Supervisor quer reforço de medidas de gestão e monitorização

  • Lusa e ECO Seguros
  • 4 Outubro 2022

A presidente da ASF reage aos desafios atuais com um apelo ao reforço das medidas de gestão e monitorização dos riscos no setor segurador.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) defende um reforço das medidas de gestão e monitorização dos riscos pelos operadores do setor devido aos “importantes desafios” levantados pela subida da inflação e dos juros.

“Esta mudança de paradigma a que se assiste em 2022, ainda que, em parte, estruturalmente benéfico para os setores segurador e dos fundos de pensões, nomeadamente pelo afastamento do ambiente de baixas taxas de juro, introduz importantes desafios sobre estes setores”, sustenta a presidente da ASF numa mensagem constante do Relatório do Setor Segurador e dos Fundos de Pensões (RSSFP) relativo a 2021, hoje divulgado pelo supervisor.

Margarida Corrêa de Aguiar destaca “os riscos de desvalorização adicional dos preços dos ativos, com potencial impacto sobre a valorização das carteiras detidas pelas empresas de seguros e pelos fundos de pensões, e sobre a respetiva solvabilidade e níveis de financiamento”.

A presidente aponta “os riscos associados aos menores rendimentos e, consequentemente, à menor capacidade de poupança dos particulares, que tenderá a repercutir-se numa menor geração de novo negócio e, eventualmente, num incremento dos resgates”.

A presidente salienta ainda o “risco de agravamento dos custos com sinistros dos ramos Não Vida mais expostos à inflação de sinistros”. E explica que é “fundamental, para a garantia de um setor segurador e um setor de fundos de pensões resilientes, o reforço, pelos operadores, das suas medidas de gestão e monitorização dos riscos, incluindo a identificação e mitigação das vulnerabilidades específicas e a manutenção de níveis de fundos próprios prudentes e consentâneos com o quadro de incerteza a que se assiste”.

Sobre gestão de riscos, a líder refere os desafios da digitalização que “tem como efeito, entre outros, uma cada vez maior dependência de soluções remotas e digitais nas operações diárias e na relação entre as empresas e os consumidores”.

A presidente aponta que “uma das consequências associadas à aceleração do processo de digitalização é o crescimento dos riscos cibernéticos”, que são uma das principais fontes de riscos operacionais a que as empresas financeiras estão expostas.

Para as seguradoras, os riscos cibernéticos atingem “numa dupla vertente. Por um lado, enquanto operadores do mercado que estão expostos a riscos operacionais, e, por outro lado, enquanto entidades que assumem responsabilidades, através da emissão de contratos de seguro que visam cobrir esses mesmos riscos”.

A ASF diz já ter iniciado, este ano, “um processo de monitorização dos riscos cibernéticos que contempla estas duas vertentes, tendo como objetivo o acompanhamento circunstanciado”.

Margarida Corrêa de Aguiar refere que “a relevância do combate às alterações climáticas e a implementação de medidas de transição para uma economia sustentável e de baixo carbono, que constituem um risco de central importância económica e social e também para a estabilidade financeira”.

“Neste âmbito, o setor segurador e o setor dos fundos de pensões têm um papel relevante a desempenhar, quer por via da canalização de investimentos, quer pelo desenvolvimento de produtos de cobertura dos riscos subjacentes, que permitam ainda a implementação de políticas de subscrição ativas para a mitigação desses riscos pelos tomadores de seguros”, sustenta.

A presidente do regulador nota que os fenómenos climáticos “vieram também expor, ou acentuar, a importância de se identificar e colmatar o protection gap”, referindo-se à insuficiência de cobertura seguradora na proteção de riscos a que as famílias e as empresas se encontram expostas.

“A penetração de seguros em Portugal com coberturas de riscos catastróficos é reconhecidamente baixa, amplificando a vulnerabilidade social e da economia para riscos desta natureza. Adicionalmente, prevê-se um aumento da severidade e da frequência de ocorrência de fenómenos naturais adversos, em resultado das alterações climáticas, o que reforça as preocupações com as limitações na disponibilização de coberturas de seguros ou da sua oferta a tarifas economicamente viáveis”, diz.

A responsável refere que “a resolução dos protection gaps em vários riscos só é possível através de uma resposta abrangente e concertada em termos de políticas públicas, envolvendo não só o setor segurador, mas também o Estado, potenciando a criação de ferramentas e mecanismos de identificação, monitorização, mensuração e de partilha de riscos”.

Segundo o Relatório do Setor Segurador e dos Fundos de Pensões relativo a 2021, a produção global das empresas de seguros em Portugal aumentou 38%, para 12.400 milhões de euros face a 2020, invertendo a quebra dos dois anos anteriores sobretudo impulsionada pelo ramo Vida.

O relatório explica que “esta evolução foi materialmente influenciada pelo comportamento do ramo Vida que, após dois anos consecutivos de quebra, registou, em 2021, um aumento de 73,1%, alcançando um nível de produção próximo do registado em 2018”, numa recuperação “justificada pela captação de um maior volume de investimento/poupança através de produtos de seguros ligados a fundos de investimento (unit linked)”.

Já a produção dos ramos Não Vida “manteve o padrão contínuo de crescimento registado nos últimos anos, com uma variação de 6% em 2021 face ao ano anterior”.

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