Guilherme e Victor viram aulas complexas em vídeos de 10 minutos para ajudar universitários

Plataforma criada no Porto durante a pandemia disponibiliza mais de 500 aulas das áreas de economia, gestão e engenharia para acabar com as más notas no ensino universitário.

A Hollow transforma disciplinas complexas em aulas de até 10 minutos para estudantes universitários. Cadeiras da faculdade como estatística, contabilidade e microeconomia são condensadas em vídeos gravados e ainda podem ser criados planos de estudo personalizados. A ideia nascida no Porto há dois anos, em plena pandemia, está a alcançar algumas das principais universidades portuguesas, quer entrar na formação para empresas e, para 2024, já tem Espanha na mira.

“O nosso objetivo é transformar a maneira como as pessoas aprendem, proporcionando uma experiência de aprendizagem personalizada, colaborativa e centrada no aluno”, sinalizam ao ECO Guilherme Calassi (responsável tecnológico) e Victor Souza (presidente executivo), os dois brasileiros que fundaram a Hollow. “Com a pandemia e o ensino remoto compreendemos a importância de promover uma educação mais inclusiva, flexível e adaptada ao contexto atual. Percebendo a necessidade de oferecer apoio aos estudantes, começamos a criar um site com vídeos e conteúdos que pudessem ajudá-los”, recordam. A ideia é apoiar as universidades.

Guilherme Calassi (esquerda) e Victor Hugo Souza são os fundadores da Hollow. A startup foi desenvolvida no UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto)

Atualmente, a Hollow tem vídeos gratuitos em oito disciplinas: matemática, estatística, macroeconomia, microeconomia, contabilidade e relato financeiro, controle de gestão, investigação operacional e pré-matemática (resumo dos conteúdos do ensino secundário). Para recolher as informações, a equipa da startup verifica o plano curricular das universidades e conta com o apoio das associações de estudantes para ter acesso aos materiais das disciplinas. Os dados são fundamentais para também serem criados os planos personalizados, mediante uma subscrição.

“O plano curricular é subdividido em tópicos menores, permitindo que o conteúdo seja abordado de maneira fragmentada. Ao invés de aulas de uma hora, as aulas são divididas em diversas sessões, de 5 a 10 minutos. Desta forma, os alunos reveem as aulas mais vezes e assimilam o conhecimento de forma mais consistente ao longo do tempo“, justificam os fundadores. Com uma equipa de 12 pessoas (inclusive os fundadores), a startup conta com mais de 2.000 utilizadores ativos e recebeu um apoio de 15.000 euros de um business angel brasileiro.

O poder da educação e as dificuldades por serem estrangeiros

Victor e Guilherme mudaram-se para Portugal na hora de irem para a faculdade. “Após concluir o ensino secundário no Brasil, tive a oportunidade de ingressar na Universidade do Porto e realizar o grande sonho de ser a primeira pessoa da minha família a entrar no ensino superior. Ao chegar a Portugal, tinha grandes expectativas sobre como seria meu processo de aprendizagem para me tornar um economista”, recorda Victor Souza. O cofundador lembra-se de ter de andar numa escola pública e numa privada entre os 12 e os 14 anos “para me nivelar com os restantes colegas”. Apenas uma bolsa de mérito permitiu-lhe frequentar a escola privada

Guilherme é o especialista na área tecnológica. Teve de aprender de forma autodidata e fez uma “imersão total em diversos bootcamps de grandes tecnológicas com presença no Brasil”. Aí, “pude conhecer muito mais o ecossistema e ver o poder que a tecnologia tem na transformação do mundo e as suas aplicações como ferramenta fundamental na solução de uma pluralidade de problemas”.

Com a mudança para Portugal surgiram vários problemas. “Percebemos que muitas abordagens e práticas tradicionais estavam desalinhadas com as necessidades da geração atual. A educação ainda era predominantemente focada na sala de aula, com menos ênfase no protagonismo e na participação ativa dos estudantes. Além disso, o suporte adicional disponível dependia principalmente de associações estudantis e professores particulares, o que limitava as opções e tornava o acesso a recursos extras mais difícil.”

Já como empreendedores “enfrentamos o desafio de sermos estrangeiros introduzindo mudanças num ambiente já estabelecido. Demonstrar nossa credibilidade e especialização exigiu perseverança e uma abordagem estratégica para conquistar a confiança dos envolvidos”.

Ensino secundário e entrada em Espanha

A Hollow desenvolve internamente toda a plataforma e conta com a ajuda da fundação OpenAI para as soluções que envolvem inteligência artificial. Enquanto as universidades estão de férias, a equipa está a criar uma solução para programas de formação para empresas e ambiciona chegar ao ensino secundário até ao final deste ano.

“Pretendemos criar a primeira plataforma nacional que apoie os estudantes na preparação para o exame nacional, utilizando gamificação, machine learning e tecnologia avançada para ajudar os estudantes de todas as escolas a ingressarem na faculdade e no curso dos seus sonhos”, assume Victor Souza. No ensino superior, a startup pretende chegar a 10 universidades e atingir mais de 5.000 alunos.

A empresa, além disso, pretende levantar 120.000 euros em ronda pre-seed, para impulsionar o crescimento da empresa. Em 2024, a Hollow quer chegar a Espanha, onde “há mais de 1,5 milhões de estudantes” e existe a “taxa mais elevada de abandono escolar no ensino secundário da União Europeia. “Os estudantes estão abertos (e ansiosos) por novas soluções”, antevê. A expansão internacional implicará contratar mais pessoas para resumir as aulas de 10 minutos a aumentar o sucesso escolar.

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