Do trabalho à religião, conheça os jovens portugueses
Portugal pontua bem nos indicadores de educação, mas já não se pode dizer o mesmo nos dados sobre o trabalho jovem. Conheça o retrato dos jovens portugueses.
São cerca de um milhão de portugueses, 10% da população nacional. E 71 mil são oriundos de países estrangeiros. Uma larga maioria tem, no mínimo, o ensino secundário. Mas, apesar de muitos já terem uma formação de ensino superior, um em cada cinco jovens portugueses estão desempregados. Mais de metade tem contratos temporários. A precariedade, a juntar à falta de habitação, faz com que a quase totalidade viva com os pais. Em véspera da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), este é o retrato revelado pelos números compilados pela Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Sete em cada dez jovens em Portugal assumem-se como católicos.
Da educação ao trabalho, passando pela inclusão social, saúde e religião conheça melhor quem são os jovens portugueses, uma radiografia em vários pontos antes do arranque do evento da juventude católica, ao qual são esperados, de 1 a 6 de agosto, mais de um milhão de pessoas.
Educação
Em Portugal, nove em cada dez jovens, entre os 20 e os 24 anos, têm, no mínimo, o ensino secundário. Um valor superior à média europeia (84%). “Foi em 2020 que Portugal ultrapassou a média europeia relativa aos jovens que têm, pelo menos, o ensino secundário completo”, pode ler-se no relatório da Pordata.
Distinguindo os diferentes níveis de escolaridade, os dados revelam que um em cada dez jovens tem, no máximo, o 9.º ano de escolaridade, seis em cada dez concluíram o ensino secundário e quase três em cada dez têm o ensino superior.
Em todos os países membros da União Europeia (UE), já mais de metade dos jovens completaram o ensino secundário, mas o tipo de ensino escolhido diverge: em Portugal, apenas 23% dos jovens opta por um curso profissional, sete pontos percentuais abaixo da média da UE.
“Portugal teve uma evolução bastante favorável no aumento da escolaridade: até 2006, mais de metade dos jovens tinham, no máximo, o 9.º ano. É de realçar que, em quatro países da UE, mais de um em cada cinco jovens tem, no máximo, o ensino básico: Alemanha (29%), Dinamarca (24%), Luxemburgo (23%) e Espanha (21%)“, lê-se no documento que retrata os jovens portugueses.
A queda dos números do abandono escolar também contribuiu para este cenário. Há 20 anos, a proporção de jovens entre os 18 e os 24 anos que deixavam de estudar sem terminar o ensino secundário era de 45%. No ano passado, esse valor era apenas de 6%.
“Éramos o segundo país, a seguir a Malta, com maior abandono escolar. Atualmente, somos o oitavo país com menor taxa de abandono escolar, com menos quatro p.p. face à média europeia (9,6%).” Os rapazes abandonam os estudos duas vezes mais do que as raparigas (8% vs. 4%).
Ao nível do ensino superior, em 2022, Portugal era o sétimo país da União Europeia com maior proporção de jovens (28%) neste nível de escolaridade, comparando com os 19% apurados na totalidade dos Estados-membros da UE.
Portugal destaca-se também no que toca ao peso de alunos estrangeiros no ensino superior, que representam 8% dos alunos em licenciaturas e 14% dos estudantes a frequentar mestrados. Valores que se situam também acima da média europeia, que é de 6% e 12%, respetivamente.
Olhando especificamente para as competências digitais, Portugal encontra-se em 5.º lugar entre os países da UE em que os jovens, entre os 16 e os 24 anos, apresentam competências digitais básicas ou acima do básico (86% vs. 71% da média europeia). Quase todos os jovens portugueses (99,5%) utilizam diariamente a Internet, aliás esta é a realidade de praticamente todos os países da UE (96,5%).
Já relativamente ao uso que fazem da Internet, a Pordata refere que participar nas redes sociais, ler notícias online e participar em atividades cívicas ou políticas são as finalidades mais comuns.
Trabalho
Nos indicadores respeitantes ao trabalho, a realidade não é tão animadora. Um em cada cinco jovens portugueses no mercado de trabalho estão desempregados. Uma proporção que faz do país o sétimo da UE com a maior taxa de desemprego jovem.
“A taxa de desemprego entre os jovens no mercado de trabalho era, em 2022, quatro vezes superior à dos trabalhadores entre os 25-74 anos (19% vs. 5%).”
Enquanto em Portugal, apenas um em cada quatro jovens está a trabalhar — aquém da média europeia de um em cada três — há países onde mais de metade dos jovens trabalha. É o caso dos Países Baixos, Dinamarca, Malta, Áustria e Alemanha.
“Ao contrário da UE, Portugal ainda não recuperou os valores da taxa de emprego que tinha antes da pandemia: em 2019, a taxa de emprego era 28% (33% na média da EU) e, em 2022, era de 25% (35% na EU). O aumento dos anos de escolaridade obrigatória e o acesso mais generalizado ao ensino superior traduziu-se num recuo, da taxa de emprego dos jovens, de 17 pontos percentuais, em 20 anos”, lê-se no relatório da base de dados desenvolvida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
“Atendendo à distribuição dos jovens empregados pelos grupos profissionais, 18% dos jovens do sexo masculino são trabalhadores dos serviços pessoais e vendedores, e 17% são trabalhadores qualificados da indústria e construção. Já as jovens estão mais presentes no grupo dos trabalhadores dos serviços pessoais e vendedores (quatro em cada dez) e no dos especialistas das atividades intelectuais e científicas (duas em cada dez)”, detalha ainda.
Quando comparados com os seus pares europeus, os jovens em Portugal trabalham mais enquanto especialistas das atividades intelectuais e científicas, e menos enquanto trabalhadores qualificados da indústria e construção (menos seis pontos percentuais, no caso dos jovens do sexo masculino) e enquanto técnicos e profissionais de nível intermédio (menos nove pontos percentuais, no caso das jovens do sexo feminino).
Mas mesmo os jovens que estão empregados enfrentam situações de precariedade. Os contratos temporários são uma realidade para seis em cada dez (57%) empregados, bastante acima dos 14% que correspondem aos trabalhadores entre os 25-64 anos.
Somos o quinto país com maior proporção de jovens nesta condição, atrás dos Países Baixos, Eslovénia, Itália e Espanha. Na UE, os contratos temporários abrangem cinco em cada dez jovens (e 11% dos trabalhadores de 25-64 anos).
“As justificações para este tipo de contrato evidenciam a precariedade em que se encontram os jovens em Portugal: 50% referem não ter encontrado trabalho permanente, valor que desce na UE para 17%. Na UE são os estudos e a formação que surgem como primeira razão para os vínculos temporários.”
A inserção profissional dos jovens tende a caracterizar-se igualmente por salários mais baixos, em comparação com a população em geral. Em 2021, o salário médio dos jovens entre os 18 e os 24 anos foi de 948,8 euros mensais brutos, menos 345,3€ do que a média nacional.
Apenas na Área Metropolitana de Lisboa os jovens ultrapassam a barreira dos 1.000 euros (1.035,6 euros), mas também é aqui que a discrepância face à média da região é maior (menos 527,2 euros). Quer isto dizer que os salários dos jovens são, em média, 27% inferiores aos salários do total da população, valor que sobe para 34% na Área Metropolitana de Lisboa.
Os últimos dados disponíveis relativos a salários, ao nível europeu, remontam a 2018. Portugal era, então, o segundo país em que os jovens tinham os salários mais baixos depois da Grécia, e o terceiro com os salários mais baixos na população em geral (atrás da Bulgária e Lituânia).
Os jovens em Portugal ganhavam em média menos 36% que a média europeia, e a diferença era maior entre os homens do que entre as mulheres quando comparados com a média da UE (menos 39% vs. menos 31%).
Inclusão social
Cerca de 246 mil jovens – quase um em cada quatro – estão em situação de pobreza ou exclusão social. Um valor que, mesmo assim, é inferior ao verificado na UE (27%). De acordo com os dados registados desde 2015, a taxa de risco de pobreza ou exclusão social é sempre superior entre os jovens quando comparada à população em geral.
Em 2022, havia cinco mil jovens nestas idades que recebiam o subsídio de desemprego, o que corresponde a 4% do total de beneficiários deste subsídio, e a cerca de 8% dos 64,2 mil jovens desempregados. Além disso, 10% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) são jovens entre os 18 e os 24 anos.
Um outro indicador que importa destacar tem a ver com a saída de casa dos pais. Em 2022, a esmagadora maioria dos jovens portugueses (95%) vivia com a família, valor que traduz uma mais difícil independência e que reflete a falta de habitação a preços acessíveis. Em 2004, este valor era de 86%.
Portugal é, assim, o quarto país da UE em que mais jovens vivem com os pais. De acordo com dados de 2022 do Eurostat, a idade média de saída de casa dos pais era aos 30 anos, mais três anos do que a média europeia.
Apenas Itália (97%), Croácia (96%) e Espanha (96%) registavam valores ainda superiores ao nacional. Na Suécia e na Dinamarca, contrariamente, menos de metade dos jovens vivem com os pais.
Olhando especificamente para o acolhimento de estrangeiros no país, um em cada dez jovens a residir em Portugal nasceu no estrangeiro, aponta a Pordata. Destes, 22% nasceram noutro estado-membro da União Europeia.
Quanto à nacionalidade, e de acordo com os Censos de 2021, cerca de 71 mil jovens (6% do total desta faixa etária) são estrangeiros: 40% são brasileiros, 8% angolanos e cabo-verdianos e 5% provenientes da Guiné-Bissau.
“O saldo migratório diz-nos que, desde 2019, entram no país mais jovens do que aqueles que saem para viver no estrangeiro. Mas nem sempre foi assim: de 2010 a 2018 o saldo foi negativo.”
Em termos de distribuição no território nacional, há apenas 16 municípios em Portugal em que o peso dos jovens nesta faixa etária é igual ou superior a 12%. Destacam-se os municípios da Região Autónoma dos Açores – Ribeira Grande (14%) e Lagoa (13,5%) – e da Região Autónoma da Madeira – Câmara de Lobos (13,5%) e Ponta do Sol (12,7%) – com maior peso de jovens.
No sentido contrário, Pampilhosa da Serra e Vila Velha de Rodão apresentam um peso inferior a 6%.
Saúde
Em 2021, morreram 312 jovens: 224 do sexo masculino e 88 do sexo feminino. As principais causas de morte entre os homens são os acidentes de transporte (25%), o suicídio (12%) e o cancro (12%); entre as mulheres, são o cancro (25%) e os acidentes de transporte (11%).
Quando questionados sobre o seu estado de saúde, 86% dos jovens entre os 16 e 24 anos avaliam-no como “bom ou muito bom”. Apesar de elevado, é cinco pontos percentuais abaixo da média europeia. Ainda assim, muito acima dos valores para a população entre os 16 os 64 anos (62% em Portugal e 78% na UE).
Outros dados mostram que dois em cada dez jovens têm excesso de peso ou são obesos (19%) e Portugal era o quinto país da UE com maior obesidade entre os jovens (de notar que mais de metade da população em Portugal tem excesso de peso), aponta a Pordata.
Pouco mais de um terço (36%) dos jovens fazem exercício, pelo menos, quatro vezes por semana, e um em cada três não pratica exercício físico de todo. Os dados revelam, contudo, uma melhoria: em 2019, 40% dos jovens não fazia exercício físico.
Outros hábitos de saúde estão a melhorar. Quase metade dos jovens dizem não consumir álcool (48%), enquanto 14% referem beber algumas vezes por semana (na população em geral, 36% não consomem álcool e 19% consomem diariamente).
No que toca ao tabagismo, 88% dos jovens dizem não fumar e 9% fumam diariamente. Em 2019, Portugal era o quarto país com menor consumo tabágico entre os jovens.
De forma geral, os jovens estão mais satisfeitos com a vida do que a população mais velha (7.6 vs. 7, numa escala de 0 a 10), apresentando o mesmo grau de satisfação que a média dos jovens europeus. Quanto maior a escolaridade dos jovens em Portugal, mais satisfeitos estão com a vida em geral, progressão menos assinalável na média europeia.
Religião
Finalmente, no que toca à religião, e de acordo com os Censos de 2021, sete em cada dez jovens em Portugal afirmam que a sua religião é a católica, enquanto dois em cada dez jovens dizem não ter qualquer religião. Segue-se a religião protestante/evangélica (referida por 3% dos jovens) e a ortodoxa, testemunhas de Jeová, muçulmana e outra cristã, (as quatro mencionadas por apenas 1% dos jovens).
Já na população em geral, a religião católica é identificada por 80% e apenas 14% declara não ter religião.
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