“A sustentabilidade é oportunidade para o setor segurador”

  • ECO
  • 3 Maio 2023

A relevância crescente da sustentabilidade traz consigo uma oportunidade para a reinvenção das estratégias das empresas, nomeadamente das seguradoras, afirma Aida Rodriguez Moral, da Accenture.

Aida Rodriguez Moral é Managing Director da Accenture, responsável pela área de sustentabilidade nos serviços financeiros na mercado da Ibéria, defende que existem vários papéis essenciais no desenvolvimento sustentável, nomeadamente o papel de segurador. “As empresas que conseguirem evoluir para um modelo de sustainability-by-design na sua atividade vão ter uma vantagem competitiva relevante e diferenciadora no mercado”, refere em entrevista por escrito ao ECO Seguros. Aida Rodriguez Moral é oradora na conferência que decorre esta quinta-feira em Lisboa sobre o setor segurador e a sustentabilidade.

Quando se fala que a sustentabilidade deve estar no ADN da indústria seguradora, deve concluir-se que todas as áreas, planos e ações ou geografias das companhias têm de considerar de igual modo a sustentabilidade na sua atitude?

Todas as indústrias devem responder à necessária intersecção de todas as dimensões inerentes ao seu negócio, incluindo a sustentabilidade. No caso das companhias de seguros, existem quatro papéis essenciais no desenvolvimento sustentável: o papel de segurador, o de gestor de riscos, o de empresa e o de investidor.

Nesta perspetiva, a sustentabilidade deve constar no centro da atividade, aliado ao poder da tecnologia por forma a gerar um valor verdadeiramente diferenciador. Hoje deparamo-nos com uma evolução notória e célere de todo o mercado, seja do lado da procura por produtos mais verdes, pela pressão regulatória referente ao cumprimento de metas sustentáveis ou pela mudanças nas carteiras de investimento.

Todas estas dimensões são globais e não apenas locais, o que nos leva a crer que as empresas que conseguirem evoluir para um modelo de sustainability-by-design na sua atividade vão ter uma vantagem competitiva relevante e diferenciadora no mercado.

Envolver stakeholders sem os penalizar é um desafio para as companhias? Os seguros estão a conseguir superar o gap de gerações, – mais velhos talvez mais céticos, mais novos aderentes desde que não seja mais caro – em relação ao modo como encaram a sustentabilidade?

O debate atual prende-se com a inclusão da sustentabilidade enquanto fator decisivo para o desenvolvimento económico. A título de exemplo, mais de 50% do PIB mundial depende de serviços provenientes na natureza, pelo que se torna urgente compreender as necessidades atuais e futuras no que a este tema diz respeito.

Deste modo, as empresas poderão traçar uma estratégia que considere não só os seus objetivos, como o ambiente, as causas sociais e a sociedade como um todo – o que por si só é valorizado por todas as gerações, ainda que o demonstrem de formas distintas.

Por outro lado, estamos diante de uma oportunidade relevante para o mercado segurador, uma vez que a maioria dos consumidores vive um paradoxo entre o que diz querer fazer e o que é efetivamente capaz de fazer. Em termos de sustentabilidade, esta premissa está bastante presente no nosso dia-a-dia, como a cada vez que se refere a bicicleta como um meio de transporte com menor impacto ambiental enquanto se conduz um automóvel altamente poluente. As companhias de seguros podem desempenhar um papel muito interessante, acompanhando os clientes nos seus paradoxos e dando-lhes incentivos para os resolverem (por exemplo, um seguro automóvel que custa menos à medida que se conduz menos).

O desafio para as companhias de seguros passa pela comunicação deste valor de forma assertiva e facilmente assimilável para todos os seus stakeholders que lhes permita interiorizar o beneficio genuíno desta revolução verde.

A reputação e comunicação, parecem decisivas. Tem mesmo de se parecer ou basta ser (mais sustentável)?

A sociedade tem evoluído para um modelo de responsabilização corporativa, o que permite que os consumidores assumam as suas escolhas – as quais resultam de um alinhamento entre valores e princípios pessoais e a sua representação nos produtos a que se associam. Neste sentido, as empresas precisam de incorporar as suas mensagens de sustentabilidade na estratégia apresentada ao cliente, posicionando-se, deste modo, num mercado que cada vez mais valoriza as temáticas de sustentabilidade.

Atualmente, o greenwashing apresenta-se como a principal ameaça na comunicação sobre sustentabilidade devido à falta de normas e de informação disponível. As empresas devem evitá-lo e gerir os riscos associados, os quais podem constar em alegações ou rótulos enganosos provenientes de fornecedores. É essencial que se domine a definição de “seguro sustentável” como ponto de partida para o desenvolvimento sustentável. A centralização da sustentabilidade nas estratégias e modelos de negócios não é apenas um imperativo climático, mas acima de tudo uma rede de segurança para um crescimento sólido, capaz de acrescentar uma camada extra de resiliência para as seguradoras. Não basta parecer (mais sustentável), é mesmo preciso ser (mais sustentável).

Para além do lado interno, as companhias têm de se posicionar para clientes. Na subscrição, ou não, de certos riscos e nos investimentos de ativos (em empresas igualmente sustentáveis) que realizam com o dinheiro dos clientes. A exigência legal e de imagem está a apertar a que velocidade? Está-se a perder negócio relevante?

A relevância crescente da sustentabilidade no panorama económico e social traz consigo uma oportunidade para a reinvenção das estratégias das empresas, nomeadamente das seguradoras, sendo altamente recomendável o uso de tecnologia e inovação para um crescimento robusto.

A taxonomia europeia representou uma “mudança de paradigma” em termos da definição de produtos sustentáveis e à medida que a sustentabilidade ganha espaço e relevância na economia, revela-se um custo de oportunidade crítico para as seguradoras que não adotem as melhores estratégias de ESG (Enviromental, Sustainability and Governance).

Ainda longe de ser um fator de “perda de negócios”, a pressão regulamentar representa uma oportunidade para o lançamento de novos produtos (por exemplo, seguros de transição: não se trata apenas de segurar atividades – ativos sustentáveis por definição).

Num outro prisma, as seguradoras têm também um papel muito interessante a desempenhar como consultores, nomeadamente no acompanhamento de empresas de setores com utilização intensiva de carbono em processos de transição e descarbonização. A indústria seguradora tem aqui um papel de liderança no mercado global sendo por isso importante que o encarem com confiança e naturalidade em todas as suas dimensões.

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