ASF alerta para subida dos riscos de crédito e de mercado
O supervisor avisa que aumentaram os riscos no setor segurador, com o crédito e o mercado ainda mais expostos e os riscos macroeconómicos a permanecerem no “vermelho”.
Os riscos que afetam a indústria seguradora mantêm-se muito influenciados pela evolução da situação económica global, nomeadamente pela incerteza que caracteriza o contexto geopolítico e a volatilidade que atinge os mercados financeiros, revela o Painel de Riscos do Setor Segurador da ASF respeitante ao primeiro semestre de 2022.
Os principais riscos identificados no relatório da entidade de supervisão conservam uma tendência ‘estável’, sendo que esta não constitui propriamente uma boa notícia, já que os riscos macroeconómicos se mantêm no ‘vermelho’, ou seja, apresentam um nível ‘alto’, ao passo que os de liquidez e de rendibilidade e solvabilidade parece ter estacionado num nível ‘médio-baixo’. Os riscos específicos relativos aos seguros de Vida e Não Vida conservam um nível médio-alto.
Carteiras de investimento podem desvalorizar
Já os riscos de crédito e de mercado mostram uma tendência ascendente, com o primeiro a atingir um nível médio-alto em junho de 2022 e o segundo a passar de ‘médio-alto’ para ‘alto’ em março deste ano. A tendência para o ajustamento destes riscos ‘em alta’ tem a ver com a evolução dos mercados financeiros, em que a incerteza geopolítica se traduziu num acréscimo de volatilidade, que está a implicar uma correção descendente dos preços nos mercados obrigacionista e acionista. “Apesar dessa correção, a probabilidade de reavaliação em alta dos prémios de risco dos emitentes soberanos e privados tem aumentado, o que poderá impactar diretamente as empresas de seguros por via de uma desvalorização das suas carteiras de investimentos”, admite o documento da ASF.
O ambiente de incerteza, que chegou com a pandemia e se renovou e acentuou com o contexto geopolítico que decorre da guerra na Ucrânia, com um duplo impacto: sobre o nível de crescimento económico e a inflação e sobre os mercados financeiros, “cujo efeito tende a repercutir-se na evolução da massa segurável e na valorização das carteiras e na gestão de ativos do setor”, como assinala a ASF.
As pressões inflacionistas são criadas pela elevação generalizada dos preços globais da energia e das matérias-primas, com realce para os bens alimentares. A inflação é, mês após mês, revista em alta. No final de maio a inflação medida em termos homólogos, ou seja, comparando a evolução dos preços do cabaz de referência em maio deste ano, com os preços dos mesmos produtos em igual mês de 2021, atingiu 8,1%, quer na Zona Euro como em Portugal. Os constrangimentos sobre as cadeias de produção, primeiro, afetadas pelas disrupções causadas pela pandemia e, agora, por aquelas que decorrem do conflito no leste europeu, deverão refletir-se na desaceleração da economia portuguesa e, em geral, nas economias da Zona Euro.
Acresce que o elevado grau de endividamento público e privado com que se debatem alguns países da chamada ‘periferia’ do Euro, como é o caso de Portugal, coloca preocupações acrescidas aos orçamentos nacionais (embora nominalmente a receita pública seja beneficiada pela inflação), com as taxas de juro a subir, tornando mais caro o serviço da dívida, e o Banco Central Europeu (BCE) hesitante quanto às medidas a tomar, pois a subida dos juros para conter a inflação terá também como efeito abrandar ainda mais a economia. Em todo o caso, o BCE, impelido pela inflação para uma política monetária mais restritiva, garante medidas monetárias de apoio aos países mais endividados, tendo já anunciado ferramentas específicas para lidar com a situação.
Riscos de liquidez, rendibilidade e solvabilidade baixos
“Quanto aos riscos de liquidez, estes mantiveram-se, no final do primeiro trimestre de 2022, no nível médio-baixo, destacando-se a melhoria do rácio de entradas sobre saídas em 14,8 pontos percentuais, para 125,6%, evolução que reflete, essencialmente, a recuperação do rácio do conjunto das empresas que operam no ramo Vida. Também os riscos de rendibilidade e solvabilidade permaneceram classificados no nível médio-baixo, com o rácio global de cobertura do requisito de capital de solvência a fixar-se em 206,5%”, refere o relatório da ASF.
Riscos de Vida e Não Vida
Os riscos específicos que afetam os dois grandes ramos seguradores, Vida e Não Vida, mantêm-se estáveis desde o final de 2021, embora se situem num patamar elevado (‘médio-alto’). “No que concerne aos riscos específicos do ramo Vida, a produção anualizada do ramo manteve uma tendência ascendente, com um aumento em cadeia de 7,3%, atingindo um volume total de prémios brutos emitidos anualizados na ordem do observado em 2019”, revela o documento. De acordo com a ASF esta recuperação ficou a dever-se ao fato de alguns operadores terem reestruturado a sua oferta, privilegiando o segmento de seguros de Vida ligados a fundos de investimento. Todavia estes produtos encontram-se expostos aos riscos de potenciais perdas, num contexto de incerteza e volatilidade dos mercados financeiros.
Já a produção anualizada do conjunto dos ramos Não Vida aumentou em cadeia 2,1%, sendo que o custo dos sinistros cresceu a um ritmo superior, traduzindo um ligeiro acréscimo das taxas de sinistralidade, com exceção do grupo de ramos de Incêndios e Outros Danos. É de admitir que as pressões inflacionistas “se possam repercutir negativamente nas linhas de negócio mais expostas à inflação nos respetivos custos sobre sinistros, enquanto a desaceleração do crescimento económico poderá condicionar a capacidade de geração de novo negócio, motivando assim a manutenção desta categoria de riscos no nível médio-alto”, refere o documento.
A ASF detalha, no seu painel, os diferentes níveis de risco para as classes abordadas: macroeconómica, crédito, mercado, liquidez, rendibilidade e solvabilidade, interligações, seguros de Vida, seguros Não-Vida. Para cada uma das classes é classificado e explicado o nível de risco e a tendência identificada.
O painel de riscos do setor segurador português, de publicação trimestral, é uma das ferramentas utilizadas pela ASF para a identificação e mensuração dos riscos e vulnerabilidades do setor na perspetiva da preservação da estabilidade financeira.
O painel de riscos da ASF no fim 1º semestre apresenta-se assim:
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