Catarina Martins critica foco do primeiro-ministro no PRR e em betão
Líder bloquista critica a “ideia de que fazer obra por si só, que o betão por si só, será a medida de um sucesso do Governo”, considerando que este é o projeto de António Costa.
A coordenadora do BE defende que o primeiro-ministro está focado no PRR e em “ter obra feita para mostrar”, sendo atrasados todos os outros dossiês, avisando que inaugurar apenas betão “não é um projeto democrático em si”.
Catarina Martins deixa este fim de semana a liderança do BE após uma década à frente dos destinos do partido e, em entrevista à agência Lusa, quando questionada sobre a atuação do primeiro-ministro, aponta que “António Costa alcançou os objetivos políticos a que se propôs sempre e isso é admirável”, restando saber o que “faz com eles”.
“Agora tem uma maioria absoluta que está absolutamente enredada nos seus próprios erros. Eu sei que há quem, no Partido Socialista, fique muito irritado quando a oposição fala dos erros permanentes, mas na verdade, a única solução era o PS não errar tanto”, sustenta.
Na análise da ainda líder do BE, “António Costa está focado apenas numa coisa, que é o PRR”, ou seja, “os fundos europeus serem executados e ter obra feita para mostrar”.
“Sabe que a obra feita demora a chegar, não se concentra no resto, todos os outros dossiês são atrasados. Aliás, quer poder ter números de défice e de dívida que sejam sempre uma surpresa para agradar à Europa, que é uma coisa bastante desastrosa para Portugal”, critica.
Com outros problemas “a acumularem-se” no país, Catarina Martins acrescenta que “desde que esses números estejam bem”, porque dá “uma credibilidade internacional” a António Costa, tudo o que o primeiro-ministro “quer é executar o PRR achando que a obra feita é que vai ser a forma como o Governo vai ser medido”.
A deputada bloquista critica a “ideia de que fazer obra por si só, que o betão por si só, será a medida de um sucesso do Governo”, considerando que este é o projeto de António Costa.
“É por isso que quer evitar que a direita chegue ao Governo e possa ser a direita a inaugurar as obras, António Costa quer ser ele a inaugurar a obra, mas para que projeto de país? Vamos inaugurar obras para fazer o quê no dia seguinte?”, questiona.
Ao contrário do Governo do PS que “acha que inaugurar a obra faz tudo”, Catarina Martins avisa que “inaugurar uma obra não é um projeto democrático em si”.
“Entretanto, as condições de vida das pessoas estão a degradar-se e as pessoas não podem esperar pela obra feita. Por outro lado, esta obra, feita numa economia mais degradada, é o quê? O PRR paga betão, paga até equipamentos, mas não paga salários”, condena, considerando que se podem estar “a construir elefantes brancos ou investir nos negócios privados, mas não vai ser em nome do país”.
Reiterando as críticas à atuação da maioria absoluta do PS – “uma espécie de carta que diz aos ministros que podem fazer o que apeteça e não têm de responder ao país” -, a bloquista condena ainda que os socialistas estejam a “voltar ao passado” em termos de política sobre o Estado social.
“É fazer de tudo política social, de apoio a quem fica abaixo um determinado rendimento, mantendo a carga fiscal elevadíssima nas chamadas classes médias e fazendo, por isso, uma descolagem do país em que as pessoas sentem que pagam para o que não têm – pagam o transporte que não têm, pagam a escola, que não têm professor, pagam o médico de família que não têm – e isso cria uma enorme fricção e mata a coesão social de que a democracia precisa”, elenca.
Um dos maiores perigos neste momento, na análise de Catarina Martins, é um PS que “acredita muito pouco na universalidade do Estado social”.
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