Reforço de comboios de carga depende da redução de custos
Transporte ferroviário será decisivo para que as cargas possam continuar a movimentar-se de forma mais sustentável. Mas ainda falta baixar custos para convencer empresas a apostar neste meio.
O comboio é chave para que o transporte de mercadorias possa ser feito de forma cada vez mais sustentável. Mas ainda é necessário baixar os custos para que as empresas possam escolher este meio para movimentar as cargas. Esta é a conclusão de um debate que juntou, no Porto, uma gestora de portos, a associação de transitários e duas empresas que atuam no transporte de mercadorias em Portugal.
Tirar carga dos camiões e colocá-la nos comboios é o principal desígnio da atualidade. A Medway é transportadora ferroviária de mercadorias mas ainda está longe da sua capacidade máxima. “Para ser competitiva, a ferrovia tem de fazer comboios com 750 metros”, destaca Carlos Vasconcelos, presidente do conselho de administração da empresa do grupo MSC, no debate da Porto Maritime Week, promovido pela Transportes & Negócios.
Outro constrangimento tem a ver com as obras nas linhas de comboios, a cargo da Infraestruturas de Portugal. O plano de investimentos Ferrovia 2020 deveria ter ficado concluído em 2021, mas só deverá ficar pronto entre o final de 2023 e o início de 2024. “Gostaríamos que as obras avançassem mais depressa. Mas não podemos pedir a um país que faça em dois ou três anos o que não fez nos últimos 60. O importante é que as obras não parem”, considerou Carlos Vasconcelos.
Também a apostar na ferrovia está a APDL, entidade que gere o Porto de Leixões. A executar a sua “estratégia de sobrevivência”, a APDL vai gerir o porto seco da Guarda (com acesso à linha do comboio) e ainda vai tomar conta do terminal ferroviário de Leixões, que anteriormente era da Infraestruturas de Portugal. Esta é a forma encontrada para duplicar a capacidade de carga de contentores, destaca Nuno Araújo, líder da APDL.
Em 2019, lembra o dirigente, “apenas 1% das cargas movimentadas” eram em ferrovia. Em 2025, o objetivo é atingir uma quota de 20%, com a ajuda do porto seco da Guarda, que permitirá “reduzir, em 15%, os constrangimentos burocráticos”.
Os comboios também são uma das apostas das soluções logísticas da Klog, empresa fundada em 2012. Deve faturar cerca de 130 milhões de euros em 2022, dos quais 100 milhões através do transporte multimodal. Tem ainda 65% do transporte todo assegurado pela ferrovia.
Apesar de ser empresa portuguesa, a Klog está a crescer sobretudo no mercado estrangeiro. “Não fazemos mais investimentos em Portugal por agora porque não sabemos o que vai acontecer à rede”, assume o diretor-geral, Egídio Lopes.
À procura de oportunidades e de um futuro diferente estão os transitários: “as estratégias dos últimos 30 anos não funcionaram, sobretudo para o transporte ferroviário. É preciso investir em portos secos, em mais terminais e em intermodalidades”, nota António Nabo Martins, presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal.
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