Quebra no mercado do imobiliário comercial traz “risco significativo” para sistema financeiro
A quebra das transações do imobiliário comercial no primeiro trimestre do ano somada à quebra dos preços dos imóveis são “uma fonte significativa de risco” para o sistema financeiro.
As altas taxas de juro estão a provocar desafios e obstáculos ao investimento no imobiliário comercial. Essa realidade é espelhada pelo número de transações no primeiro trimestre do ano que, em termos globais, desabou 55% para 147 mil milhões de dólares, face ao período homólogo do ano passado, segundo dados divulgados esta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional no relatório “Estabilidade Financeira Global”.
Segundo os analistas do FMI, esta quebra de investimento é “uma fonte de risco” para o sistema financeiro. Por essa razão, o FMI aconselha que os bancos e as instituições financeiras não bancárias promovam uma “vigilância contínua” na monitorização das “fragilidades” do setor.
Tendo em conta “a dimensão e as fortes ligações entre o imobiliário comercial e o sistema financeiro”, e o envolvimento com a economia, “a tensão no setor pode ter implicações significativas para a estabilidade financeira”, sublinha a última edição do relatório “Estabilidade Financeira Global”, que aponta ainda para que dívida relacionada com o imobiliário comercial equivale a quase 12% do PIB na Europa e a 18% nos EUA.
Surgem, por isso, “preocupações sobre o risco de um défice de financiamento cada vez maior”, enquanto as fontes de financiamento apertam as regras no acesso ao crédito, com os bancos a adotar critérios de empréstimo mais rigorosos, com a angariação de fundos de capital privado a “abrandar acentuadamente” e a emissão de títulos comerciais garantidos por hipotecas a ficar morna.
Com a perspetiva de as taxas de juro permanecerem elevadas durante mais tempo, numa altura em que descem as avaliações imobiliárias, o imobiliário comercial atravessa um clima de tensão que se reflete numa redução do número de transações.
Para travar “um potencial risco significativo” de exposição nos próximos anos, a banca deve reduzir o financiamento para o setor e “as autoridades devem realizar testes de esforço rigorosos para avaliar os potenciais efeitos do aumento das taxas de juro” na capacidade de pagamento dos créditos e numa queda “acentuada” dos preços das casas e dos imóveis comerciais, lê-se no último relatório do FMI.
A instituição liderada por Kristalina Georgieva sublinha ainda que há “uma necessidade urgente” de resolver os “riscos sistémicos” provocados pelos imóveis comerciais das instituições financeiras não bancárias.
Segundo o FMI, este ano, a avaliação dos imóveis comerciais caiu 1,5% em termos reais face ao período homólogo, mas esta queda foi maior entre os imóveis de luxo dos Real Estate Investment Funds (REIT), com a avaliação destes edifícios a cair mais de 26% na Europa e nos EUA 18%, quando comparado com o ano passado.
Entre os vários segmentos, na era pós-pandemia, são os edifícios de escritórios que estão a sofrer a maior contração de preços, seguindo dos imóveis de retalho e das propriedades multifamiliares.
O FMI aponta que, no primeiro trimestre do ano, o número de transações de imóveis comerciais na Europa tenha diminuido significativamente, em 64%, quando comparado com o primeiro trimestre de 2022. Uma queda que se sente, sobretudo, no segmento industrial com o número de negócios a encolher em 70%.
Já na região da Ásia esta queda foi mais suave a ascender a 20%, puxada por “economias robustas como o Japão”. E nos EUA, entre janeiro e março deste ano o volume de transações de imóveis comerciais caiu 57% face ao período homólogo sendo o segmento de escritórios o mais afetado, seguido do retalho.
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