Vitória de Lula deixa investidores apreensivos

Depois de abrir a cair mais de 2%, o Bovespa já está a negociar em terreno positivo, enquanto o Real afunda no mercado cambial. Os investidores estão apreensivos em relação ao plano económico de Lula.

As ações brasileiras cotadas na bolsa de São Paulo abriram a negociar em queda, como resposta à vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais. Pouco antes da abertura da bolsa, o Bovespa preparava-se para abrir a cair 2,5%, como resposta da negociação em queda da generalidade das ações das empresas brasileiras cotadas na bolsa norte-americana sob a forma de ADR (American Depositary Receipt) durante a pré-abertura de Wall Street. A petrolífera Petrobrás chegou a afundar 9% e a mineira Vale, depois de corrigir 5,5% na passada sexta-feira esteve a cair 3%.

O mesmo aconteceu com os principais fundos cotados (ETF – exchange-traded funds) que replicam o desempenho das ações brasileiras. O fundo cotado iShares MSCI Brazil, negociado em Londres, e o Amundi MSCI Brazil, negociado na bolsa de Paris, estiveram a negociar com perdas acima dos 4% durante toda a manhã.

Apesar de o Bovespa ter chegado a desvalorizar mais de 2%, pouco tempo depois de abrir a sessão o Bovespa já estava a negociar com ganhos. Atualmente, os títulos da petrolífera ensaiam uma desvalorização de 6,5% e os títulos da Vale já sobem 1,5% na praça de São Paulo. Os dois fundos cotados também já estão em terreno positivo, assim como o Bovespa.

No entanto, é no mercado cambial que os investidores estão a demonstrar maior preocupação em relação aos planos de Lula da Silva para a economia brasileira. Depois de na passada sexta-feira, após o anúncio de uma sondagem que dava a vitória a Lula, o Real brasileiro ter desvalorizado quase 1% face ao dólar, neste momento a moeda brasileiro alonga as perdas e está a negociar com uma perda de 1,3% face à moeda norte-americana. Desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil a 1 de janeiro de 2019, a moeda brasileira acumula uma valorização média anual de 6,1% face ao dólar.

O Brasil apresenta uma curva de rendimentos invertida, o que Indica que o país apresenta um risco creditício maior no curto prazo do que no longo prazo, e sugere que investidores têm pouca confiança na economia.

O movimento as ações e do Real indica que os investidores estão apreensivos em relação à política económica de Lula da Silva e também “presos” à possibilidade de Jair Bolsonaro questionar os resultados eleitorais. Recorde-se que até ao momento Bolsonaro não fez qualquer declaração sobre a matéria.

Não há muito tempo, Bolsonaro chegou a fazer várias alegações sobre a possibilidade de vir a ocorrer fraude nestas eleições presidenciais, tendo inclusive discutido no ano passado a possibilidade de recusar os resultados finais. “Esperamos algum barulho dos apoiantes de Bolsonaro, mas não parece ameaçar as instituições”, referiu Ricardo Lacerda, fundador e diretor-geral do banco de investimento BR Partners, citado pela Reuters.

Os receios de que qualquer tensão política criada pelo ainda Presidente do Brasil (Lula só toma posse a 1 de janeiro de 2023) é vista pelos investidores e por vários analistas internacionais como um rastilho que poderá desencadear tumultos pela América Latina.

Em relação às políticas económicas de Lula, o mercado acredita que o plano de privatização de empresas lançado por Bolsonaro ficará guardado numa gaveta, afetando empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil, que se posicionavam para serem alvos desta política.

No plano económico, o PIB brasileiro deverá crescer 2,7% este ano e a economia deverá encerrar o ano com uma dívida inferior a 90% do PIB (mantendo-se longe dos “loucos anos” da década de 1980 quando o país chegou a registar um nível de endividamento de 7800% do PIB).

No mercado acionista, o Bovespa destaca-se do resto do mundo, ao registar este ano uma valorização de 15% (em dólares), quando praticamente todos os mercados acumulam perdas de dois dígitos, antecipando-se que possa fecha o ano com ganhos, ao contrário dos restantes índices. Porém, nem tudo está bem do outro lado do Atlântico.

O Brasil está numa encruzilhada económica há algum tempo, que é bem visível pelo comportamento do mercado de dívida. Atualmente, o Brasil apresenta uma curva de rendimentos invertida, com a yield das obrigações de mais curto prazo a negociar a valores mais elevados do que os títulos de dívida de mais longo prazo: se para emprestar dinheiro ao Tesouro brasileiro a seis meses os investidores estão a cobrar 13,7%, a dez anos a yield das obrigações do Tesouro desce para 12%.

Fonte: Reuters.

Uma curva de rendimentos invertida está longe de ser comum. Indica que o país apresenta um risco creditício maior no curto prazo do que no longo prazo e sugere que investidores têm pouca confiança na economia. A leitura que os investidores fazem da situação económica do Brasil é que o país apresenta uma elevada probabilidade de entrar em recessão, e isso não é nada bom para o investimento nem para o futuro do país.

Porém, num relatório enviado no passado domingo aos seus clientes, o Goldman Sachs previa que os mercados e os investidores poderiam reagir positivamente aos sinais trazidos com a vitória de Lula no plano da paz social, da estabilidade política e das políticas e reformas, “que alavancariam o investimento e o crescimento”. Os analistas do Goldman Sachs salientam na sua análise que durante os últimos 11 anos não houve crescimento do Produto Interno Bruto real per capita.

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