Prova dos 9: investimento, exportações e emprego estão a crescer, como diz Costa?

Depois de um "bate boca" sobre as comparações com outros países europeus, primeiro-ministro destaca crescimento do investimento, exportações e emprego. O ECO fez a Prova dos 9.

O crescimento económico tem sido um dos temas quentes da discussão política das últimas semanas, nomeadamente pelas comparações europeias. Na sua mensagem de Natal, o primeiro-ministro decidiu destacar que Portugal se está a “aproximar das economias mais desenvolvidas da Europa”, apontando que indicadores como o investimento, as empresas, as exportações e o emprego estão a crescer.

Esta referência às “economias mais desenvolvidas da Europa” chega depois de vários partidos políticos terem questionado o Governo sobre o crescimento da Roménia, cujo PIB per capita deverá ultrapassar o de Portugal em 2024. O primeiro-ministro tem evitado a questão dizendo que se prefere comparar com países mais desenvolvidos e destacando outros indicadores.

Os próprios partidos criticaram a mensagem e o retrato traçado na mensagem natalícia. “Sabemos que Portugal está cada vez mais na cauda da Europa, que é um país mais pobre, quer porque as pessoas têm mais dificuldade no seu dia-a-dia, quer porque os serviços públicos são, de facto, mínimos para o que é o máximo de impostos que os portugueses e empresas pagam”, assinalou Hugo Soares, do PSD.

Já o PCP acusou o primeiro-ministro de tentar pintar uma imagem do país em que “dificilmente os portugueses se reconhecerão” e exortou o Governo a resolver os problemas estruturais que persistem. A Iniciativa Liberal apontou por sua vez que o país “não está a crescer aquilo que poderia” e está “paulatinamente e regularmente a ser ultrapassado” por Estados-membros que aderiram recentemente à União Europeia.

Nesta mensagem divulgada no dia 25 de dezembro, António Costa sublinha então que várias componentes económicas estão a registar um crescimento, mas será mesmo assim?

A frase

“Só com este sentido de comunidade, partilha, e solidariedade é que temos conseguido continuar a aproximar-nos das economias mais desenvolvidas da Europa – com o investimento, as exportações e o emprego a crescerem”, disse António Costa na mensagem de Natal.

Os factos

Começando pelo investimento, os últimos dados do INE mostram que nas Administrações Públicas se registou um crescimento do investimento de 1,6% no ano acabado no 3º trimestre; e de 7,1% se olharmos apenas para o terceiro trimestre de 2022. No entanto, o investimento das famílias recuou, bem como nas sociedades são financeiras, onde se registou “um ligeiro decréscimo da taxa de investimento (medida através do rácio entre a FBCF e o VAB)”.

Segundo as projeções que o Governo inscreveu no Orçamento do Estado para 2023, o investimento vai crescer 2,7% em 2022, número abaixo dos 7,9% estimados no OE2022, e 3,5% em 2023. Esta ligeira subida no investimento é justificada em grande parte pelos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que já este ano estão a dar um impulso aos números do investimento, tendo já sido pagos 1,18 mil milhões de acordo com os dados mais recentes.

É de sublinhar ainda assim que organismos como o Conselho das Finanças Públicas e o Banco de Portugal têm alertado para a baixa execução dos fundos da “bazuca europeia”, que poderá colocar em causa as projeções para 2023.

Já no que diz respeito às exportações, os últimos dados do INE indicam que “em outubro de 2022, as exportações e as importações de bens registaram variações homólogas nominais de +21,1% e +26,2%, respetivamente (+25,0% e +30,4%, pela mesma ordem, em setembro de 2022), sendo de salientar os aumentos nas exportações e importações de Máquinas e outros bens de capital (+43,6% e +34,0%, respetivamente) e de Fornecimentos industriais (+14,0% e +19,1%, pela mesma ordem)”.

Estão assim a crescer de forma significativa, ainda que a abrandar no ritmo, mas por causa do efeito preço. Além disso, olhando para os dados trimestrais, também se indica que “no 3º trimestre de 2022, de acordo com a estimativa rápida do Comércio Internacional de bens, as exportações e as importações de bens aumentaram 28,0% e 35,3%, respetivamente, em relação ao mesmo período de 2021″.

Ainda não existem dados anuais, mas em setembro as empresas perspetivavam um “aumento nominal de 15,6% nas exportações de bens em 2022, revendo 9,1 p.p. em alta a previsão efetuada em novembro”.

Quanto ao emprego, os dados já mostram uma queda em cadeia. “Em outubro de 2022: a população empregada (4 881,0 mil) observou um decréscimo em relação ao mês anterior e a três meses antes (de 0,2% em ambos os meses)”, indica o INE, apesar de registar “um acréscimo relativamente a um ano antes (0,7%)”. Isto num mês em que a taxa de desemprego se situou em 6,1%, “valor idêntico ao de setembro, superior ao de julho (0,1 p.p.) e inferior ao do mês homólogo do ano anterior (0,2 p.p.)”.

Outros dados mostram que o número de desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) subiu 2,6% em novembro, face ao mês anterior. Há, agora, 296.723 pessoas inscritas nos centros de emprego, mais 7.598 do que no mês anterior. No entanto, na comparação homóloga, há uma redução de 14,2%.

Prova dos 9

Os indicadores referidos pelo primeiro-ministro têm de facto registado um crescimento, mas abaixo do que previa o próprio Governo no caso do investimento, ou por via do preço no caso das exportações. E no caso do emprego, por exemplo, este indicador recuou face ao mês anterior mas cresceu face ao ano passado. Dados sobre o desemprego também mostram alguma estagnação, sendo de destacar que há alguma demora no impacto da inflação e da crise no mercado laboral, como já apontaram economistas ao ECO.

 

Prova dos nove classificação

 

 

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