Rússia está a espiar cabos submarinos e tem Portugal no radar

Alto responsável da NATO avisou que a Rússia está a fazer um levantamento dos cabos submarinos e infraestruturas críticas na Europa e nos EUA. Portugal está no radar dos russos.

Henrique Gouveia e Melo chamou a atenção em março para espionagem russa ao largo da MadeiraHOMEM DE GOUVEIA/LUSA

A Rússia estará a mapear a localização de infraestruturas críticas na Europa e nos EUA, incluindo dos cabos submarinos por onde passa o grosso das comunicações transatlânticas, alertou o responsável dos serviços de informações e segurança da NATO, David Cattler. Portugal assume uma posição central neste tema, por ser um importante ponto de amarração destes cabos e devido à sua vasta zona económica exclusiva.

“Há crescentes preocupações de que a Rússia possa atacar cabos submarinos e outras infraestruturas críticas, num esforço para causar disrupção na vida ocidental e ganhar vantagem contra esses países que estão a dar apoio à Ucrânia”, disse David Cattler, citado pela Bloomberg esta quarta-feira.

A agência noticiosa recorda as declarações recentes do almirante português Henrique Gouveia e Melo à RTP. Em março, Gouveia e Melo afirmou que um navio russo que passou ao largo da Madeira era um navio espião numa ação de levantamento de cabos submarinos. O incidente ganhou mediatismo por causa da recusa de militares portugueses em embarcarem no navio NRP Mondego, que ia ao encontro desse navio russo, alegando más condições da embarcação da marinha.

“É um navio de espionagem que anda atrás e a medir os cabos submarinos e as infraestruturas dos cabos submarinos e nós temos de ter preocupação face ao significado que isso tem em termos militares”, disse Gouveia e Melo, aos jornalistas.

Portugal é ponto de amarração de cabos submarinos

Fonte: submarinecablemap.com

Fontes do ecossistema dos cabos submarinos evitam fazer comentários em público e até em privado sobre o interesse russo nestas infraestruturas. No entanto, pelo menos uma pessoa familiarizada com o assunto comentou com o ECO saber da ocorrência de outros incidentes deste tipo no passado recente.

O aumento do interesse público nestas infraestruturas críticas, mas praticamente invisíveis, por estarem no fundo do mar, está a crescer em Portugal, sobretudo este ano, no contexto da guerra na Ucrânia. Um sinal disso são as conferências que começam a surgir em torno deste assunto.

Por exemplo, em março, a embaixada britânica em Lisboa promoveu um seminário sobre cabos submarinos e cibersegurança onde estiveram presentes representantes militares dos dois países, dos reguladores das comunicações português e britânico, e do Governo português. Já em abril, Cascais acolheu a Carrier Community Submarine Summit, um evento internacional do setor.

Esse interesse tem sido acompanhado de investimento. Em 2021, foi inaugurado o cabo submarino EllaLink, que liga Sines a Fortaleza, no Brasil. Também está em curso a construção do cabo Medusa, que deverá chegar a Carcavelos em 2024, ligando nove países de África e da Europa. O próprio Governo português, através da IPTelecom, a operadora estatal, tem em curso o processo de substituição do anel CAM, que liga continente, Açores e Madeira, cujas ligações atuais estão em vias de ficar obsoletas.

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