Gentiloni confia em “bom desempenho” português mas pede cautela na dívida

  • Lusa
  • 14 Julho 2022

Em entrevista à Lusa, o comissário europeu para a Economia diz que se está a assistir a um "extraordinário relançamento" do turismo, o que é uma "boa notícia" para um país com Portugal.

A Comissão Europeia diz confiar no “bom desempenho” orçamental de Portugal, mas pede cautela relativamente à elevada dívida devido ao “impacto permanente no orçamento” de medidas para apoiar as famílias devido à atual crise energética.

O que recomendamos aos países com elevada dívida é que não ignorem a necessidade de amortecer o impacto da crise energética, mas recomendamos que utilizem da melhor forma as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR], para ter espaço para expansão e investimento, e que sejam prudentes com as nossas outras ferramentas, especialmente [porque] as despesas correntes têm um impacto permanente no orçamento”, declara o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus, em Bruxelas.

“Devo dizer que Portugal teve, nestes anos, um bom desempenho e estou confiante que este bom desempenho continuará também nos próximos anos, no que toca às finanças públicas”, acrescenta o responsável. A posição surge no dia em que a Comissão Europeia reviu em alta de 0,7 pontos percentuais o crescimento do PIB português para este ano, para 6,5%, colocando o país como o que regista a maior expansão, segundo as previsões macroeconómicas hoje divulgadas.

De acordo com Paolo Gentiloni, os Estados-membros da UE, principalmente os que têm dívidas públicas mais elevadas, como Portugal, devem conter “este impacto com medidas tomadas de forma direcionada e temporária, significando que visam os agregados familiares mais vulneráveis e evitando introduzir coisas que depois não são capazes de cancelar após seis meses”.

Ainda assim, o responsável europeu pela tutela da Economia reconhece ser “importante para amortecer o impacto social desta crise”. Já questionado pela Lusa sobre eventuais atrasos no Plano português de Recuperação e Resiliência, instrumento que vê como uma alternativa para as metas ‘verdes’ e como apoio para enfrentar a crise energética, Paolo Gentiloni diz que “a perfeição é impossível”.

“De um modo geral, olhamos para o cumprimento de metas e marcos [relativamente ao PRR] formalmente quando recebemos pedidos de desembolso, então, substancialmente, temos contacto contínuo com os nossos serviços e as autoridades que estão a trabalhar nos planos”, refere, destacando ainda assim o “compromisso real de diferentes governos” face ao pacote da recuperação pós-crise da covid-19.

Até agora, Bruxelas já deu ‘luz verde’ ao PRR de 25 países da UE, num total de mais de 100 mil milhões desembolsados. O PRR português tem uma verba total de 16,6 mil milhões de euros.

A Comissão Europeia considera ainda que a retoma antecipada do turismo internacional é “boa notícia” para Portugal, lembrando que cabe às autoridades nacionais gerir os problemas causados pela elevada pressão nos aeroportos europeus, como no de Lisboa.

Do ponto de vista do fluxo turístico, o que vemos é um extraordinário relançamento, não do turismo em si, porque o turismo em si também foi bastante forte na época de verão anterior, mas do turismo internacional e também o turismo intercontinental, e, claro, isto significa que, para países fortemente dependentes no turismo internacional, esta é uma boa notícia”, indica o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus, em Bruxelas.

No dia em que o executivo comunitário divulga as suas previsões económicas de verão, que apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal em 6,5% este ano, o maior da zona euro e da União Europeia, o responsável admite também que “o setor de aviação está sob pressão, em muitos casos devido à falta de pessoal”, salientando que “estas dificuldades devem ser abordadas pelas autoridades [nacionais]” e que à Comissão Europeia cabe “analisar o problema”.

Não estou, obviamente, a negar as dificuldades e os problemas que podemos ter nas viagens, mas estou a dizer que os números que temos, e que também fazem parte das nossas previsões económicas – por exemplo para Portugal, que é uma economia tipicamente muito ligada ao turismo internacional – é que o fluxo turístico internacional é muito forte e a dimensão da procura internacional muito mais forte do que no ano anterior”, elenca Paolo Gentiloni.

Após o impacto acentuado da covid-19 no setor das viagens, o comissário europeu da Economia lembra que “a reabertura total do mercado global de viagens não está completa”, mas destaca que “a vontade de reabrir para viajar também em voos intercontinentais é muito, muito forte e está na base das dificuldades mencionadas”.

“A procura é muito forte do turismo internacional e penso que esta procura terá consequências positivas e é uma das razões pelas quais estimamos que o crescimento português este ano seja bastante elevado”, conclui, nesta entrevista à Lusa e outros meios europeus em Bruxelas.

Gentiloni admite que inflação esteja perto do pico e rejeita “catástrofe” no PIB

O comissário europeu da Economia admite que a inflação esteja perto do pico na União Europeia (UE) e na zona euro, com as economias comunitárias a enfrentarem uma “situação desafiante” que, porém, “não é de catástrofe”.

“Penso que o que é crucial agora é gerir a inflação, que atingirá o pico nestes meses, de acordo com as nossas estimativas. Nestes meses de verão, alcançaremos o pico e a inflação poderá começar a diminuir na última parte deste ano, trazendo-a, no próximo ano, para mais ou menos metade do nível deste ano”, afirma Paolo Gentiloni.

O responsável europeu pela tutela afirma que a UE e a zona euro estão perto de “vivenciar o pico e, depois, haverá uma diminuição gradual e não repentina”.

Estamos, de facto, numa situação desafiante, mas não estamos neste momento em recessão e penso que deveríamos repetir sempre isto porque há ainda espaço para catástrofes, já que […] poderíamos ter mais riscos”, afirma Paolo Gentiloni, nesta entrevista à Lusa e outros meios europeus.

De acordo com o comissário europeu, “a situação é desafiante porque o crescimento é mais baixo, muito mais baixo, do que se esperava há seis meses atrás devido à invasão da Ucrânia, e isso desencadeia também outras tendências do quadro económico”.

Ainda devido à guerra da Ucrânia, causada pela invasão militar russa em fevereiro passado, a UE teme agora uma rutura total do fornecimento de gás pela Rússia no próximo inverno, com Paolo Gentiloni a avisar que este eventual corte “pode abrandar ainda mais o crescimento e pode trazê-lo em território negativo”.

A Comissão Europeia apresenta, na próxima semana, um plano de emergência para garantir gás no próximo inverno perante eventual corte de abastecimento por parte da Rússia, visando que a União Europeia (UE) esteja “preparada para o pior”.

A informação é divulgada pelo comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, no dia em que as previsões macroeconómicas do executivo comunitário, hoje publicadas, admitem que um eventual corte de gás russo à Europa possa vir a acentuar inflação e a asfixiar o crescimento económico.

“Na próxima semana, apresentaremos as nossas propostas para o que chamamos de preparação para o inverno, dado que esta não é apenas uma estação do ano, mas também pelo risco que acarreta” a eventual rutura de fornecimento energético da Rússia, anuncia Paolo Gentiloni, em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus, em Bruxelas. “Evidentemente, esperamos que isto não se concretize, mas temos de nos preparar”, acrescenta.

Em causa está um plano de emergência europeu para precaver um eventual corte total de fornecimento de gás russo. “Vejo um quadro geral de uma UE a tentar preparar-se para o pior e é claro, se o pior acontecer – e não estamos na mente do Presidente [russo], Putin, para saber se isso irá acontecer – isso irá afetar, em diferentes níveis, muitos países europeus e penso que devemos reagir com um nível de solidariedade ainda mais forte”, adianta Paolo Gentiloni.

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