Portugal paga mais 63% para emitir 780 milhões em dívida a dez anos

O Tesouro pagou juros mais altos para colocar 1.250 milhões de euros em dívida a dez e quatro anos esta quarta-feira. A procura foi mais baixa.

Portugal voltou a pagar mais para se financiar no duplo leilão realizado esta quarta-feira de manhã, em que colocou 1.250 milhões em obrigações a quatro e a dez anos. No caso destas últimas, o custo de financiamento disparou mais de 60% face a abril.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) reabriu a linha a 10 anos (OT 1,65% 16 jul 2032) para colocar mais 780 milhões de euros. A taxa de rentabilidade (yield) foi fixada em 2,754%, o que compara com os 1,694% conseguidos na operação sindicada em que a linha foi aberta, a 6 de abril, com a colocação de 3.000 milhões de euros. O que significa que entre a data da primeira colocação e esta quarta-feira o custo de financiamento aumentou 63%.

O leilão comparável mais recente com aquela maturidade foi realizado em junho, quando foram colocados 750 milhões com uma taxa média de 2,33%. Em cerca de três meses, o custo de financiamento subiu 38%. A média das últimas quatro operações é de 1,012%, segundo dados da Reuters.

Foi também reaberta a linha com maturidade em julho de 2026 (OT 2,875% 21jul2026) para uma emissão a quatro anos, tendo sido colocados 470 milhões de euros a uma taxa média de 1,777%. Segundo a Reuters, o último leilão comparável data de 22 de julho de 2020, quando o Tesouro emitiu 430 milhões a uma taxa implícita de -0,108%.

O IGCP faz a comparação, no entanto, com uma operação a cinco anos, realizada em março, em que pagou 0,217% para emitir 500 milhões de euros.

O aumento do encargo com juros a suportar nas duas emissões reflete também uma menor procura por parte dos investidores. O montante das ordens de compra no leilão de títulos a 10 anos superou em 1,72 vezes o valor disponível, o que compara com 2,68 vezes na operação anterior. Na emissão a quatro anos, a diferença é quase inexistente, com 2,02 vezes contra 2,04 vezes no leilão anterior.

"A inflação tem continuado a surpreender em alta, o que fez com que os bancos centrais iniciassem um movimento de subida de taxas mais agressivo. Este efeito tem levado a um rápido ajuste nas yields de todas as maturidades das dívidas soberanas.”

Filipe Silva

Diretor de Investimentos do Banco Carregosa

O agravamento do custo de financiamento no leilão realizado esta quarta-feira traduz a subida das yields exigidas no mercado secundário, empurradas para cima pelo aumento das taxas diretoras pelo BCE. O banco central da Zona Euro acabou em junho com os juros negativos e a semana passada anunciou um incremento histórico de 75 pontos base.

Após a reunião do Conselho do BCE, na semana passada, a presidente, Christine Largarde afirmou que a Zona Euro ainda está “longe da taxa que levará a inflação a regressar ao objetivo de médio prazo de 2%”. Os economistas estimam que o banco central possa elevar a taxa de referência até aos 2,5%, ou até mais, nos próximos meses.

“A inflação tem continuado a surpreender em alta, o que fez com que os bancos centrais iniciassem um movimento de subida de taxas mais agressivo. Este efeito tem levado a um rápido ajuste nas yields de todas as maturidades das dívidas soberanas. A título comparativo, Portugal em maio tinha emitido dívida a 8 anos com uma yield de 1,767% e hoje para um prazo inferior, 4 anos a yield foi de 1,777% e superior”, afirmou Filipe Silva, do Banco Carregosa, num comentário à emissão.

“Sabemos que os bancos centrais vão estar a tomar decisões reunião a reunião e com base nos dados que forem sendo divulgados. É certo que iremos continuar a ter volatilidade, pelo menos até à rubrica da inflação estabilizar. Para os emitentes e neste caso Portugal, iremos ter custos de refinanciamento mais elevados“, acrescentou o diretor de investimentos do Banco Carregosa.

(Notícia atualizada às 11h15)

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