“Foi um choque e uma desilusão. Sinto-me traído”, diz Patrick Drahi sobre a Operação Picoas

Magnata franco-israelita expressou "choque" com a investigação de corrupção em Portugal, mas assegurou que o caso não vai afetar as contas ou o outlook da Altice International.

Patrick Drahi abriu esta segunda-feira a teleconferência com os obrigacionistas da Altice International com o tema quente que envolve o grupo, a Operação Picoas em Portugal. Uma realidade que o magnata franco-israelita diz ter sido um “choque” e uma “desilusão” e que fez com que se tivesse sentido “traído”, inclusive pelo cofundador Armando Pereira.

“Foi um choque e uma grande desilusão para mim. Se essas alegações forem verdadeiras, sinto-me traído por um pequeno grupo de indivíduos, incluindo um dos nossos colegas mais antigos“, disse Patrick Drahi, numa referência ao português Armando Pereira.

O magnata adiantou que o grupo está a levar as alegações com “muita seriedade” e que está a cooperar com as autoridades. Explicou ainda que, enquanto conduz uma investigação interna, a Altice Internacional pôs de licença cerca de 15 colaboradores em Portugal, França e nos Estados Unidos, tendo também instruído os CEO do grupo a suspender pagamentos e compras de entidades potencialmente envolvidas na investigação.

Minimizar danos

Apesar do choque e da desilusão, Patrick Drahi quis explicar aos obrigacionistas que o impacto no grupo será limitado. “Neste momento e tanto quanto é do nosso conhecimento, o âmbito da investigação judicial está limitado a Portugal”, disse, adiantando que internamente o grupo identificou que “as entidades da Altice fora de Portugal têm feito alguns negócios com os fornecedores afetados, identificados pelas autoridades portuguesas”.

“Embora as nossas investigações estejam em andamento, estimamos que o caso diga respeito a uma pequena parte das nossas compras globais, dígitos baixos a médios das nossas despesas totais, principalmente concentrada em compras técnicas, sendo o potencial valor fraudulento apenas a margem ou comissão sobre tais volumes”, referiu.

Em termos de impactos comerciais, “assumimos para medidas provisórias que as alegações
são verdadeiras e tomaram medidas prudentes e necessárias para minimizar possíveis danos ao grupo”, adiantou.

Segundo Patrick Drahi, em termos de impactos financeiros, o grupo espera “que os resultados financeiros históricos não sejam afetados. “Não esperamos impacto em caixa, nem na liquidez — e o guidance da Altice International para 2023 e além [desse ano] permanece inalterado”, vincou.

A Operação Picoas, desencadeada em 13 de julho, levou a várias detenções – entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira –, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, além de na residência do ex-líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, que era até essa altura co-CEO do grupo Altice a nível internacional.

Em causa estão suspeitas de viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva. O Estado terá também sido prejudicado com uma fraude fiscal “superior a 100 milhões de euros.

Armando Pereira está indiciado de 11 crimes de corrupção ativa e passiva, branqueamento e falsificação de capitais. Já Hernâni Antunes, alegadamente seu homem de confiança, é suspeito de mais de 20 crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Aos dois foi aplicada a prisão domiciliária sem vigilância eletrónica e ficam ambos sem acesso aos passaportes.

A 19 de julho, a Altice Internacional colocou de licença vários representantes legais, gestores e trabalhadores chave em Portugal e no estrangeiro, avançando também que a investigação interna que tinha sido anunciada pela Altice Portugal abrange ainda “outras jurisdições” além do mercado português.

Também o genro de Armando Pereira, Yossi Benchetrit, responsável pela área de compras e imobiliário da Altice USA, está de licença.

[Notícia atualizada às 13h07]

 

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