Repercussão no aumento dos preços nos produtos da Adega Mayor foi de “4% a 5%”

  • Lusa
  • 7 Agosto 2022

"Tivemos de fazer já alguns aumentos, ainda que consigamos comportar" uma parte dessa subida e, "se calhar, sacrificar alguma parte da margem", salienta Rita Nabeiro.

A repercussão do aumento dos preços nos produtos da Adega Mayor foi “à volta dos 4%, 5%” este ano, mas não foi transversal a todas as gamas, diz em entrevista à Lusa a presidente executiva, Rita Nabeiro.

A Adega Mayor cumpriu em 15 de junho 15 anos, num ano marcado pela guerra na Ucrânia, a inflação galopante, taxas de juro a subir, que afetam a confiança dos consumidores. Questionada sobre se a Adega Mayor já está a refletir nos preços esta conjuntura, a empresária confirmou que sim. “Tivemos de fazer já alguns aumentos, ainda que consigamos comportar” uma parte dessa subida e, “se calhar, sacrificar alguma parte da margem”, salienta.

Mas uma coisa é certa, “tudo o que seja vidros, garrafas, produção de energia, são impactos enormes, além do impacto da não entrega nos ‘timings’ acordados e que isso, obviamente, pode ter impacto naquilo que é a própria disponibilidade do produto” no mercado, prossegue a presidente executiva. “Rótulos, tudo o que é cartão, tudo o que é papel, a parte energética, tudo isto está a ter impacto, por isso temos de ser cautelosos”, admite a gestora.

Questionada sobre a repercussão do aumento dos preços nos produtos, Rita Nabeiro sublinha que “não foi transversal a todas as gamas” e “andou à volta dos 4%, 5%”. Rita Nabeiro vê com preocupação a guerra na Ucrânia, nomeadamente do ponto de vista “humano” e por considerar que isto pode ser “muito o início”.

“Acredito que Portugal, neste momento, está a beneficiar do facto de estar num dos extremos da Europa, no extremo oposto onde está a acontecer a guerra, temos cada vez mais estrangeiros a querer residir em Portugal, temos inclusivamente o regresso do turismo e isso também está a fazer com que o consumo volte a níveis de pré-pandemia”, afirma a empresária.

Questionada sobre quanto aumentou o custo de energia, a empresária diz não poder quantificar isso este ano, mas poderá andar à volta dos dois dígitos. Em 2021, “conseguimos reduzir os custos energéticos em cerca de 8%, para 2022 as perspetivas não são positivas e estimamos um aumento que não conseguimos ainda quantificar”, afirma.

“Vamos sentir particularmente isso agora no período da vindima”, nomeadamente “porque temos todo o arrefecimento das cubas, que exige uma capacidade energética maior, e aí há um consumo maior”, acrescenta.

Entre os desafios futuros estão o dos recursos hídricos, que “já o era, é pena que só falemos desses temas quando entramos de facto em crise”, lamenta. Esse desafio, por exemplo, “tem a ver muito com aquilo que é o planeamento ou permissão do que é determinado tipo de culturas” e “algumas dessas culturas até são mais absorventes do que a vinha”, prossegue a empresária, dando exemplos.

“Estamos a entrar por um tipo de registo de intensivo e super intensivo e amanhã vamos ter saudades de ver o Alentejo com o seu montado e com aquilo que de facto tanto o caracteriza”, alerta, defendendo que é preciso “haver equilíbrio”. Ou seja, “não sou contra que possa haver outro tipo de culturas, mas tem que haver esse equilíbrio”, reforça Rita Nabeiro.

“Faz-me muita confusão como é que um produtor como nós não tem tido possibilidade, nos últimos anos, de ter direitos para plantação de um hectare de vinha que seja, mas ao meu lado tenho hectares e hectares de perder de vista de amendoal intensivo e olival intensivo, há aqui um desequilíbrio”, aponta a empresária, que diz compreender, mas sublinha que lhe “custa aceitar”.

“Fala-se de barragens, mas se não chove não vai haver água nas barragens, Portugal já devia estar a começar a implementar soluções como a dessanilização”, defende a presidente executiva da Adega Mayor. Já “há muito tempo que defendo que, mesmo eventualmente com os custos que tenham, mas olhando para países como Israel que já o faz há muito tempo” avançar para a dessanilização.

Tal “não resolve o problema, é verdade, mas nós também não vamos conseguir resolvê-lo de outra forma, mitiga pelo menos uma parte dos impactos”, argumenta, porque a escassez de água acaba por levar, normalmente primeiro, ao corte nas culturas, “mas é essa agricultura que também faz mover a economia local”.

E se a economia local deixar de existir, “deixamos de ter pessoas, há uma desertificação agrícola e humana do território e acho que se tem de pensar em modelos diferentes de se fazer as coisas”, considera. As alterações climáticas são “um grande desafio para todos nós”, em particular “com quem trabalha com o setor agrícola”, remata Rita Nabeiro.

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