Kiev acusa Rússia de destruir barragem em Kakhovka. Destruição provocou derrame de 150 toneladas de óleo

  • Lusa
  • 6 Junho 2023

Destruição parcial da barragem resultou no derrame de 150 mil toneladas de óleo de motor no rio Dniepre. Inundações afetaram 24 localidades e cerca de mil civis foram retirados de Kakhovka.

As autoridades ucranianas acusaram esta terça-feira as tropas russas de fazerem explodir a barragem da central hidroelétrica de Kakhovka e pediram aos residentes nas zonas junto ao rio Dnipro, no sul da Ucrânia, que abandonem as habitações.

De acordo com as autoridades, a destruição resultou no derrame de 150 toneladas de óleo de motor no rio Dniepre. “Há também o risco de novas fugas de óleo, que terão um impacto negativo no ambiente”, alertou Daria Zarivna, assessora do chefe da administração presidencial ucraniana, Andriy Yermak, citada pela agência francesa AFP.

Numa mensagem na rede social Telegram, Yermak acusou a Rússia de ter cometido um ecocídio, um crime contra o ambiente.

Yermak alertou também que as cheias irão afetar os sistemas de irrigação na zona e prejudicar gravemente a produção agrícola, sendo “um golpe para a segurança alimentar mundial”. Trata-se do “pior desastre provocado pelo homem no mundo nas últimas décadas”, considerou Yermak, citado pela EFE.

O Comando Sul das Forças Armadas ucranianas avançou a destruição da infraestrutura, a 60 quilómetros da cidade de Kherson, e indicou que está a investigar a extensão dos danos, bem como a velocidade e a quantidade de água que deverá afetar as áreas vizinhas.

A Agência Internacional da Energia Atómica declarou que não havia “qualquer risco imediato para a segurança nuclear da central” de Zaporizhzhia, mas que estava a acompanhar a situação. Ainda assim, uma porta-voz do comando do sul da Ucrânia disse que a destruição da barragem afetará “certamente” o funcionamento da central nuclear, mas que não havia “necessidade de agravar a situação agora e tirar as conclusões mais críticas”.

O chefe da Administração Militar Regional de Kherson, Oleksandr Prokudin, disse, num vídeo publicado na plataforma Telegram, pouco antes das 07:00 (05:00 em Lisboa), que “o exército russo cometeu mais um ato de terror”.

Pelas 13h00, o ministro do Interior ucraniano, Igor Klymenko deu conta de que a destruição parcial da barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia, provocou já inundações em 24 localidades e cerca de mil civis foram retirados da zona.

As autoridades ucranianas disseram anteriormente que as inundações podem afetar 26 mil pessoas em 80 localidades.

O Ministério do Interior ucraniano pediu aos residentes de 10 aldeias na margem direita do rio Dnipro e de partes da cidade de Kherson que reúnam os documentos essenciais e animais de estimação, desliguem os aparelhos elétricos e abandonem as casas.

Imagens que circulam nas redes sociais, e que parecem ser de uma câmara de vigilância, com vista para a barragem, mostram um foco de luz, uma explosão e a barragem a desabar.

O chefe do gabinete da Presidência ucraniana, Andriy Yermak, revelou que o Presidente Volodymyr Zelensky, convocou, de forma urgente, uma reunião do Conselho de Segurança do país, após “mais um crime de guerra cometido pelo terroristas russos“.

Em resposta, Moscovo disse que a barragem desmoronou “devido a danos” causados pelo conflito, confirmando que os terrenos próximos estão a sofrer inundações.

“A barragem não aguentou, um suporte desabou e a inundação começou”, disse uma fonte à agência de notícias oficial russa TASS.

A barragem e a sua central hidroeléctrica, construídas em 1956, eram uma das maiores instalações energéticas da Ucrânia, contendo cerca de 18 quilómetros cúbicos de água e fornecendo eletricidade a mais de três milhões de pessoas.

Sendo uma parte crucial da infraestruturas energética do país, “a sua destruição teria consequências de grande alcance para além da área imediata“, disse Mustafa Nayyem, diretor da Agência Estatal para a Restauração da Ucrânia, acrescentando que poderia “levar a centenas de milhares de vítimas“.

“As forças militares russas podem considerar que o rompimento da barragem poderia cobrir a sua retirada da margem direita do Dnipro e impedir ou atrasar o avanço da Ucrânia através do rio”, disse Nayyem.

O autarca da cidade ocupada de Nova Kakhovka disse que, por volta das 02:00 (23:00 de segunda-feira em Lisboa), as forças ucranianas realizaram “uma série de ataques à central hidroelétrica de Kakhovka, que destruíram as válvulas”.

Também de acordo com a TASS, Vladimir Leontiev disse a água estava a sair da represa “de forma incontrolável”.

A Ucrânia e a Rússia tinham vindo a trocar acusações sobre alegados ataques à barragem e, em outubro, Zelensky avisou que a Rússia tinha colocado explosivos na estrutura para causar uma inundação e dificultar o avanço das tropas ucranianas.

Em fevereiro, os níveis da água na barragem de Kakhovka estavam tão baixos que muitos temiam um colapso na central nuclear de Zaporijia, ocupada pelos russos, cujos sistemas de arrefecimento são abastecidos com água de um reservatório mantido pela barragem.

Em meados de maio, após fortes chuvas e com a neve de inverno a derreter, os níveis da água subiram além dos níveis normais, inundando aldeias próximas.

 

Notícia atualizada às 13h36 com mais informações

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