Portugal é o país da OCDE com o maior aumento real dos custos laborais

Nos últimos três anos, o custo real do trabalho por unidade produzida aumentou 4,9% em Portugal. Mais nenhum país na OCDE contabilizou uma diferença tão grande entre salários e produtividade.

Nos últimos três anos, os custos laborais por cada unidade produzida aumentaram na maioria dos países, segundo o relatório “OECD Employment Outlook 2023”, publicado esta terça-feira. Isto acontece quando as remunerações dos trabalhadores (salários e outras compensações) em termos nominais registam um crescimento acima do aumento da produtividade.

É o caso de Portugal, que entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre deste ano registou um aumento de 19,2% dos custos laborais por produção, cerca de 1,2 vezes acima da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), segundo um relatório publicado pela OCDE esta terça-feira.

Entre os 29 países da OCDE com dados sobre esta matéria, apenas a Irlanda teve uma queda dos custos laborais por riqueza gerada ao longo do último triénio. Em sentido inverso está a Lituânia que, nos últimos três anos, registou um crescimento de quase 40% dos custos laborais.

No entanto, quando é considerada a inflação para efeitos de cálculo, Portugal salta para a frente do pelotão, apresentando o maior aumento real dos custos laborais por unidade produzida nos últimos três anos entre os países da OCDE.

Segundo dados da OCDE, o custo real do trabalho por cada unidade produzida em Portugal subiu 4,9% entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre deste ano, enquanto na média dos países da OCDE houve um decréscimo real de 1,1% dos custos laborais.

“Somos o país da Europa onde o salário mínimo está mais próximo do salário médio”, recorda João Cerejeira, professor da Universidade do Minho, notando também que Portugal é dos países onde o “salário mínimo mais subiu nos últimos anos”.

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Margens financeiras não acompanham custos laborais

Mas não foram apenas os custos laborais a subirem nos últimos anos. Também as margens de lucro das empresas aumentaram. Entre os países da OCDE, esse aumento foi de 21% e apenas cinco nações tiveram um aumento das margens de lucro abaixo da subida dos custos laborais.

Um desses países foi Portugal, que se ficou por um crescimento médio de 7,95% das margens de lucro das empresas ao longo dos últimos três anos. Entre os 29 países da OCDE analisados, Portugal é o quarto país com o pior desempenho.

Os números apresentados pela OCDE permitem concluir que, no último triénio, os custos laborais aumentaram 2,4 vezes mais que as margens de lucro das empresas nacionais, trata-se do triplo do rácio médio dos países da OCDE.

João Cerejeira refere que esta situação expressa a “existência de um problema de composição da economia portuguesa.” O professor da Universidade do Minho recorda que a maioria do tecido empresarial português é constituído por micro, pequenas e médias empresas e que essas são também as que agregam a maior população a receber o salário mínimo.

Considerando a forte subida do salário mínimo nos últimos anos, “é natural que a maioria das empresas tenha sentido uma maior contração das suas margens de lucro”, sobretudo em comparação com a evolução dos custos laborais.

O país que mais se aproxima de Portugal é França, que entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2023 contabilizou um aumento dos custos laborais 1,3 acima da subida das margens de lucros das suas empresas.

“A combinação do aumento dos custos unitários do trabalho e das margens de lucro é relativamente invulgar, uma vez que os aumentos de um são frequentemente absorvidos por uma queda do outro”, refere a OCDE. No entanto, os especialistas da OCDE sublinham que “a natureza específica da recuperação da crise da Covid-19 proporcionou provavelmente condições particularmente favoráveis à expansão das margens de lucro.”

Entre as várias situações que levaram a essa realidade está o facto de, durante o auge da pandemia, a queda das margens de lucro das empresas ter sido atenuada em muitos países por várias formas de apoio público, incluindo regimes de retenção de postos de trabalho, como lay-offs, “que subsidiaram a acumulação de mão-de-obra de uma forma sem precedentes.”

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