Investidores europeus estão à beira de um ataque de nervos

O índice que mede o sobe-e-desce dos mercados europeus já escalou quase 50% desde o início do ano e, ao mesmo tempo, arrastou as bolsas para o vermelho.

Os mercados têm sido um local impróprio para cardíacos: se num mês as ações valorizam, no mês seguinte esses ganhos acabam por ser rapidamente diluídos por uma forte queda das ações e geram perdas avultadas na carteira dos investidores.

Os mercados têm sido uma verdadeira montanha-russa com descidas bem vertiginosas por todas as principais praças do “Velho continente”, como espelha a desvalorização de 19% do índice europeu Euro Stoxx 50, desde o início do ano.

Esta adrenalina nos mercados é também ilustrada pelo Vstoxx, um índice que mede o sobe-e-desce das ações europeias através da negociação de opções financeiras de curto prazo sobre os títulos das 50 maiores empresas da zona euro que constituem o índice Euro Stoxx 50.

Nos últimos 20 anos, por cada semana que o índice Euro Stoxx 50 fechou no vermelho registaram-se três outras semanas com ganhos. Este ano, essa estatística inverteu totalmente: até ao momento, o Euro Stoxx 50 contabiliza perdas em 60% das semanas.

Desde o início do ano, o Vstoxx, também apelidado de “índice do medo europeu”, já escalou quase 50%, estando hoje a negociar nos 29 pontos, cerca de 22% acima da média dos últimos 20 anos (23 pontos). Isto significa que, neste momento, os investidores esperam uma volatilidade 22% mais elevada nos próximos 30 dias para o mercado europeu (medido pelo índice Euro Stoxx 50) face à média das últimas duas décadas.

Esta expectativa irá, muito provavelmente, ser acompanhada por mais correções no preço das ações europeias porque, nas últimas duas décadas, o Vstoxx e o Euro Stoxx 50 apresentam uma correlação negativa estatisticamente significativa. Isto significa que, em média, momentos de elevada volatilidade das ações europeias (como o que se vive atualmente) estão associados a períodos de queda das cotações, e momentos de baixa volatilidade estão associados a períodos em que o índice de ações europeu valoriza.

Foi isso que sucedeu, por exemplo, nos últimos cinco meses de 2008, em pleno pico da crise financeira, com o Vstoxx a subir 81% enquanto o índice que agrega as 50 maiores ações europeias derrapou 25%; e depois entre março a dezembro de 2009, com o Euro Stoxx 50 a valorizar 57% e o “índice do medo europeu” a tombar 44%.

Sempre que a volatilidade dispara, os investidores sofrem

Fonte: Reuters e ECO.

Ganhar com o medo da maioria

O sobe-e-desce faz parte da natureza dos mercados. Porém, poucos se recordam de um ano como o de 2022. Nos últimos 20 anos, por cada semana que o índice Euro Stoxx 50 fechou no vermelho registaram-se três outras semanas com ganhos. Este ano, essa estatística inverteu totalmente: até ao momento, o Euro Stoxx 50 contabiliza perdas em 60% das semanas.

O pior momento ocorreu entre 1 de abril e 6 de maio, com o índice europeu a acumular cinco semanas de perdas seguidas. A última vez que se registou tantas semanas de perdas interruptas foi em 2011, com o índice a contabilizar seis semanas consecutivas no vermelho (entre 29 de abril e 10 de junho), em pleno pico da crise do Euro e após a intervenção da troika em Portugal.

Na filosofia chinesa, o Yin Yang representam os opostos, como o quente e o frio ou o grande e o pequeno. Mas ao contrário da cultura ocidental, para os chineses, os opostos não são antagónicos mas complementares. Na bolsa acontece o mesmo.

O Yin e o Yang definem-se como o medo e a ganância e ambos se complementam de forma a coexistirem em sintonia para que o equilíbrio persista. Todavia, nem sempre isso é possível, e quando um prevalece perante o outro ocorre um ciclo de especulação marcado pela ganância ou pelo pânico. É nesse sentido que Warren Buffett, um dos maiores investidores de todos os tempos, recomenda os investidores a “terem medo quando os outros forem gananciosos e serem gananciosos quando os outros tiverem medo”.

Hoje, os tempos são marcados por uma onda de medo entre os investidores, com muitos a desfazerem-se das suas posições a qualquer preço. Outros preferem olhar para este período como uma oportunidade de comprarem bons negócios a preços de saldo, preparando uma estratégia de longo prazo ganhadora. É isso que tem feito há largas décadas Warren Buffett e que lhe ofereceu ganhos de 20% ao ano desde 1965, o dobro do desempenho do mercado.

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