Estaleiros de Viana vão construir navio de emissões zero para a Noruega
Estaleiros navais que estão a ser explorados pela West Sea, do grupo Martifer, foram escolhidos pela Northern Explorer para desenvolver o primeiro navio de cruzeiro do mundo com zero carbono.
A West Sea, empresa do grupo Martifer que assumiu há cerca de oito anos a subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, assinou no mês de setembro uma “carta de intenções” com a Northern Explorer para desenvolver o primeiro navio de cruzeiro com zero carbono. Destinado a operar nos fiordes da costa norueguesa, terá capacidade para 250 passageiros e deve estar pronto na época de cruzeiros 2025/26.
Com investidores ligados à indústria do turismo na Noruega, esta jovem empresa pretende criar uma embarcação nova e amiga do ambiente para operar naquela região. Um projeto que tem de ter em conta “as horas de navegação que tem de fazer e a capacidade – ao nível de carregamento de baterias e das células de hidrogénio – para poder navegar ali com emissões zero”, detalha o administrador, Vítor Figueiredo.
O acordo foi concluído na feira SMM, em Hamburgo (Alemanha). Após ter sido o estaleiro escolhido, num consórcio que integra outras empresas europeias do setor naval, como a ABB Technology (fornece o sistema de propulsão 100% elétrico), o gestor conta que segue-se agora, em simultâneo, a afinação do plano financeiro – “porque isto é tudo muito engraçado, mas só se concretiza quando os projetos são viáveis” – e seis meses de “trabalho muito árduo ao nível do desenvolvimento de engenharia” para criar este navio.
É uma grande oportunidade termos apanhado este comboio. (…) Com toda a certeza, este projeto vai abrir portas para outra tipologia de navios. Os navios como eram construídos até agora têm os dias contados.
“A construção de navios de emissão zero é um assunto que já andamos a perseguir há muito. Como não temos capacidade de fazê-lo sozinhos, estamos a rodear-nos de outros players, muitos deles internacionais. É uma grande oportunidade termos apanhado este comboio e acreditamos piamente neste projeto. (…) Com toda a certeza, vai abrir portas para outra tipologia de navios. Ao nível da construção, a nova geração já aí está. Os navios como eram construídos até agora têm os dias contados”, resume o gestor.
Vítor Figueiredo, que participou recentemente num debate sobre a indústria naval organizado pela Transportes & Negócios no Porto, destaca, por outro lado, que os estaleiros do Alto Minho já demonstram ter capacidade para fazer a conversão de navios para GNL (gás natural liquefeito). Foi em 2020 que a West Sea diversificou as atividades com a entrada nessa área dos serviços para a transição energética, com a intervenção em três projetos do armador espanhol Baleària. “O ponto é qual é a alternativa: se é a gás, amónia, outro tipo de combustível ou produtos 100% elétricos”, acrescenta.
Certo é que os portos portugueses têm de investir na rede de distribuição de novas energias para os navios, sob pena de serem preteridos por outras infraestruturas concorrentes. O porta-voz da West Sea lembra que, no caso desses projetos de conversão, o abastecimento de gás para a fase de testes teve de entrar no porto de Viana do Castelo por camião, numa operação logística de alto risco e monitorizada de perto.
“Pensámos: se aparecer aqui um navio movido a gás para fazer uma carga ou descarga, é impossível. Essas condições têm de ser criadas. Agora, quem será o investidor que o vai fazer, se é o Estado, se é através de concessões a privados ou os privados que o fazem, ainda não se sabe. Estamos efetivamente atrasados neste processo e já se deviam ter dado passos concretos para solucionar”, ilustra.
Encomendas de 243 milhões e nova doca para reparações
Desde que assumiu a subconcessão dos estaleiros de Viana, a West Sea calcula já ter realizado 17 construções navais – entre as quais dez navios cruzeiros de rio, três navios polares de expedição e dois navios militares. Além de reparações em 320 navios e quatro conversões, com estas duas atividades a representarem cerca de 30% do total da produção, que assegura atualmente perto de 380 empregos. No final do primeiro semestre de 2022, a carteira de encomendas totalizava 243 milhões de euros.
Um dos principais clientes é a Mystic Cruises do empresário Mário Ferreira, dono da Douro Azul, que este sábado mostrou o World Traveller no terminal de cruzeiros do Porto de Leixões, o quarto navio oceânico construído na íntegra por esta empresa. Tal como a Navalria, que comprou em 2008 e acaba de perder a licença europeia para desmantelar navios em Aveiro, integra a sub–holding Martifer Metallic Constructions. Em 2021, o negócio da indústria naval gerou lucros de 9,1 milhões de euros (72% do resultado consolidado da Martifer) e uma faturação de 91,7 milhões (40% do total do grupo).
É precisamente para os estaleiros navais de Viana do Castelo que o grupo fundado em 1990 pelos irmãos Carlos e Jorge Martins, com Pedro Duarte na liderança executiva, tem previsto aquele que é catalogado como o seu maior investimento da última década, avaliado entre 15 e 18 milhões de euros. Ainda à espera de licenciamento, o projeto da participada WestSea envolve a construção de uma nova doca, com 220 metros de comprimento e 45 metros de largura, que irá permitir a reparação de navios de maior dimensão na capital do Alto Minho.
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