Lagarde aponta para mais subidas dos juros: “Estamos longe da taxa que levará a inflação para os 2%”

Presidente do BCE admite que inflação poderá subir mais nos próximos meses. Economia vai registar "abrandamento significativo".

A presidente do Banco Central Europeu deixou claro que vêm aí várias subidas nos juros. Mesmo depois do incremento de 75 pontos base desta quinta-feira, as taxas estão longe do necessário para trazer a inflação para o objetivo do banco central, avisou.

Acreditamos que estamos longe da taxa que, esperamos, levará a inflação a regressar ao objetivo de médio prazo de 2%”, afirmou Christine Lagarde na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de política monetária desta quinta-feira.

“Estando tão longe da taxa que nos permitirá levar a inflação para os 2%, os nossos aumentos têm de ser atempados e de uma magnitude que nos leva para mais perto e mais depressa para aquela meta. À medida que nos aproximarmos dela os aumentos serão mais pequenos”, acrescentou.

Questionada sobre qual poderá ser a “taxa terminal”, equivalente ao topo do ciclo de subida dos juros, a presidente do BCE não quis dar um número. “Estamos a concentrar a subida no início do ciclo [frontloading] e vamos continuar a subir as taxas reunião a reunião, com base nos dados“.

A presidente do banco central deixou, no entanto, um horizonte temporal: “Serão provavelmente mais de duas reuniões, incluindo esta. Mas provavelmente serão também menos do que cinco. Deixo-vos a vocês para decidir se serão três, quatro ou cinco”, disse aos jornalistas.

Christine Lagarde afirmou também que a inflação poderá subir mais nos próximos meses e que a economia vai registar “abrandamento significativo”, mas não fala em recessão.

“Os preços a disparar nos bens alimentares, pressões da procura em alguns setores devido à reabertura da economia e constrangimentos nas cadeias de abastecimento ainda estão a puxar a inflação para cima. As pressões sobre os preços continuam a crescer e a estender-se a toda a economia e a inflação pode subir mais no curto prazo”, afirmou Christine Lagarde.

É ainda um fenómeno predominantemente provocado pela oferta. Eu não posso reduzir o preço da energia, eu não posso convencer o grande player deste mundo a reduzir os preços do gás, não posso restruturar o mercado de eletricidade.

Christine Lagarde

Presidente do BCE

A responsável reconheceu que o BCE tem dificuldade em baixar a inflação tendo em conta a natureza que ela assume no atual contexto. “É ainda um fenómeno predominantemente provocado pela oferta. Eu não posso reduzir o preço da energia, eu não posso convencer o grande player deste mundo a reduzir os preços do gás, não posso restruturar o mercado de eletricidade. Fico muito satisfeita ao ver que a Comissão Europeia está a considerar medidas para este efeito”,

“Se a causa é predominantemente da oferta e dos preços da energia que continuam a disparar, isso é um trabalho para outros. Nós vamos fazer o nosso”, garantiu.

Christine Lagarde deixou ainda um recado aos governos. “As medidas de apoio fiscal para amortecer o impacto dos preços mais altos da energia devem ser temporárias e direcionadas às famílias e empresas mais vulneráveis, para limitar o risco de alimentar pressões inflacionárias, aumentar a eficiência dos gastos públicos e preservar a sustentabilidade da dívida”.

Recessão de 0,9% em 2023 no cenário pessimista

A presidente do BCE sublinhou ainda que “os dados mais recentes apontam para um abrandamento significativo da economia da Zona Euro, com a economia a estagnar mais para o fim do ano e no primeiro trimestre de 2023″. Este é o cenário base, mas o pessimista admite uma contração de 0,9% no próximo ano, assinalou. Este assume a rutura total no fornecimento de gás russo, racionamentos de energia e nenhuma compensação de outras fontes.

O Conselho do BCE decidiu esta quinta-feira um aumento de 75 pontos base nas taxas diretoras, o maior na história da Zona Euro, depois de em julho ter realizado a primeira subida desde 2011, de 50 pontos base. A taxa de depósitos passou assim para 0,75%, a taxa de operações de refinanciamento para 1,25% e a da facilidade permanente de cedência de liquidez para 1,50%.

A decisão surge depois de a inflação homóloga no bloco ter galgado para um novo recorde de 9,1% em agosto. O BCE fez uma revisão significativa das previsões para a evolução do índice de preços, apontando agora uma taxa de inflação média de 8,1% em 2022, 5,5% em 2023 e 2,3% em 2024.

As estimativas para o crescimento económico foram também revistas, mas o banco central continua sem prever uma recessão no bloco da moeda única, ou contrário da grande maioria dos economistas. O BCE espera agora que a economia da Zona Euro cresça 3,1% este ano, 0,9% em 2023 e 1,9% em 2024.

(Notícia atualizada às 15h49)

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