Iberia a comprar a TAP é uma ameaça? “Slots” são o maior ativo de uma companhia aérea, lembra gestor

Ramiro Sequeira, administrador da TAP, diz que divergências entre CEO e Alexandra Reis não impediu que fossem "tomadas as decisões para o bom funcionamento da empresa".

Ramiro Sequeira, administrador da TAP, defendeu na comissão de inquérito à TAP esta quarta-feira que as faixas horárias (slots) de descolagem no aeroporto são o maior ativo de uma companhia aérea. O que protegeria o aeroporto Humberto Delgado e a TAP no caso de ser adquirida por uma companhia como a dona da Iberia.

O chief operations officer da TAP, que trabalhou no Grupo IAG antes de entrar na companhia portuguesa, não quis dar a sua opinião pessoal sobre o impacto de uma possível compra pela dona da Iberia na reprivatização. Mas quis partilhar uma visão “diferente” da que tem dominado a opinião pública.

Salientando não se estar a referir ao caso concreto, mas de forma conceptual, salientou que “um dos maiores ativos de uma companhia aérea são os slots“, as faixas horárias de descolagem e aterragem.

“Quem faz um investimento numa companhia e faz um investimento de muitos milhões de euros em que o principal ativo são os slots, se desviar o tráfego a concorrência pode entrar. Está-se a desvalorizar esse investimento”.

Ramiro Sequeira dá assim a entender que mesmo que a dona da Iberia comprasse a TAP, não teria interesse em acabar com voos operados a partir de Lisboa e desviá-los para Madrid, perdendo o direito a essas faixas horárias. Ainda assim, disse que não era certo que esse desvio não pudesse acontecer.

O antigo CEO interino entre setembro de 2020 e junho de de 2021 defendeu também que a alternativa ao plano de reestruturação “era o fecho da companhia”. Ramiro Sequeira assinalou que a TAP tinha saídas de caixa mensais de 80 milhões e não conseguia recorrer aos mercados.

Questionado sobre o que se perderia caso a TAP fechasse, respondeu que “certamente haveria uma lacuna no tempo entre o momento em que uma empresa fecha e outra abre. Haveria impacto social, impacto nos postos de trabalho indiretos, que atualmente são cerca de 100 mil. Haveria impacto nos impostos, porque não se produziria a mesma quantidade em Portugal”.

A relação entre a ex-CEO e a antiga administradora executiva Alexandra Reis também foi suscitada pelos deputados. Ramiro Sequeira disse que “tinha dificuldade em definir divergências”. “Como em qualquer comissão executiva havia momentos em que havia opiniões divergentes. Penso que faz parte e é saudável”, acrescentou. “A meu ver nunca deixaram de ser tomadas as decisões para o bom funcionamento da empresa por estas pessoas ou outras da comissão executiva”.

O responsável pelas operações da TAP reconheceu que a companhia aérea tem “desafios em algumas áreas específicas” no quis diz respeito à falta de recursos humanos. “Esperamos ter o melhor verão possível”, afirmou. Ramiro Sequeira recusou que faltem tripulantes na companhia, afirmando que entraram 400 novos profissionais, tendo a transportadora recebido mais de duas mil candidaturas.

O administrador executivo assinalou que “há um fator colateral que é o congestionamento que vivemos no aeroporto de Lisboa. Não só da infraestrutura mas também do espaço aéreo”. Assinalou ainda que “quando a capacidade está acima de um certo limiar afeta as companhias pelo efeito de bola de neve dos atrasos”.

“Os colegas da ANA e da NAV fazem o melhor que podem mas é uma questão que deve ser analisada ao mais alto nível e tem de ser cuidada para que o novo aeroporto venha a estar blindado a futuras saturações do espaço aéreo”, acrescentou. Questionado sobre o valor que a companhia aérea estará a perder pela falta de uma nova infraestrutura, Ramiro Sequeira referiu apenas que são “milhões”.

Mariana Mortágua, do BE, questionou o administrador executivo sobre a perda de slots (faixas horárias de aterragem e descolagem) decorrente do plano de reestruturação aprovado em Bruxelas. “Tal como preferíamos que nenhum colega de trabalho tivesse saído, também preferíamos não ter perdido nenhum slot. 18 é um numero aceitável e não teve grande impacto na operação da TAP”, respondeu.

Ramiro Sequeira entrou para a administração da TAP em 2018 como chief operations officer. Em 2020, com a saída de Antonoaldo Neves foi nomeado pelo Governo para CEO, apanhando a fase mais crítica da pandemia. Ficou no cargo até à entrada de Christine Ourmières-Widener no final de junho de 2021.

Na sua intervenção inicial, deixou uma nota pessoal. “Na altura em que fui convidado para conduzir a TAP, num momento muito critico, havia vários fatores que podiam levar a que não corresse bem para a TAP e para mim. Estar aqui mostra que nem tudo correu bem, mas a TAP sobreviveu. Manteve intacto o nível de negócio, os trabalhadores e conseguiu atingir resultados positivos”, sublinhou.

A comissão parlamentar de inquérito para “avaliar o exercício da tutela política da gestão da TAP” foi proposta pelo Bloco de Esquerda e aprovada pelo Parlamento no início de fevereiro com as abstenções de PS e PCP e o voto a favor dos restantes partidos. Nasceu da polémica sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis para deixar a administração executiva da TAP em fevereiro de 2022, mas vai recuar até à privatização da companhia em 2015. Tomou posse a 22 de fevereiro, estendendo-se por um período de 90 dias, devendo terminar a 23 de maio.

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