Portugal já angariou investimento para 30 centros de serviços este ano

  • Lusa
  • 22 Outubro 2022

Presidente da AICEP diz que há muito mais procura por Portugal do que há uns anos. "Em 2022, em outubro, já vamos em 30" centros de serviços, revela. Pipeline de investimentos chega aos 10 mil milhões

O presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que termina o mandato este ano, diz, em entrevista à Lusa, que o ‘pipeline’ de investimento em 2022 é de “10 mil milhões” de euros.

“O meu grande objetivo era fazer de facto este ciclo de investimento importante que começou em 2014 e terminou no ano passado”, afirma Luís Castro Henriques, que está há nove anos na agência e quase há seis na presidência.

Conseguiu-se “trabalhar a notoriedade de Portugal, a competitividade” e agora “teremos próximos desafios muito grandes para a próxima década e que são de outra natureza”, refere.

Questionado sobre qual o ‘pipeline’ de investimento este ano, Luís Castro Henriques diz serem “10 mil milhões” de euros.

“Só para dar um número: em 2014 este ‘pipeline’ era de 1.000 milhões de euros”, mas “cuidado – e eu digo sempre isto porque nós anunciamos sempre no final do ano os resultados contratualizados – estamos a falar do universo de oportunidades de investimento e este primeiro dado é muito relevante para perceber que, de repente, ou melhor, fruto deste trabalho ao longo destes anos, Portugal consegue ter acesso a muito mais projetos de investimento, há muito mais procura por Portugal do que existia há uns anos”. De acordo com o responsável, isto é “fruto de um trabalho muito segmentado em termos de captação de investimento”.

Não só é fundamental aumentar o universo de oportunidades de investimento em Portugal, que é o que estamos a fazer, tendo um ‘pipeline’ maior, mas também a nossa taxa de conversão é três vezes superior.

Luís Castro Henriques

Presidente da AICEP

Outro dado “relevante” – o último ano recorde na angariação de novos clientes para Portugal foi em 2021 – e “em outubro de 2022 já batemos esse recorde, já angariámos 42 novos clientes para Portugal”. “Isto é três vezes mais do que se angariava em 2014 e, portanto, não só é fundamental aumentar o universo de oportunidades de investimento em Portugal, que é o que estamos a fazer, tendo um ‘pipeline’ maior, mas também a nossa taxa de conversão é três vezes superior“, prossegue o presidente da AICEP. Em suma, “conseguimos trazer três vezes mais clientes por ano”, diz.

“Há ainda um dado dentro deste que eu gostaria de destacar, porque acho que é muito interessante que tudo o que aconteceu na angariação dos serviços, porque nós falamos muito sempre da contratualização, que são sobretudo projetos industriais ou projetos de investigação e desenvolvimento”, salienta.

Em 2014 angariávamos cerca de quatro centros de serviços por ano. Em 2022, em outubro, já vamos em 30“, aponta, referindo que o que “é mais interessante ver” é que a preponderância destes centros de serviços é a de desenvolvimento de ‘software’, centros de competências altamente complexas que são todas desenvolvidas e processadas a partir de Portugal e que depois têm um resultado também na própria balança exportadora de serviços, explica.

Por exemplo, a exportação de serviços TIC (tecnologias) ultrapassou os 2.000 milhões em 2020, e em 2021 foram ultrapassados os 3.000 milhões.

“Este é um setor que está a crescer imenso, hoje em dia já representa mais de 70.000 postos de trabalho, mas só em desenvolvimento de ‘software’ e competências tecnológicas já representa mais de 40.000 postos de trabalho e, portanto, é muito interessante para o desenvolvimento do país, é muito interessante para as oportunidades, para os jovens terem boas oportunidades de crescimento, essencialmente tecnológico”, e que tem “um impacto enorme na economia”, refere.

Questionado sobre quanto espera captar até final do ano, Luís Castro Henriques afirma: “Neste momento estamos satisfeitos já por ter ultrapassado o recorde, mas (…) é expectável que até ao final do ano ainda tenhamos mais, vá lá, uma mão cheia, pelo menos”.

A origem dos investimentos tem-se diversificado muito ao longo do tempo, primeiro dentro Europa, sendo que os três principais mercados de captação continuam a ser a Alemanha, França e Espanha.

Crescimento dos Estados Unidos e diversificação na Europa

“O que aconteceu nos últimos cinco anos, mesmo até durante a pandemia, foi que conseguimos claramente aumentar imenso nos Estados Unidos e também começar a diversificar noutros polos da Europa, no Reino Unido, na Bélgica, na Suíça e também na Itália”, uma “tendência a manter”, uma vez que, sobretudo, os resultados dos Estados Unidos “são interessantíssimos” e, juntando os serviços, são “avassaladores”.

Também em termos industriais “conseguimos alguma diversificação relevante no Extremo Oriente, nomeadamente no Japão e na Coreia”, acrescenta.

Questionado sobre qual foi o momento mais complexo na AICEP, o responsável destacou três, sendo que o primeiro foi quando entrou na agência: “A primeira reunião que eu tive fora de Portugal, estava em Inglaterra e a pessoa à minha frente tinha o Financial Times e a segunda notícia era ‘Portugal runs into trouble again’ e, portanto, vender Portugal em 2014 era particularmente complicado”.

Depois foi “mudar o ‘pitch’ que tínhamos em relação a Portugal (…) perceber que o talento é que era o nosso principal fator competitivo diferenciador“, o segundo aspeto foi a forma como se começou a fazer a angariação: é “completamente personalizada, segmentada, trabalhada previamente antes de entrarmos na porta de um novo investidor que não conhece Portugal”, conta.

O segundo grande desafio foi durante a pandemia, em que mesmo durante os primeiros três meses em que “estávamos fechados, mesmo assim fizemos sete angariações de novos clientes para Portugal, portanto percebemos que o nosso negócio não parava”, refere Luís Castro Henriques.

Depois, o “terceiro grande desafio” foi em 2021 e que se prolongou até este ano, com grandes eventos e campanhas, desde o “Made in Portugal naturally”, passando pelo Hannover Messe, “que teve um impacto brutal na Alemanha” em termos de perceção do que é Portugal em 2022, e a Expo Dubai.

“A incerteza não ajuda ao investimento”

Perante a atual conjuntura económica, com inflação em alta, a subida dos preços da energia, a guerra na Ucrânia, o presidente cessante da AICEP refere que, “como é óbvio, a incerteza não ajuda ao investimento”.

Mas, “não tenhamos nenhuma dúvida que há tendências […] que estão a ser aceleradas” no mundo, como por exemplo o ‘nearshoring’ [transferência de um processo de negócio para um país terceiro próximo], uma matéria onde “Portugal e nós aqui, na AICEP, temos feito muito trabalho”, afirmou.

Eu não vejo bem essa desglobalização, o que eu vejo é uma maior integração regional, mas mesmo assim continua a ser internacional, de cadeias de valor, por uma questão de segurança de abastecimento

Luís Castro Henriques

Presidente da AICEP

Muitas pessoas falam “de desglobalização, eu não vejo bem essa desglobalização, o que eu vejo é uma maior integração regional, mas mesmo assim continua a ser internacional, de cadeias de valor, por uma questão de segurança de abastecimento e que, obviamente, quanto mais incerto for o cenário, mais premente é esta questão”, prossegue.

“Esta era uma tendência que já existia antes da pandemia, aparece a pandemia, de repente torna-se óbvio para toda a gente, mas isto já estava a ocorrer”, pelo que isso “só acelerou a tendência”, sublinha Luís Castro Henriques.

O presidente da AICEP considera que vai continuar a haver “muito comércio internacional”, mas “obviamente com cadeias de valor centradas por regiões”.

No entanto, “isso não impede que continue a haver comércio internacional interregiões”, mas “estamos a assistir a uma regionalização de algumas cadeias de abastecimento e de algumas cadeias de serviços”, sublinha, salientando que isso, para Portugal, “tem sido muito positivo”.

Isto porque, “graças à nossa competitividade, temos recebido uma parte relevante desse investimento”, diz, referindo-se à tendência.

Agora, “se me perguntar em relação aos próximos três, seis meses, é obvio que são meses de muita incerteza, porque nós não sabemos nunca muito o que é que vai acontecer a nível da energia”, comentou.

E, neste momento, “a preocupação da AICEP não é só o que acontece em Portugal”, mas “o que é que acontece também nos meus clientes”, sublinha o gestor.

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