Cavaco diz que Costa “perdeu a autoridade” e sugere que apresente a demissão

Num discurso muito duro, o ex-Presidente da República afirmou que o primeiro-ministro "perdeu a autoridade" e que o Executivo passa "os dias a mentir". Mas desaconselha moções de censura.

O antigo Presidente Cavaco Silva deixou críticas muito duras ao Governo num longo discurso este sábado no 3.º encontro de autarcas sociais-democratas, em Lisboa. O ex-líder do PSD afirmou que o primeiro-ministro perdeu a autoridade e não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui e que o Executivo irá deixar uma herança pesada para o país.

O antigo primeiro-ministro deixou claro ao que vinha logo no início da sua intervenção, ao dizer que o primeiro motivo porque aceitava o convite para discursar se devia ao facto de estar “seriamente preocupado com as consequências para o país da governação do Partido Socialista”.

Foi o PS e o seu Governo que colocaram o país na trajetória de empobrecimento e de profunda degradação da situação política nacional”, disse, lançando o mote para um vasto conjunto de críticas ao Executivo.

A falta de rumo e a falta de visão estratégica são o resultado de um primeiro-ministro que perdeu a autoridade e não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui — dirigir o funcionamento do Governo e a política geral do Executivo e coordenar e orientar todo os ministros. São competências que os analistas políticos parecem ter esquecido”, atirou Cavaco Silva.

Recentemente, praticamente durante um mês, não há um dia em que, na imprensa ou na televisão, não fosse feita a demonstração de que o Governo mente. Perguntem aos vossos munícipes se ainda se pode acreditar em que passa os dias a mentir.

Aníbal Cavaco Silva

Ex-Presidente da República

“Recentemente, praticamente durante um mês, não há um dia em que, na imprensa ou na televisão, não fosse feita a demonstração de que o Governo mente. Perguntem aos vossos munícipes se ainda se pode acreditar em quem passa os dias a mentir”, disse o antigo líder dos sociais-democratas.

O antigo Presidente desencorajou, no entanto, o recurso a moções de censura. “O PSD não deve ir a reboque de moções de censura apresentadas por outros partidos mais preocupados em ser notícia na comunicação social. É certo que a governação socialista tem sido desastrosa, mas importa ter presente que o atual Governo só há poucos dias completou uma ano de efetividade de funções e goza do apoio maioritário da Assembleia da República. Essas moções de censura servem os interesses socialistas, desviam a atenção dos casos reprováveis e dos erros da sua governação”.

Pode, no entanto, ser António Costa a sair pelo seu próprio pé. “Em princípio, a atual legislatura termina em 2026, mas às vezes os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país ou de um rebate de consciência, decidem apresentar a demissão e têm lugar eleições antecipadas. Foi isso que aconteceu em março de 2011″, assinalou.

PSD não deve preanunciar política de coligações

Cavaco Silva garantiu que o PSD tem uma visão alternativa para a governação e que Montenegro está preparado para liderar o país: “Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando assumi o poder em 1995 e está tão ou mais preparado do que eu estava”.

“O PSD e a sua liderança têm vindo, e bem, a denunciar os erros, os abusos de poder, as omissões e as mentiras e violação de ética política por parte do Governo e a sua falta de sentido de Estado”, sustentou, acrescendo que “é totalmente falso que o PSD não tenha vindo a apresentar alternativas ao poder socialista”.

“A liderança do PSD, que ainda não completou um ano, já apresentou programas bem estruturados nos domínios da emergência social, do orçamento, da educação e da habitação, programas de muito melhor qualidade do que as políticas do Governo nesta aéreas”, disse, num discurso interrompido muitas vezes pelas palmas da assistência.

É minha opinião que o PSD não deve cometer o erro de preanunciar qualquer política de coligações tendo em vista as próximas eleições legislativas. Se o PS, que está em queda, não o faz, porque é que o PSD, que está a subir, deve fazê-lo?

Aníbal Cavaco Silva

Ex-Presidente da República

Além de evitar moções de censura ao Governo, deixou outros conselhos ao partido que liderou: “O programa eleitoral do PSD só deve ser apresentado na proximidade do ato eleitoral, como é normal, de modo a ter em devida conta os desenvolvimentos recentes na cena nacional e internacional”.

Outra recomendação: “É minha opinião que o PSD não deve cometer o erro de preanunciar qualquer política de coligações tendo em vista as próximas eleições legislativas”. “Se o PS, que está em queda, não o faz, porque é que o PSD, que está a subir, deve fazê-lo? É uma armadilha orquestrada pela central de comunicação socialista, em que algumas boas ou ingénuas intenções têm caído”, acusou.

Para o Presidente e antigo primeiro-ministro, “falta ainda convencer 8% a 9% de eleitores para o PSD obter o mesmo resultado que o PS obteve nas últimas eleições. Não me parece um resultado impossível de alcançar. Requer trabalho, muito trabalho e união à volta do líder que os militantes escolheram no verão passado e que tem feito um trabalho competente, honesto e construtivo, sem gritaria e respeitando os adversários”.

Falta ainda convencer 8% a 9% de eleitores para o PSD obter o mesmo resultado que o PS obteve nas últimas eleições. Não me parece um resultado impossível de alcançar.

Aníbal Cavaco Silva

Ex-Presidente da República

“O PSD é a única opção de voto credível para todos os eleitores que querem libertar Portugal do Governo socialista e de uma oligarquia que se considera dona do Estado”, defendeu. Garantiu ainda ser “totalmente falsa a afirmação de que há ambiguidade no PSD quanto às orientações do futuro Governo. A identidade do PSD é bem conhecida de todos. É a alternativa social-democrata que assenta nos valores essenciais da liberdade, da democracia, da justiça social, da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Valores adotados por Sá Carneiro como base de sustentação do partido”.

“O PS, esse sim, precisa de esclarecer o manto de ambiguidades em que está escondido”, atirou, lembrando o apoio parlamentar do PCP e Bloco de Esquerda, “partidos antieuropeístas, anti-NATO, ambíguos na condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia e que apoiam países onde impera a ditadura, a miséria, e a violação dos direitos humanos”.

PS vai deixar uma herança “extremamente pesada”

Cavaco Silva arrasou a governação socialista das últimas décadas. “O governo socialista do engenheiro Guterres deixou o país num pântano. O governo socialista do engenheiro Sócrates deixou o país numa situação de bancarrota, e tendo sido obrigado a negociar com a troika um programa de austeridade bastante duro a troco de empréstimos de 78 mil milhões de euros. O governo do Dr. Antonio Costa, apesar de beneficiar de apoios da União Europeia gigantescos, nunca antes verificados, vai deixar ao próximo Governo uma herança extremamente pesada“.

“Não exercendo as competências que a Constituição explicitamente lhe atribui e sendo o Governo um somatório desarticulado e sem rumo de ministros e secretários de Estado, incapaz de lidar com a crispação social e os grupos de interesse, a sua tendência será para distribuir benesses, comprar votos e para despejar dinheiro para cima dos problemas e não para preparar um futuro melhor para Portugal”, criticou o ex-Presidente.

O Governo socialista vai deixar ao próximo Governo um país com um stock de capital físico fraco, uma juventude qualificada e inovadora em fuga para o estrangeiro, uma Estado enorme e ineficiente, uma produtividade baixa, um nível de impostos demasiado elevado para o nosso nível de desenvolvimento, e uma pequena taxa de poupança.

Aníbal Cavaco Silva

Ex-Presidente da República

“O Governo socialista vai deixar ao próximo Governo um país com um stock de capital físico fraco, uma juventude qualificada e inovadora em fuga para o estrangeiro, um Estado enorme e ineficiente, uma produtividade baixa, um nível de impostos demasiado elevado para o nosso nível de desenvolvimento e uma pequena taxa de poupança”, criticou.

Sem um crescimento sustentado da economia portuguesa, de cerca de 3 ou 4% ao ano, não é possível responder aos desafios essenciais que Portugal enfrenta, melhorar a qualidade dos serviço prestados pelo SNS, pela escola pública e pela justiça, e deixar de ser um país de salários baixos em que o salário médio está próximo do salário mínimo”, considerou.

O próximo Executivo terá, por isso, uma árdua tarefa. “Um futuro Governo social-democrata presidido pelo Dr. Luís Montenegro terá à sua frente muito trabalho. Quando chegar a hora, uma nova esperança se abrirá aos portugueses, alicerçada no espírito reformista do PSD, no humanismo da social-democracia, na defesa intransigente dos direitos humanos e na integração europeia e atlântica”.

Terminou o discurso com um apelo: “Sejam o veículo dessa esperança e ajudem a construir no país o futuro de Portugal que todos ambicionamos. Um país em que a democracia se traduz em melhor qualidade de vida, em que podemos ter orgulho naquilo que fomos e naquilo que somos, um país que permita a todos, impendente do sítio e da condição em que nascem, desenvolver as duas competências pessoais”.

(Notícia atualizada pela última vez às 21h06)

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