Grandes empresas viram Inov Contacto do avesso para atrair talento estrangeiro
Parceria entre AICEP e Associação BRP cria programa de estágios Inov Contacto Reverse para reter em Portugal os alunos internacionais que estudam em universidades portuguesas. Projeto arranca na FEUP.
A comemorar os 25 anos do Inov Contacto, um programa de estágios internacionais que já abriu as portas do mercado de trabalho a mais de 6.000 jovens qualificados portugueses em 84 países espalhados pelo mundo, a AICEP junta-se agora à Associação Business Roundtable Portugal (BRP) para “virar do avesso” essa iniciativa e lançar, em paralelo, uma nova versão para atrair talento internacional para as empresas nacionais.
O Inov Contacto Reverse, como foi batizado o programa apresentado esta quarta-feira, no Porto, vai disponibilizar estágios remunerados de seis meses em Portugal para jovens até aos 29 anos, com mestrado e fluentes em inglês. Podem ser estrangeiros ou portugueses com residência no exterior há mais de 15 anos – “para tentar reimportar talento de origem nacional” – e que estejam a completar o período de estudos em universidades portuguesas. Os organizadores calculam que há atualmente 70 mil pessoas nestas condições, que podem também ajudar o país a reverter o “inverno demográfico” que ameaça o crescimento económico.
Este novo programa arranca no primeiro semestre deste ano com um projeto-piloto em parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que já identificou perto de duas dezenas de candidatos. Segue-se agora um período de matching de competências com dez empresas da Associação BRP que vão disponibilizar um total de 12 estágios, em contexto real de trabalho.
Vão servir para testar o modelo do programa, que será escalado a partir de setembro, passando a decorrer em paralelo com o Inov Contacto. As empresas vão pagar duas vezes o valor do IAS (Indexante dos Apoios Sociais), que em 2023 subiu para 480,43 euros. No grupo de empresas que participam nesta fase experimental estão a Sogrape, Logoplaste, Sugal, Nors, Corticeira Amorim, CTT, BPI, Bial e Sovena.
Vai possibilitar às PME portuguesas, mas também às grandes, aprofundar o seu conhecimento em mercados estrangeiros estratégicos, facilitando o seu processo de expansão internacional.
Além de reforçar a disponibilidade de quadros qualificados, “a concretização do programa Inov Contacto Reverse vai possibilitar às pequenas e médias empresas (PME) portuguesas, mas também às grandes, aprofundar o seu conhecimento em mercados estrangeiros estratégicos, facilitando o seu processo de expansão internacional”. “Esta é mais uma medida concreta em colaboração com a AICEP, que pode vir a fazer a diferença no apoio ao crescimento das empresas, que traz crescimento económico e maior justiça social”, completa Vasco de Mello, presidente da Associação BRP.
Esta associação criada em junho de 2021 e composta por 42 grandes empresas portuguesas assinou, em novembro do ano passado, um protocolo de colaboração com a agência pública que promove o comércio e o investimento internacional, para desenvolver e implementar várias iniciativas para aumentar as competências de internacionalização nas PME e reforçar a sua competitividade nos mercados externos. Além do Inov Contacto Reverse, três outras já começam a sair do papel.
- Reforço do apoio ao programa Inov Contacto, através do aumento do número de empresas associadas a esta iniciativa, bem como do número de estágios. No total, 11 empresas da Associação BRP financiaram 25 novos estágios, que se juntaram ao total de 200 estágios já disponibilizados pelo Inov Contacto ao talento português.
- Lançamento das “Conversas CEO com CEO”, um programa que coloca frente a frente líderes de PME nacionais que se queiram internacionalizar e CEO ou presidentes de empresas da Associação BRP, com o propósito de, durante três horas, haver uma partilha de conhecimento e experiência na área da globalização. O piloto abrange um conjunto de 13 empresas e em dois meses já houve dez conversas.
- O acordo prevê ainda a criação de uma rede internacional de espaços de acolhimento, onde empresas da Associação BRP disponibilizam, durante um período de três meses a um ano, as suas instalações noutros mercados a PME nacionais que queiram expandir o seu negócio para outros países. Visando dar um apoio nesse primeiro passo de crescimento, o piloto arranca no primeiro semestre de 2023, com nove associadas a disponibilizarem mais de 50 pontos de acolhimento em 20 geografias diferentes.
Em conferência de imprensa realizada esta quarta-feira, Rui Calçada, diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, sublinhou que este novo programa para atrair e reter finalistas de mestrado é “uma mais-valia para os estudantes”, que podem ter uma “experiência num ambiente multicultural e dinâmico” e também para as empresas, que vão dispor de “perfis altamente especializados”.
Com cerca de 1.200 alunos internacionais, além dos que participam em programas de mobilidade, a faculdade portuense promete ainda facilitar o acesso a cursos de língua portuguesa, para facilitar a integração destes alunos no mercado de trabalho local. E mostra-se comprometida com o objetivo de “reforçar a cooperação com as empresas” e contrariar o “declínio demográfico” do país, fixando estas pessoas em Portugal.
“Mais cosmopolitismo” nas empresas
O presidente da AICEP, Luís Castro Henriques, destacou, por outro lado, que este novo programa surge numa altura em que Portugal se tornou “um polo que precisa de recursos humanos qualificados” e responde a uma “nova necessidade” do país para captar talento, aumentar a produtividade e “trazer mais cosmopolitismo às empresas” nacionais. E esta iniciativa, que visa “um conjunto de alunos que já estão cá e têm afinidade” com o país, pode dar-lhes “uma primeira experiência e [a possibilidade de] evoluir dentro do espetro dessa empresa”.
Questionado sobre a ambição para este programa, na sua versão definitiva a partir do segundo semestre deste ano, Castro Henriques, que está de saída da agência pública, confia que o número de participantes vai “crescer gradualmente”. Com o “universo crescente de estudantes estrangeiros e com o interesse que as empresas têm demonstrado em ter estes quadros”, arrisca que poderá vir a aproximar-se do volume de estágios do Inov Contacto, que abrange entre 200 e 300 pessoas por edição.
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