“Aconselho alguma moderação ao BCE” para não repetir erro de 2011

  • Lusa
  • 1 Outubro 2022

Leão diz que fenómeno da inflação foi "subestimado" pelo BCE, mas aconselha "alguma moderação" na subida dos juros para não repetir o erro que cometeu em 2011, quando aumentou as taxas excessivamente.

Moderação no ritmo da subida das taxas de juro pelo BCE, numa Europa cuja economia está a ser fortemente atingida pela guerra, é sugerida pelo ex-ministro das Finanças João Leão, que destaca a credibilidade de Portugal nos mercados internacionais. Em entrevista à Lusa, na qual se escusou a comentar medidas concretas para o Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), o antigo ministro das Finanças admitiu que se subestimou o fenómeno da inflação, acreditando-se inicialmente ter um caráter mais temporário.

“Foi em parte subestimado, é verdade, devia-se ter tido mais atenção a este fenómeno, mas também foi muito agravado por alguma coisa que não se esparava, que foi a invasão pela guerra”, disse.

Perante o “desafio completamente novo” colocado pela inflação elevada, o ex-governante acredita que a resposta do Banco Central Europeu (BCE) não deve, contudo, ser demasiado agressiva.

“Aconselho alguma moderação ao BCE porque a Europa está a ser mais afetada do que os EUA pelo impacto da energia. Os preços de energia estão a aumentar mais na Europa do que nos EUA, sobretudo na questão do gás. É importante ter algum cuidado com o ritmo, porque essa moderação na economia que o BCE está a querer atingir já está a ser atingida pelo efeito da energia”, disse.

"Foi em parte subestimado, é verdade, devia-se ter tido mais atenção a este fenómeno, mas também foi muito agravado por alguma coisa que não se esparava, que foi a invasão pela guerra.”

João Leão

Ex-ministro das Finanças

Ainda que assinale compreender que a instituição liderada por Christine Lagarde “não pode deixar de procurar manter a sua credibilidade”, ao mesmo tempo que mantém as expectativas de inflação ancoradas nos 2%, é preciso, diz, um “equilíbrio”, que admite ser “difícil de fazer”.

A “prudência” aconselhada é para “garantir que não estamos a cometer um erro, como foi cometido há 11 anos, em que o BCE subiu excessivamente as taxas de juro e depois agravou demasiado… a economia europeia entrou numa forte recessão”, afirma.

“Enquanto durante a pandemia a política orçamental e a política monetária estavam completamente alinhadas e ambas a lutar pela recuperação da economia, agora temos aqui um desafio novo em que a política monetária e a política orçamental estão em sentidos que não são fáceis de coordenar”, frisa.

Um dos reflexos é, exemplifica, em junho, a Euribor a seis meses que estava negativa e atualmente “já está perto dos 2%”, sendo de esperar, estima, “que nos próximos meses atinja os 3% e mesmo os 4%”.

“Vai criar desafios que é preciso pensar”, sublinha, reafirmando a importância de “atenção na reforma e no ritmo com que se sobe as taxas de juro”, porque existe “um aumento da inflação que no curto prazo gera uma grande redução do rendimento das famílias e isso tem um efeito negativo sobre a economia”.

"Aconselho alguma moderação ao BCE porque a Europa está a ser mais afetada do que os EUA pelo impacto da energia. Os preços de energia estão a aumentar mais na Europa do que nos EUA, sobretudo na questão do gás.”

João Leão

Ex-ministro das Finanças

Quando questionado sobre o impacto para o financiamento de Portugal, o ex-ministro que foi também secretário de Estado do Orçamento entre 2015 e 2019, assinalou que existe desde julho uma nova atenção por parte dos investidores perante o financiamento dos países, mas acredita que Portugal figura bem.

“Houve em julho, focado na Itália e na Grécia, mas se olharmos com atenção, Portugal ficou protegido desse impacto. Os juros em Portugal aumentaram, mas aumentaram em linha com o aumento que se verificou na Alemanha e em França. Os spreads praticamente não variaram. Houve uma ligeira alteração dos spreads, mas manteve-se muito próximo do que era antes. A perceção de risco para Portugal não se agravou”, disse.

Para João Leão, tal revela “que Portugal chegou a esta crise bem preparado, com uma dívida pública com uma forte redução, com contas certas e com uma trajetória e um quadro para a evolução da dívida pública nos próximos anos que também oferece garantias e confiança aos investidores”.

“Portugal neste momento tem um spread face à Alemanha de 1%, quando Itália tem 2,5%. Em 2016 era o oposto”, aponta.

O antigo ministro destacou que “não é de espantar que ainda no mês passado, no meio desta crise, uma agência de rating principal, a S&P, decidiu aumentar o rating da dívida de Portugal”.

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