Qual a importância de Ponte de Sor para a aeronáutica?

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  • 13 Outubro 2022

Em entrevista ao ECO, Hugo Hilário, presidente da Câmara de Ponte de Sor, explica os desafios, mas também as vantagens, de desenvolver um evento como o Portugal Air Summit na região.

O município de Ponte de Sor vai apresentar, pela sexta vez, o maior evento da aeronáutica da Península Ibérica – o Portugal Air Summit. A cimeira, que decorre do dia 12 ao dia 15 deste mês, terá várias conferências com entidades ligadas ao setor da aviação. O objetivo é conscientizar para os problemas do setor e pôr em prática soluções.

Com um percurso notável no setor da aeronáutica, Ponte de Sor tem vindo a desenvolver estratégias para atrair e reter talento na área. Para perceber quais as melhorias, mas também as dificuldades que o município tem sentido, o ECO esteve à conversa com Hugo Hilário, Presidente da Câmara de Ponte de Sor.

A importância do evento para o município, bem como para o seu crescimento económico são alguns dos pontos abordados pelo presidente na entrevista abaixo.

Qual a importância do Portugal Air Summit para o município de Ponte de Sor?

O Portugal Air Summit realiza-se há seis anos, por iniciativa do município, como estratégia de posicionamento e de visibilidade de um trabalho que já tinha vindo a ser feito de aposta no crescimento e na fixação de indústria de ponta no concelho. Indo um pouco atrás, Ponte de Sor tem uma história socioeconómica muito ligada à indústria e a aeronáutica surgiu do natural aproveitamento de uma infraestrutura que percebemos que podia ser potenciada. A cimeira é o corolário, a parte visível da construção do Cluster Aeronáutico de Ponte de Sor, da atração de empresas para o território, de promoção do Alto Alentejo como uma região com muitas vantagens para empresas e unidades de produção internacionais – para a criação de emprego, para a fixação de famílias, para a inversão do inverno demográfico e êxodo do interior do país. É um desígnio nacional que assumimos localmente e o Portugal Air Summit é um evento anual que agrega tudo isto. Podem ver toda a informação sobre a 6ª edição do Portugal Air Summit no site oficial do evento.

Que impacto este evento traz à região?

É uma cimeira muito eclética, embora dentro das áreas da aeronáutica, defesa e espaço. Atrai especialistas, por um lado, porque tem painéis de discussão sobre estes temas. No entanto, é também um evento muito aberto, que acolhe os interesses da população, que tem um espaço de exposição extremamente interessante com curiosidades que interessam a visitantes que gostem dos transportes aéreos, espaço e defesa – e uma relevantíssima área lúdica, com espetáculos aéreos que atraem famílias inteiras e aos quais é impossível ficar indiferente. Atrai ainda estudantes das áreas tecnológicas, jovens que procuram uma vocação ou emprego. Estas áreas são fortes empregadoras, apostas de futuro com grande saída profissional. E, por fim, cativa também investigadores das áreas aeroespaciais, uma vez que um dos eventos paralelos é uma competição de lançamento de satélites para o espaço aéreo, o EuRoc.

Como descreve o crescimento económico da região desde a primeira edição do Portugal Air Summit?

Ao longo de mais uma década, sobretudo beneficiando do apoio dos Programas Operacionais Regionais do Alentejo, foi possível desenvolver uma abordagem focada em duas vertentes operacionais, nomeadamente na criação de condições infraestruturais de base para potenciar os fatores locativos (localização geográfica, características do clima e do espaço aéreo, acessibilidades…), compreendendo os vários investimentos no Aeródromo Municipal (pista, hangares…). Este investimento viabilizou a instalação/fixação de um conjunto de atividades que implicam movimentação aérea (proteção civil, manutenção e reparação de aeronaves, voos, formação de pilotos…).

A outra vertente operacional onde nos focamos foi nos investimentos orientados para o acolhimento de atividades empresariais que correspondem à vertente “atração de empresas e de investimentos”. Estas intervenções são mais recentes e compreendem o Centro de Negócios da Indústria Aeronáutica e Aeroespacial e o Campus Universitário na vertente de oferta de espaço para atividades de inovação, investigação e desenvolvimento, associadas à concretização dos protocolos com as Instituições de Ensino Superior.

As componentes do ciclo de investimento realizado estabeleceram uma relação positiva com as opções das políticas públicas (setoriais e regionais) traduzidas na aposta no Complexo de Atividades da Aeronáutica, Espaço e Defesa, opções inscritas nas Estratégias Nacional e Regional de Especialização Inteligente. O esforço continuado de investimento na infraestruturação de base (Aeródromo, Centro de Acolhimento Empresarial e Campus Universitário e Tecnológico) inscreveu-se, assim, em apostas estratégicas de âmbito regional e nacional, corresponde a um elemento relevante do mapeamento atual de infraestruturas económicas do Alentejo e concentra argumentos para fazer parte de um Cluster de competitividade emergente reconhecido pelas políticas públicas.

Que outras melhorias o município foi desenvolvendo devido a esse crescimento?

Paralelamente, o município promoveu de forma continuada e de “upgrade” constante a qualificação do território através de investimentos nas áreas da educação, da cultura, da saúde e das amenidades urbanas e ambientais, contribuindo para projetar também no exterior a imagem de uma cidade com qualidade de vida que proporciona alternativas de ocupação e um quadro de vida atrativo para os jovens e outros residentes.

Os resultados do investimento municipal co-financiado pelos fundos comunitários têm sido monitorizados com regularidade, identificando e fundamentando novas intervenções que o município se propõe levar a cabo e concretizar no horizonte de médio e longo prazo, designadamente, em vertentes que refletem os vetores estruturantes das escolhas municipais, de acordo com as oportunidades de mobilização de recursos de financiamento (fundos e orçamento municipal) e de atração de investimentos privados.

Desses investimentos privados destaca-se a consolidação do complexo de Atividades da Aeronáutica, com destaque para o futuro Centro Empresarial Tecnológico de Ponte de Sor que vai nascer no espaço da antiga Delphi (adquirida pela Câmara Municipal) criando um espaço polivalente de matriz tecnológica, ambientalmente sustentável e criativo destinado a acolher empresas (em resposta a solicitações dirigidas ao Município que evoluíram para intenções de investimento objeto de Concurso para seleção de iniciativas e projetos), atividades de investigação e formação de competências.

Sendo uma região do interior do país, quais são os maiores desafios na atração de talento para esta área?

A interioridade depende da perspetiva: estamos a hora e meia de Lisboa e mais perto de Espanha. Dispomos de condições únicas no país, que não existem no litoral, além da localização privilegiada junto da barragem de Montargil e de termos a cidade de Ponte de Sor com uma dinâmica cultural e com infraestruturas desportivas que proporcionam uma qualidade de vida muito atrativa para as famílias. A atração de talento é um trabalho que nunca está terminado, que depende de instituições públicas, mas também dos privados. É algo que Portugal tem de manter sempre presente, evitando a fuga de cérebros e de pessoas altamente qualificadas, proporcionando-lhes boas condições salariais, de formação contínua, de segurança e é nisso que em que estamos empenhados. Somos um município ágil e muito focado na articulação destas vantagens para a atração de talento.

E como conseguem ultrapassar esses desafios? Que estratégias usam?

Antes de mais, a predisposição para fazer um pitch “Why Ponte de Sor” e que nos tem feito sair constantemente dos nossos gabinetes e apresentar as vantagens de viver e investir em Ponte de Sor. Por outro, um foco na agilização de questões burocráticas e administrativas – dentro das capacidades e dos procedimentos da autarquia. Ainda, o estabelecimento de protocolos com entidades públicas e privadas que proporcionem melhorias de acesso a formação, como o caso do IEFP, que terá um centro de formação dedicado à indústria aeronáutica, ou à NOS, um player na área das telecomunicações que providencia formação local, além da relação estreita com Politécnicos e Universidades. E por fim, uma aposta grande em concorrer e procurar apresentar bons projetos para canalizar os fundos comunitários a que temos direito, pela nossa localização geográfica e densidade populacional – são conquistas que se revelam sempre muito trabalhosas e exigentes, mas que dão frutos.

O que ainda acha que pode vir a mudar no futuro de Ponte de Sor fruto da aposta do município na aviação, aeronáutica, defesa e espaço? É um futuro promissor?

A aposta em setores de ponta traduz-se sempre num futuro promissor, não temos dúvida. Mais uma vez é também um desígnio nacional: Portugal deve posicionar-se em setores de tecnologia avançada, podendo fazer a diferença. Temos novos desafios em Ponte de Sor, nomeadamente o consórcio da agenda Aero.next Portugal, que será responsável por produzir a primeira aeronave portuguesa. São 121 milhões de euros de investimento, 61% dos quais para o Alentejo (75 milhões de euros); o consórcio da agenda Neuraspace, com o valor total do projeto 26 milhões de euros e que visa aumentar a capacidade da Europa de agir de forma sustentável no espaço.

A Neuraspace, com o apoio da Portugal Space – Agência Espacial Portuguesa, vai instalar em Ponte de Sor um radar dedicado ao espaço e Space Debris, que permitem a demonstração e teste de novas tecnologias disponíveis para todo o espaço europeu. Há, ainda, o consórcio Magallan Orbital, para o desenvolvimento, operação e gestão de constelações de satélite que produzirão informação que será útil às Forças Armadas e ao dispositivo de Defesa Nacional, às agências e organismos públicos de Segurança e Defesa, Ambiente, Investigação Científica, Meteorologia e Proteção Civil, bem como à vigilância e proteção dos recursos marítimos, entre muitas outras áreas.

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