BRANDS' TRABALHO Promova Talks: “É fundamental termos mulheres como exemplos”

  • Trabalho + CIP
  • 22 Setembro 2022

Andreia Milheiro, da Faurecia, é a terceira convidada da II temporada do Promova Talks. De acordo com a responsável, criar oportunidades é a base para a emancipação feminina no mercado de trabalho.

Com o objetivo de sensibilizar para a igualdade de género, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal – criou o “Promova Talks”, que se trata do espaço de debate do Projeto Promova, uma iniciativa que visa alargar o acesso das mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas.

Andreia Milheiro, Plant Manager na Faurecia, foi a convidada deste terceiro podcast da II temporada do “Promova Talks”. Neste episódio, a responsável da Faurecia explicou como conseguiu chegar a cargos de liderança, num setor tipicamente masculino, apenas dois anos depois de iniciar a sua carreira. Veja abaixo a entrevista completa.

1. Entrou no mercado de trabalho bem jovem, com 22 anos de idade, e num setor tipicamente masculino. Todos estes fatores – ser muito jovem, ser mulher e entrar num setor maioritariamente ocupado por homens – levaram a que isso fosse um desafio para si?

Hoje, olhando para trás, vejo que foi, de facto, um desafio. E ainda bem que assim foi. Eu considero-me uma pessoa que ganha energia com novos desafios e com situações difíceis. Relativamente a ser mulher num setor tradicionalmente masculino, acho que na altura isso não foi tema. Confesso que não me apercebi da falta de diversidade, provavelmente devido ao facto de ter vindo de uma faculdade de engenharia e de ter assumido que era uma coisa comum. Isto porque estava inserida num contexto social que ditou esta minha perceção, então nem sequer tomei consciência desse ponto.

Ainda assim, na minha opinião, a falta de diversidade é um tema que, muitas vezes, é silencioso. Por isso, a importância de nos informarmos, nos instruirmos acerca dele e desafiarmos o status quo. Quando me juntei à Caetano, tive diversos exemplos de mulheres de sucesso, e, sem dúvida, isso foi crucial, porque me fez querer mais e desenvolver. Aliás, acho que é fundamental termos mulheres como exemplos, ainda mais no início das carreiras e ainda mais em ambientes predominantemente masculinos. Considero que tive sorte em ter trabalhado, desde início, com mulheres que me inspiraram e que me fizeram perceber que eu não deveria limitar as minhas ambições.

2. A Andreia assumiu posições de liderança apenas dois anos depois de ter entrado no mercado de trabalho. Isso demonstra que caminhamos mesmo para uma igualdade de género em todos os setores? Ou tratou-se apenas de mérito próprio?

Acredito que tudo o que consegui, tanto no início da minha carreira como hoje, se deve, essencialmente, a mérito próprio. Obviamente, fruto de muito trabalho, dedicação, muita vontade de me desenvolver e, claro, também devido a muita gente que me ajudou e acreditou em mim. Portanto, eu acredito que a minha evolução tenha acontecido devido a um conjunto de vários fatores e pessoas que potenciaram diferentes oportunidades, mas, por outro lado, eu também as soube agarrar, selecionar e, em última instância, também soube criar oportunidades.

Hoje, factualmente, podemos afirmar que há cada vez mais mulheres em lugares de liderança, portanto, isso demonstra que existe uma mudança de mentalidade. Também é um facto, por exemplo, que teremos que esperar mais 120 anos para equilibrar as estatísticas no que toca ao salário. Isto faz-me concluir que as mulheres que hoje chegam a posições de liderança o fazem por mérito, mas há uns anos, muitas não chegavam e, no entanto, isso não significava que elas não tinham mérito. Acredito que cada um de nós tem um papel de responsabilidade para abrir mais mentes e acelerar esta tendência.

3. Que tipo de ações a Faurecia tem desenvolvido que promovam esta igualdade dentro do seu local de trabalho?

Existem inúmeras iniciativas. Há uma de que gosto particularmente, que é a “Her way”, em que há entrevistas e lives a várias mulheres de todo o mundo que partilham as suas experiências, os seus percursos, as barreiras que tiveram que enfrentar e a forma como as ultrapassaram. Recordo-me, também, de ter havido uma iniciativa para celebrar o dia da engenharia, em que houve a partilha de testemunhos de mulheres que, apesar de serem graduadas em engenharia, seguiram percursos bastante diversos. No fundo, são iniciativas que tentam expor mais as mulheres, dando mais visibilidade, dando voz às mulheres, a fim de ajudar a equilibrar a balança e de atrair e inspirar outras mulheres.

Além disso, temos prémios de responsabilidade social para fábricas que apresentem projetos que contribuam para a diversidade e inclusão. E, depois, existem programas específicos de desenvolvimento para mulheres, nomeadamente para mulheres de elevado potencial, que pretendem garantir que nos próximos anos haverá mais mulheres no topo da organização, onde a Faurecia tem por objetivo atingir a meta de 30% de mulheres em 2030.

De um ponto de vista mais particular, no caso da fábrica que desde o final do ano passado lidero, posso partilhar que quando cheguei, não havia mulheres a trabalhar no chão de fábrica, e só em janeiro de 2022 é que contratámos as primeiras mulheres. Hoje temos mais de 20, e, embora ainda seja um número pequeno, esta mudança deixa-me bastante feliz, porque quebra o paradigma e faz-me sentir realizada por poder liderá-la.

Ainda assim, devo confessar que ainda existia muito ceticismo a vários níveis. Felizmente, a nossa equipa de direção estava comprometida em fazer desta iniciativa uma história de sucesso e tem sido, de facto, um sucesso. Apesar de tudo, deixa-me bastante desconfortável que isto esteja a acontecer em 2022, porque mostra que ainda há muito a fazer, que temos que acelerar a mudança e que todos nós temos responsabilidade para agir neste tema.

4. Apesar de a Andreia ter uma experiência até bastante positiva relativamente à evolução dentro das suas funções, considera que o Projeto Promova conseguiu dar-lhe ainda mais ferramentas para que continue a evoluir?

Sem dúvida nenhuma. Eu acredito que a aprendizagem e o crescimento devem ser uma constante. Quando surge um programa tão completo como este, reúnem-se as condições ideais para acelerar o desenvolvimento do nosso potencial. Obviamente, a qualidade do programa, do meu ponto de vista, deve-se muito aos temas abordados, aos professores e convidados, mas muito também à rica partilha entre todas de experiências, de perspetivas, de ideias, de dificuldades. Confesso que este programa aguçou a minha vontade de aprofundar alguns temas, mas sobretudo ajudou-me a decifrar e a assumir para mim mesma as minhas ambições profissionais. Por último, e não menos importante, criou em mim mais awareness para o tema da diversidade, e, no fundo, creio que me empoderou com a responsabilidade de ter um papel ativo neste tema de ser um piloto da mudança.

5. Que mensagem gostaria de deixar às futuras participantes do Projeto Promova?

Entreguem-se, envolvam-se, não tenham medo de mostrar vulnerabilidade. Na minha opinião nós ganhamos mais com este programa quanto mais intensamente o vivermos, sem medos e sem preconceitos. Mostrem o que são, mostrem o que não sabem e estejam dispostas a crescer com isso. Tirem o máximo proveito das sessões individuais de coaching, que acompanham esta jornada. Para mim, este foi um dos alicerces mais fortes deste programa, que teve um grande impacto no meu desenvolvimento e que me marcou, sem dúvida, de uma forma muito positiva. E, por fim, espero que tenham a mesma sorte que eu, que encontrei ali pessoas que, hoje, fazem parte do meu círculo e que, seguramente, espero levar para o resto da vida.

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O Projeto Promova conta com o apoio da ANA Aeroportos, da EDP, da Randstad e da SONAE.

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