Subida dos juros vai pressionar empresas: uma em quatro estará em situação vulnerável em 2023
Aumento esperado das taxas de juro até meados do próximo ano deverá ter “impacto significativo e relativamente rápido” no custo de financiamento das empresas, alerta Banco de Portugal.
A pandemia deixou muitas empresas em situação de maior fragilidade. Enquanto algumas recuperaram, outras nem por isso e, agora, o contexto apresenta-se mais desafiante com a escalada da inflação e a subida das taxas de juro. Neste cenário, o número de empresas em vulnerabilidade vai aumentar, antecipa o Banco de Portugal: mais de 25% registará dificuldades em gerar negócio para pagar os empréstimos ao banco no próximo ano, quando essa proporção era de 12,3% em 2019.
“O aumento esperado das taxas de juro até meados de 2023 deverá ter um impacto significativo e relativamente rápido no custo de financiamento das empresas, o que constitui um risco para a capacidade de serviço de dívida”, revela o Banco de Portugal no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado esta quarta-feira.
A análise tem por base uma subida das taxas Euribor para 3% em 2023, que se refletirá num aumento da prestação dos empréstimos não só para as famílias, mas também para as empresas. Uma empresa é considerada vulnerável se tiver EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) negativo ou se o EBITDA gerado num ano representar mais de metade do serviço da dívida.
Nem todas as empresas sentirão o mesmo impacto do aperto das condições financeiras do Banco Central Europeu (BCE) para controlar a inflação, revelam os dados do supervisor nacional.
Por exemplo, as microempresas serão mais afetadas: 31% estará em situação de vulnerabilidade no próximo ano, que compara negativamente com os 18,3% registados em 2019, mas evidenciando uma ligeira melhoria em relação a 2020 (32,8%). Já as pequenas empresas parecem estar em melhor posição do que as restantes, incluindo as grandes empresas.
"O aumento esperado das taxas de juro até meados de 2023 deverá ter um impacto significativo e relativamente rápido no custo de financiamento das empresas, o que constitui um risco para a capacidade de serviço de dívida.”
O estudo traça ainda uma análise por setor de atividade. Conclui que o setor do alojamento e restauração (predominantemente ligados ao turismo) será novamente o mais penalizado, depois da pandemia: 42,5% das empresas estarão em situação vulnerável em 2023 – em 2020 essa proporção foi de quase 70%.
Apesar do ambiente de dificuldade, o Banco de Portugal lembra que a situação financeira das empresas em 2021 é mais favorável do que a observada na crise da divida soberana de 2011. Esta realidade está refletida, entre outros aspetos, num aumento considerável do dinheiro que têm depositado no banco e que poderá ajudar a aliviar o impacto da subida dos juros.
A possibilidade de usar os excedentes de liquidez acumulados nos anos anteriores à pandemia permite reduzir em dois pontos percentuais a proporção de empresas em vulnerabilidade no próximo ano, estima o Banco de Portugal. Todavia, a grande maioria não conseguirá disfarçar as dificuldades mesmo assim.
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