunca são iguais. É preciso ter a coragem de agir mesmo quando não temos a informação toda“, afirmou Christine Lagarde no dia em que o BCE anunciou a preparação de uma ferramenta “anti-fragmentação” para lidar com a forte subida das taxas de juro da dívida dos países periféricos da Zona Euro, após a realização de uma reunião extraordinária.
“Não podemos ser apenas audazes, temos também de ser consistentes“, assinalou também a presidente do BCE durante um discurso num evento promovido pela London Schoof of Economics and Political Science.
“Os responsáveis políticos ganharam uma indesejada área de especialidade: gerir crises, uma atrás da outra. Todas juntas são uma grande montanha para subir. Primeiro a crise financeira, depois a crise da dívida soberana, depois a pandemia e agora a guerra na Ucrânia“, referiu a presidente do BCE. Lagarde partilhou que tem uma placa na secretária, oferecida pelos colaboradores, que diz: “Não posso marcar uma reunião esta semana. Há uma nova crise para resolver”.
“Há qualidades que distinguem a boa política. Coragem, consistência e compaixão. Os que me conhecem bem sabem que uso frequentemente esta aliteração de ‘Cs'”, sublinhou a responsável pela política monetária na Zona Euro. “Não existem decisões perfeitas, mas as decisões tomadas com base nestes ‘Cs’ provavelmente estão certas”, acrescentou. Sublinhou também a importância de saber mudar de opinião quando necesário.
Na conversa que se seguiu com o presidente do Standard Chartered, José Viñals, Lagarde salientou que “o conflito na Ucrânia mostra que a Europa estava demasiado dependente de fornecedores hostis como a Rússia” e que é necessária uma diversificação, nomeadamente de matérias-primas energéticas.
Mostrou também que é necessário acelerar a transição energética, apesar do impacto que poderá ter na inflação. “No curto prazo vai aumentar o nível dos preços, mas a longo prazo vai baixá-los”, argumentou. A guerra na Ucrânia significa também que “muitos países terão falta de cereais num futuro não muito distante”.
A resposta à crise tem de ser feita pelos bancos centrais e pelos governos. “Na década que se seguiu à crise financeira global, os bancos centrais tiveram de assumir um fardo muito pesado, que cabia também à política orçamental”, considerou a presidente do BCE.
Algo que mudou na última década. Lagarde deu como exemplo a união dos governos europeus na criação do NextGenerationEU (a bazuca europeia) e de programas como o SURE. “Foi uma rutura com os dez anos anteriores em que os bancos centrais tiveram que fazer tudo”, disse. “Cada instituição terá de cumprir a sua missão. Nós não podemos ser dominados por temas orçamentais ou financeiros. Temos de cumprir o nosso mandato que é o de uma inflação de 2% no médio prazo”.
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