Macron quer novas bases para o sistema financeiro global

Arranca a Cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global, que tem como metas a promoção de uma reforma do Banco Mundial e do FMI e a reestruturação da dívida dos países sobre endividados.

Arranca esta quinta-feira em Paris a Cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global, que contará com a presença de António Costa e de mais de 40 chefes de Estado e de Governo, além de muitas personalidades do setor privado.

No centro da discussão está a procura por soluções que levem a que “nenhum país tenha de escolher entre combater a pobreza ou proteger o planeta”, referiu um conselheiro do presidente francês, Emmanuel Macron, num encontro com jornalistas realizado na terça-feira, que contou com a participação do ECO.

A cimeira, que decorrerá até sexta-feira na capital francesa, tem o intuito de lançar as bases de um novo sistema financeiro internacional que responda à luta contra as desigualdades, as alterações climáticas e a proteção da biodiversidade. Para isso, em cima da mesa estarão três pontos essenciais:

  1. Restaurar a confiança entre todos os participantes através da procura de soluções que levem à concretização de compromissos já assumidos, mas não concretizados. É disso exemplo a mobilização de 100 mil milhões de dólares por ano para o financiamento do clima, que desde 2013, quando a meta foi estabelecida, ainda não foi alcançado num só ano; e o mesmo se aplica ao processo de reestruturação da dívida dos países sobre-endividados. “Todos os intervenientes são convidados a assumir compromissos na cimeira (…), mas este não é o cerne da cimeira, não é um evento de promessas”, lê-se num documento escrito pelos conselheiros de Macron.
  2. Fazer mais e melhor em termos de financiamento, nomeadamente no apoio aos países mais vulneráveis. Isso passará por um debate em redor de uma reforma do mandato das instituições financeiras multilateriais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela promoção de progressos no tratamento da dívida externa, para ajudar os países mais vulneráveis a escapar à armadilha do sobre-endividamento. Além disso, a cimeira pretende ainda criar uma unidade a favor de novos instrumentos fiscais à escala mundial, para financiar investimentos sustentáveis, incentivando simultaneamente a redução das emissões.
  3. Promover um maior envolvimento do setor privado no combate à pobreza e, ao mesmo tempo, incentivar novos investimentos na proteção do planeta. Para isso, a cimeira conta ser o ponto de partida na criação de um ambiente favorável ao investimento privado nas regiões em causa, eliminando os obstáculos regulamentares para alcançar um melhor equilíbrio entre a estabilidade financeira e a libertação de fundos. Além disso, para encorajar ações verdadeiramente sustentáveis e lutar contra todas as formas de “lavagem verde” (greenwashing), “é essencial disponibilizar a todos dados fiáveis sobre o impacto climático e a natureza das atividades das empresas, bem como sobre a sua dependência do planeta (necessidades de água ou de terra, por exemplo)”, lê-se no documento produzido pelos conselheiros do presidente Macron.

A cimeira na capital francesa está cheia de boas intenções, mas também de enormes desafios, nomeadamente o compromisso dos mais ricos para a realização de elevados investimentos. “A conversa que temos de ter agora é perceber como podemos cooperar para conseguirmos garantir estímulos económicos para a economia global”, destacam os conselheiros de Macron no encontro com os jornalistas.

Em matéria de reestruturação da dívida dos países sobre-endividados, por exemplo, não é por menos a presença da China na reunião. Recorde-se que Pequim é atualmente o maior credor bilateral do mundo, detendo cerca de 48% da dívida bilateral emitida entre 2010 e 2021.

A confiança dos conselheiros do presidente francês na concretização de todos os objetivos definidos é muita. “Queremos sair de Paris com um roadmap definido para os próximos anos“, refere a Presidência francesa, salientando que ao longo dos próximos dois dias decorrerão em Paris cerca de 30 eventos paralelos com esse objetivo e com o desejo de formular uma ambição comum nas próximas reuniões formais do G20 e da Cop28.

À margem da Cimeira, Macron irá reunir-se com alguns dos seus homólogos no Palácio do Eliseu, “para consolidar e aprofundar as conversas”, refere a Presidência francesa em comunicado.

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