Centeno avisa que falta “medir o esforço” do combate às alterações climáticas. Mortágua duvida da eficácia dos “ataques” dos ativistas
"Temos feito um enorme esforço em tornarmo-nos muito mais amigos do ambiente mas precisamos de medir esse esforço, o progresso que esse esforço dá”, adverte o governador do Banco de Portugal.
O governador do Banco de Portugal disse esta segunda-feira que é preciso recolher mais dados e fazer mais análise sobre o combate às alterações climáticas, considerando que medir esse esforço é fundamental para evitar a frustração das pessoas.
Na conferência do Banco de Portugal ‘Liga-te aos dados’ para assinalar o Dia Europeu da Estatística, dirigida a estudantes e transmitida no canal do banco central no Youtube, Mário Centeno destacou a importância da recolha e análise de dados na economia e sociedade atual e, questionado sobre em que área devia ser feito mais esforço, considerou que é preciso mais trabalho na recolha, análise e divulgação de dados relativamente ao combate às alterações climáticas.
“Temos feito um enorme esforço em tornarmo-nos muito mais amigos do ambiente mas precisamos de medir esse esforço, o progresso que esse esforço dá”, afirmou na sua intervenção, considerando que ter esse conhecimento “é essencial para não gerar frustração nas pessoas” que podem sentir que nada é feito neste tema por desconhecimento dos dados.
Temos feito um enorme esforço em tornarmo-nos muito mais amigos do ambiente, mas precisamos de medir esse esforço, o progresso que esse esforço dá.
Para Centeno, no combate às alterações climáticas, é assim preciso recolher mais dados, analisar informação e divulgá-la e os bancos centrais são fundamentais nesse papel, porque têm “mais tempo, recursos e qualificações”. Centeno vincou que a vantagem do banco central é precisamente o mais tempo que pode tomar nesse trabalho de fundo e comparou com quando foi titular das pastas das Finanças de Governos PS de António Costa.
“No tempo em que fui ministro das Finanças tinha receio ao subir a escadaria do Ministério das Finanças que, quando chegasse ao meu gabinete, um assunto já tivesse passado o prazo para ser resolvido”, afirmou, destacando “o ritmo completamente diferente” do Banco de Portugal e como este tem o dever de “entregar à comunidade o resultado do trabalho” que faz todos os dias. “É um trabalho de elevadíssima qualidade e que tem de ser escrutinado a todo o momento”, disse.
Na mesma conferência, o economista João César das Neves, professor da Universidade Católica, considerou que os dados “são muito perigosos” e que é fácil “fazer aldrabices” com a manipulação dos dados ou até falsificando dados. Deu o exemplo de Thomas Malthus que, no século XIX, previu um crescimento catastrófico da população humana com base em dados falsos.
César das Neves disse ainda que, quando o Governo divulga a proposta do Orçamento do Estado, como aconteceu este mês, se fecha em casa durante cinco horas e todos os anos faz as mesmas contas e que com isso faz análises diferentes das de outros intervenientes da opinião pública porque, afirmou, não vai atrás dos dados de que se fala no momento.
Para o professor catedrático, apesar de se falar tanto em dados, em verdade “ninguém quer dados, o que quer é sabedoria” e recordou a pirâmide do conhecimento, em que na base estão os dados, depois a informação, depois o conhecimento e no topo a sabedoria. “Os dados são a matéria-prima, dados há muitos, toneladas de dados, mas a maior parte daquilo é lixo”, afirmou.
Segundo César das Neves, quando começou a carreira a única fonte que usava era o Banco de Portugal, porque tinha qualidade muito superior à do Ministério das Finanças ou do Instituto Nacional de Estatística e que, desde então, todas essas entidades fizeram um caminho muito importante e que hoje em Portugal “a qualidade técnica [dos dados das instituições públicas] é boa, os dados são sólidos”.
Mesmo a informação do Orçamento do Estado, disse, há uns anos “era uma aldrabice” e “melhorou muito”, a que ajudou a criação de entidades como Conselho das Finanças Públicas (CFP) e Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).
Contudo, o economista aproveitou a conferência para deixar uma crítica ao Banco de Portugal, considerando que a “qualidade dos dados aumentou espantosamente, o conhecimento aumentou”, mas que a informação prestada por este se tem reduzido. Há uns anos, disse, quando queria sugerir publicações para compreender a economia portuguesa sugeria o Boletim Estatístico, a Síntese Mensal da Conjuntura e outras publicações no Boletim Anual, e que hoje o Banco de Portugal tem milhares de séries no BPstat mas “desistiu de fazer a seleção dos dados”.
“Sinto esta falta e não quis deixar de dizer isto”, afirmou João César das Neves, acrescentando que no futuro deverá aparecer junto aos dados o que hoje aparece nos rótulos das bebidas alcoólicas “Beber com moderação”.
Mortágua duvida da eficácia dos “ataques” dos ativistas climáticos
Também esta segunda-feira, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse ter “grandes dúvidas” que os ataques com tinta dos ativistas climáticos a ministros contribuam para criar um “grande movimento” que leve as questões sobre o clima para o centro do debate público.
À margem de uma sessão sobre habitação em Braga, Mariana Mortágua sublinhou que a “emergência climática existe e é mesmo uma emergência” e que é necessário chamar a atenção “para um assunto tão importante e que vai mexer tanto” com as vidas de todos.
“O mundo precisa de um grande movimento transformador, como aquele que foi há uns anos criado em torno da figura de Greta Thunberg (…). A questão que se coloca é se este tipo de ações contribui ou não contribui para criar esse grande movimento transformador, esse grande movimento social que traz estas questões para o centro do debate público. Eu tenho grandes dúvidas que contribua para este tipo de atitude”, acrescentou.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, foi atacado na sexta-feira com tinta verde por uma ativista ambiental, durante uma aula aberta no auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Anteriormente, o ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, tinha sido alvo de uma ação idêntica.
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