Investidores estão “perdidos” na política do BCE e da Fed. E agora, até onde podem ir as taxas de juro?

Apesar de terem abrandado o ritmo de subida das taxas de juro, os dois bancos centrais abriram a possibilidade de elevarem as taxas de juro para níveis acima do que era esperado pelos analistas.

Christine Lagarde (BCE) e Jerome Powell (Fed) abrandaram o ritmo de subida das taxas de juro, subindo em 50 pontos base as taxas de referência do euro e do dólar, respetivamente, em meados de dezembro.

Desde que Christine Lagarde e Jerome Powell anunciaram, em meados de dezembro, um abrandamento do ritmo de subida das taxas de juro que os principais índices acionista dos dois lados do Atlântico estão a cair: o norte-americano S&P 500 está a desvalorizar 5% desde 13 de dezembro e o Stoxx 600 está a cair 3%.

Nem mesmo a divulgação de vários indicadores económicos positivos (sobretudo em relação à economia dos EUA) esta semana ajudou a afastar alguns dos medos que têm tomado conta das carteiras dos investidores.

Parte dessa situação foi particularmente causada pelo discurso líderes do Banco Central Europeu (BCE) e da Reserva Federal norte-americana (Fed), que abriram a porta à possibilidade de as taxas de juro do euro e do dólar puderem atingir valores mais elevados do que o mercado contava.

“Aumentámos hoje as taxas de juro em 50 pontos base e vamos continuar a fazê-lo no futuro porque a inflação ainda é muito elevada”, referiu Christine Lagarde, presidente do BCE em conferência de imprensa.

De acordo com Paulo Monteiro da Invest Gestão de Activos, “os Bancos Centrais deverão manter as taxas de juro em níveis não observados há vários anos, após as fortes subidas ocorridas em 2022, como forma de conter a subida dos preços”, refere o gestor numa nota enviada a 16 de dezembro aos seus clientes (um dia depois do anúncio do BCE).

A mensagem de Lagarde levou inclusive o JP Morgan a rever em alta o valor máximo que os analistas do banco norte-americano preveem que o BCE irá em termos de taxas de juro, colocando agora a fasquia nos 3,25% face aos 2,5% que tinha anteriormente.

Mas Filipe Grilo, professor da Porto Business School, vai mais longe para justificar a reação negativa dos investidores ao discurso dos banqueiros centrais. “Lagarde foi um pouco incoerente: ao mesmo tempo que disse que pretendia cortar na inflação, cortou no aumento da subida da taxa de juro e isso levou a alguma desorientação dos investidores”, refere o professor ao ECO.

Uma das muitas incertezas que se colocam aos investidores no arranque do próximo ano é justamente perceber quais serão os contornos da política monetária da Fed e do BCE, particularmente quanto à meta que têm para as taxas de juro. Mais ainda numa altura em que a taxa de inflação, tanto nos EUA como na Zona Euro, permanece perto dos valores máximos registados em muitos ano; e quando a recessão parece estar à porta da economia europeia e norte-americana.

Assim, a grande dúvida que continuará a pairar entre os investidores é para que lado irá pender o prato da balança dos bancos centrais:

  • Se o BCE e a Fed vão continuar a aumentar agressivamente a taxa de juro para controlar a todo o custo a subida da inflação;
  • Se vão abrandar ainda mais o ritmo de subida e até promover uma correção mais cedo das taxas de juro para para evitar uma recessão mais longa e profunda nas duas economias.

Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, antecipa que “se os números do PIB da Zona Euro no quarto trimestre [que serão divulgados a 31 de janeiro] confirmarem uma contração económica e a inflação sinalizar uma visível desaceleração, a taxa de juro terminal do BCE deverá cair substancialmente.”

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