Nenhum trabalhador pode estar “sujeito à vontade de uma máquina”, avisa sindicato europeu

  • Lusa
  • 23 Maio 2023

"Da mesma forma que os tratados europeus garantem a saúde ou a segurança no trabalho, é preciso garantir o princípio do controlo humano sobre a máquina", disse a dirigente sindical europeia.

A Confederação Europeia de Sindicatos defendeu esta terça-feira que nenhum trabalhador pode estar “sujeito à vontade de uma máquina” e defendeu que a União Europeia deve garantir o “princípio do controlo humano” sobre as tecnologias de inteligência artificial.

“Da mesma forma que os tratados europeus garantem a saúde ou a segurança no trabalho, é preciso garantir o princípio do controlo humano sobre a máquina”, disse Esther Lynch, dirigente sindical europeia em entrevista à France Presse.

A irlandesa, de 60 anos, nomeada secretária-geral da Confederação Europeia dos Sindicatos (CES) em dezembro passado, disse que é preciso ter a “garantia de que nenhum trabalhador jamais será submetido à vontade uma máquina”. Esther Lynch preside ao congresso da organização que acontece a cada quatro anos e que decorre entre estas terça-feira e sexta-feira em Berlim, capital da Alemanha.

A chegada do software ChatGPT no final do ano passado voltou a pôr o foco nas mudanças que a inteligência artificial trará para muitas profissões. Enquanto uns se entusiasmam com o possível desaparecimento das tarefas mais repetitivas, outros preocupam-se com o desaparecimento de muitos postos de trabalho, a desumanização da tomada de decisões e as consequências dos domínios mais íntimos dos trabalhadores.

Lynch apelou para que a UE debata com os sindicatos a regulação destas ferramentas. A UE está atualmente a debater um pacote legislativo para regular certos usos da de inteligência artificial (IA) e proibir outros, como a “vigilância generalizada de uma população”.

A dirigente defende ainda que todos têm de beneficiar “dos ganhos de produtividade proporcionados pela inteligência artificial”, trabalhadores e acionistas, e recordou que, no ano passado, “as maiores empresas da Europa viram os seus dividendos subirem muito mais do que os salários”.

Sobre os efeitos da política monetária restritiva do Banco Central Europeu (BCE) para combater a inflação, a dirigente sindical disse que “os trabalhadores são as principais vítimas do aumento dos juros”. “A solução é tributar os dividendos e redistribuir a riqueza”, afirmou. Em fevereiro deste ano, o Presidente tunisino, Kais Saied, ordenou a expulsão da principal responsável sindical da União Europeia por declarações que Tunis qualificou de “ingerência flagrante” nos assuntos internos do país, disse a presidência em comunicado.

Lynch “participou numa manifestação organizada pela União Geral Tunisina do Trabalho (UGTT) e emitiu declarações que constituem uma ingerência flagrante nos assuntos internos da Tunísia”, segundo o comunicado. As autoridades deram-lhe 24 horas para deixar a Tunísia, onde passou a ser considerada ‘persona non grata’, segundo a mesma fonte.

A responsável sindical participou numa manifestação na cidade portuária de Sfax (centro-leste), em protesto contra a prisão no final de janeiro de Anis Kaabi, importante responsável sindical local, e contra a degradação da situação económica. “Dizemos aos governos: não toquem nos nossos sindicatos, libertem os nossos dirigentes”, disse Lycnh ao dirigir-se à multidão.

Na entrevista à France Presse, Lynch disse que fez “um discurso moderado, respeitoso, a apoiar os sindicatos locais”. A dirigente contou que recebeu a visita das autoridades no seu hotel e que foi intimidada a deixar o país em 24 horas. “Mentiria se dissesse que não senti medo”, afirmou. Um estudo da Confederação Europeia de Sindicatos, divulgado esta terça, indica que uma das chaves para combater a falta de mão-de-obra na Europa é a oferta de melhores salários.

Utilizando uma análise comparativa das ofertas de emprego e dos salários em 22 países da União Europeia (UE), o estudo mostra que os setores que têm mais problemas em encontrar pessoal pagam, em média, menos 9% do que aqueles que têm mais facilidade em recrutar mão-de-obra.

O relatório surge depois de a taxa de ofertas de emprego na UE ter atingido níveis recorde no ano passado, causando problemas de produção em 25% das empresas. Embora esta situação tenha sido normalmente atribuída à falta de pessoal qualificado para alguns postos de trabalho, a nova análise, realizada pelo Instituto Sindical Europeu, indica que os baixos salários são um dos principais fatores subjacentes à escassez de mão-de-obra.

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