Será que as minhas poupanças precisam de ajuda?

As crises raramente avisam e menos vezes ainda pedem autorização para se instalar. Por isso, mais vale prevenir do que remediar em relação ao seu dinheiro.

Desde a falência do Silicon Valley Bank que os receios em redor da sustentabilidade do setor bancário norte-americano e europeu não param de crescer. Os alarmes soaram ainda mais alto com o conhecimento da débil situação financeira do Credit Suisse na semana passada, que só foi possível estancar porque as autoridades financeiras suíças abriram os cordões à bolsa e o UBS achou boa ideia comprar o histórico banco (e seu eterno rival) a um terço do preço que ele negociava na sexta-feira.

Nem mesmo as repetidas declarações de solidez e segurança dos bancos proferidas pelas autoridades bancárias e políticas dos EUA e da Europa têm conseguido deter a sangria que se tem feito notar em redor da cotação das ações da banca. Ainda esta segunda-feira, o índice Stoxx Europe 600 Banks Index, que agrega os 43 maiores bancos da Europa, chegou a desvalorizar mais de 5%, após nas últimas duas sessões ter afundado mais de 15%.

Em Portugal, os investidores penalizaram o BCP, o único banco cotado, enquanto os analistas e economistas recordam o que se passou na última década. Os episódios do passado recente ainda estão presentes na mente e particularmente no bolso de muitos aforradores, investidores e dos contribuintes. No entanto, os receios prendem-se com o potencial efeito de contágio dos stresses da banca norte-americana e alguma europeia, do que propriamente pelos balanços da banca nacional. Percebe-se bem porquê: os dados mais recentes mostram que os bancos vivem o período mais confortável dos últimos 25 anos e estão a somar lucros como há muito não se via.

Além disso, história mais recente mostra-nos que mesmo numa situação de aperto por parte dos bancos, particularmente na Europa, tanto os governos como os bancos mais sólidos acabam por salvar as instituições em dificuldades.

Foi isso que se passou em 2008 com o Northern Rock, que foi salvo pelo governo de Sua Majestade; foi isso que sucedeu com o Fortis, que foi resgatado pelos governos do Benelux; e foi o que aconteceu em Portugal nos últimos anos com a panóplia de bancos que fechou as portas (BES, BPP, BPN e Banif), mas foram salvas pelo Estado ou adquiridas por outras instituições.

Apesar desta “segurança”, convém estar bem preparado. As crises raramente avisam e menos vezes ainda pedem autorização para se instalar. Por isso, mais vale prevenir do que remediar em relação ao seu dinheiro.

  • Depósitos
    Há mais de 30 anos que os depósitos bancários estão garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Mas há limites: este mecanismo garante o reembolso da totalidade dos seus depósitos em cada instituição de crédito até ao limite máximo de 100 mil euros por depositante. Isto significa que a salvaguarda do Fundo de Garantia de Depósitos é conferida por depositante e por instituição. Assim, numa conta com dois titulares, a garantia do montante aplicado sobe para 200 mil euros; que é o mesmo de ter duas contas no mesmo banco com o mesmo titular. Para mitigar o risco, o ideal é distribuir as poupanças aplicadas em depósitos acima de 100 mil euros por outras instituições.
  • Planos poupança reforma (PPR)
    Os fundos e os planos de poupança reforma (PPR) são geridos por seguradoras ou sociedades gestoras de ativos e, tradicionalmente, comercializadas pelos bancos. Significa que os bancos são apenas intermediários de quem gere e de quem investe as poupanças, mas a titularidade dos ativos é sempre do investidor. Numa situação de falência, o dinheiro investido nestes ativos não se esfuma como o capital do banco, porque esse dinheiro não pertence à instituição financeira. Os ativos são e continuarão a ser do investidor. Na eventualidade do banco encerrar as suas operações, apenas terá de solicitar a transferência do PPR para outra instituição ou pedir o seu resgate. A falência do banco em nada intervirá com o recebimento dos fundos ou com a transferência do PPR. Em alguns planos de seguros PPR, nomeadamente em quase todos os que têm capital garantido, se os documentos do PPR não referirem que se trata de um fundo autónomo, o investimento é garantido pelo balanço das seguradoras.
  • Fundos de investimento e ações
    O princípio que se aplica aos fundos e aos planos de poupança reforma, aplica-se também aos fundos de investimento, independentemente dos ativos em que investe, e a uma carteira de ações. Como os bancos são apenas responsáveis pela comercialização e guarda dos produtos, e não detentores desses ativos, os fundos de investimento e as ações não respondem perante qualquer responsabilidade do banco. A carteira de investimento do investidor é da sua exclusiva responsabilidade e titularidade. A perda do capital investido só acontece caso parte destes ativos (ações, obrigações, papel comercial) estejam diretamente expostos ao banco que faliu.

Texto incluído na edição de 21 de março do Portefólio Perfeito que pode subscrever através deste link.

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